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Paulo Kliass

Paulo Kliass é doutor em economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do governo federal

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Guedes e o plano Pró-Brasil

Ao que tudo indica, Bolsonaro está em vias de promover uma mudança significativa nos rumos da política econômica de seu governo

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Ao longo dos últimos dias, Jair Messias Bolsonaro colocou em marcha uma delicada operação política. Em um intervalo de tempo bastante curto para seu padrão de intervenção na cena pública, o ex capitão demitiu duas importantes figuras para a já débil sustentação de seu governo.

Em um primeiro momento, esticou ao máximo a corda do Ministro da Saúde, mas não obteve o pedido de saída de Mandetta. Com isso, terminou por exonerá-lo do cargo, uma vez que as divergências públicas entre ambos estavam se tornando insustentáveis. Enquanto o Presidente insistia em teses como “gripezinha” e “deixa o povo trabalhar”, seu subordinado mantinha firme a linha da necessidade do isolamento horizontal. Assim, a troca de responsáveis pela pasta da Saúde ocorre em meio à profunda crise da pandemia e coloca ainda mais em risco o quadro das terríveis consequências do coronavírus sobre a sociedade brasileira.

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Alguns dias depois, vem à tona a tão esperada, quanto adiada, crise com o Ministro da Justiça. Bolsonaro teria atropelado os supostos acordos mantidos com o ex juiz a respeito de uma maior autonomia na condução dos assuntos de sua pasta. A gota d’água foi a exoneração do chefe da Polícia Federal, sem o consentimento de Moro. O nome do paranaense acompanhou o do seu superior na publicação do ato demissionário no Diário Oficial e ele nem sequer estava sabendo das coisas. Não surtiram nenhum efeito os esforços da turma do deixa disso e o antigo holofote da Operação Lava Jato deixou o governo atirando pesado contra seu chefe.

Pibinho de Guedes não convence

Apesar de aparentemente irracionais, ambas iniciativas guardam uma lógica. Ao que tudo indica, Bolsonaro está em vias de promover uma mudança significativa nos rumos da política econômica de seu governo. Já havia sido obrigado a engolir o desempenho pífio da atividade econômica em 2019. Ao contrário do que lhe havia prometido Paulo Guedes durante a campanha eleitoral, o Pibinho de 1,1% foi menor do que os já reduzidos índices de crescimento do PIB obtidos sob a batuta da medíocre duplinha Temer & Meirelles.

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Os resultados para o ano presente variam entre os otimistas que falam em uma recessão de 5% e os pessimistas que apontam para uma queda 10% no produto a ser apurado pelo IBGE. Por mais que Paulo Guedes tente engatar uma desculpa de que a pandemia pegou o Brasil numa reta de crescimento, todos sabemos que se trata de mais uma de suas conhecidas mentiras. 2020 está perdido e a fatura vai ser endereçada aos dois destinatários: Palácio do Planalto e Ministério da Economia. Com isso, resta a Bolsonaro a esperança de alguma pitada de crescimento para o segundo biênio de seu mandato.

Vai ser difícil apagar as manchas do desastre que se anuncia nas próximas semanas. As imagens com as consequências de sua irresponsabilidade criminosa no trato com a pandemia ficarão registradas para sempre na memória de nossa população. Mas segundo a lógica do cálculo político, tudo vale na aposta da sobrevivência nos momentos de maior dificuldade. Em outubro de 2022 haverá eleições presidenciais e o pai do 01, do 02 e do 03 está desde já candidatíssimo à sua própria reeleição.  Mas para ter alguma chance e superar os obstáculos, ele precisa promover desde já as necessárias mudanças extremas na narrativa vigente até agora e no programa de governo.

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A estratégia passa por neutralizar as tentativas de algum avanço na tramitação dos inúmeros pedidos de impeachment no Congresso Nacional. Os processos estão engavetados às dezenas no gabinete de Rodrigo Maia. As regras institucionais atribuem ao Presidente da Câmara dos Deputados esse poder - ele decide se os processos de impedimento ganham vida própria ou se permanecem ali até quando ele mesmo quiser. Bolsonaro, de forma impetuosa e aparentemente inexplicável, resolveu abrir uma outra linha de fogo também contra o deputado do Democratas. Ou seja, em tese não pode mais contar com o beneplácito de Maia no curto prazo.

