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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Há 50 anos chegava ao fim o sequestro mais longo da ditadura

Jornalista Denise Assis relembra detalhes e traz documentos inéditos sobre o sequestro do embaixador suíço, Giovanni Enrico Bucher, em 1971, por guerrilheiros contra a Ditadura Militar

(Foto: Arquivo)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia

 Há 50 anos terminava no Brasil aquele que entrou para a história como o sequestro político mais longo realizado pela luta armada, que resistiu à ditadura civil-militar imposta ao país, com o golpe de 1964, e que tirou do poder o presidente João Goulart. Durante 47 dias o embaixador suíço, Giovanni Enrico Bucher, foi mantido pelos guerrilheiros. Eles buscavam trocar a liberdade do embaixador, pelo máximo de companheiros que conseguissem, pois estavam sendo barbaramente torturados nas dependências do Estado.

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O ditador de então, Emílio Garrastazu Medici, acompanhou de perto todo o desenrolar das negociações e recebeu – praticamente em tempo real, medidas as dificuldades da época – o embarque dos 70 libertos, para o exílio, no Chile. Hoje, repousa no acervo que conserva a documentação do general Medici, no Instituto Histórico Brasileiro (IHGB), as fotos e a descrição dos presos, na hora do embarque. Na chegada ao Chile, os 70 guerrilheiros foram recebidos com festa, no aeroporto. Os agentes, infiltrados entre os parentes e amigos que compareceram ao embarque, fotografaram e legendaram os grupos, enviando tudo para Medici.

Bucher teve o seu carro interceptado às 8h45, do dia 7 de dezembro, na Rua Conde Baependi, em Laranjeiras, Zona Sul do Rio, por um comando da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) chefiado pessoalmente pelo capitão Carlos Lamarca. Na ação, foi morto um dos três agentes da Polícia Federal que faziam a segurança do diplomata. Este foi o último da série de sequestros e feito por organizações de esquerda. A VPR pedia a libertação de 70 presos políticos, a divulgação de um manifesto, o congelamento de preços em todo o país por 90 dias e a liberação das catracas nos trens do Rio de Janeiro.

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O governo levou 48 horas para responder e avisou que negociaria apenas a libertação dos presos. Lamarca aceitou. O primeiro nome da lista era o de Eduardo Leite, o Bacuri, comandante do sequestro do embaixador da Alemanha, feito em junho. Ele havia sido preso no Rio em agosto e levado para São Paulo, onde estava