Bolsonaro em mudança de rota?

Para reduzir os riscos da perda de seu mandato, ele agora vai buscar ampliar a base de sustentação no parlamento. Isso significa estender as mãos para os partidos do fisiologismo, sempre dispostos a partir para o sacrifício de qualquer governo em dificuldades - desde que devidamente recompensados pela iniciativa. O ex deputado federal passou 28 anos nos corredores e gabinetes da Câmara. Conhece como poucos os desejos e as necessidades do chamado baixo clero. Apesar do discurso fácil e oportunista contra a “antiga política” que o elegeu e o manteve até agora, Bolsonaro vai estabelecer uma aliança com MDB e a sopa de letrinhas dos partidos que se vendem por cargos e verbas. Nada como um dia após o outro.

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A segunda iniciativa passa por mudar a orientação dos caminhos da economia. Bolsonaro sabe que precisa de 2 anos de muito gasto e realização, caso pretenda mesmo compensar a população pelos danos que a política recessiva de Guedes e a pandemia provocaram em suas vidas. E isso significa gasto público na veia. Não haverá crescimento em 2021 e 2022 sem que o País rompa com a política da austeridade cega e burra, tal como patrocinada por Guedes e sua vassalagem liberaloide tupiniquim.

Esse deve ser o sentido do anúncio recente do Plano Pró Brasil. Uma operação determinada no âmbito da Casa Civil, comandada pelo General Braga Neto. A equipe da economia nem foi chamada a participar das reuniões preparatórias dessa iniciativa. Na verdade, a divulgação foi atropelada e precipitada. No afã de se demarcar de Guedes, os responsáveis pelo plano deixaram claro que se trata tão somente de uma intenção, de um quase projeto em fase de gestação. Falta conteúdo e definição. Na verdade, quase ninguém conhece o Plano Pró Brasil pois ele ainda nem existe de fato.

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Mas a intenção talvez fosse essa mesmo. Braga Neto queria deixar claro ao Presidente que existe sim uma alternativa à continuidade da mesmice do “não temos recursos”, uma vez que ela não renderá apoio ao governo no Congresso Nacional e muito menos musculatura eleitoral em 2022.

A volta do chororô do livre mercado

O Plano Pró Brasil pretende se converter em um programa de investimentos em áreas carentes, em especial na infraestrutura. Mas a novidade aparece na forma de seu custeio. A Casa Civil fala explicitamente em aumentar as despesas públicas para viabilizar os projetos. Tanto é verdade que o nome inicial do mesmo era Plano Marshall, em uma clara e evidente analogia com a recuperação da economia europeia no período posterior ao fim da Segunda Guerra.

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A comparação foi evitada e os militares preferiram adotar um símbolo mais nacionalista para sua divulgação. Mas bastou o anúncio da embalagem, ainda sem o conteúdo, para que Paulo Guedes acusasse o golpe e partisse para uma luta de bastidores e para a disputa de espaço nos grandes meios de comunicação. Afinal, nada é mais intrinsecamente contrário aos seus desejos de tecnocrata liberal e financista do que o retorno aos projetos de investimentos públicos. O chorôrô do livre mercado e da iniciativa privada vai voltar com força, apesar de que as evidências gritantes da realidade apontam todas para a incapacidade desse modelo em responder às necessidades urgentes do momento atual.

Paulo Guedes pode até buscar uma acomodação para permanecer na Esplanada dos Ministérios como o todo poderoso da economia. Mas seus amigos mercadistas mais sinceros certamente lhe dirão - ainda que à boca pequena -  que isso nada mais é do que uma forma escandalosa e injustificável de prostituição intelectual e doutrinária. Compreende-se a lamúria: não foi para isso que as forças do financismo se uniram em torno de Paulo Guedes para levar Bolsonaro à vitória. Aguardemos, pois.

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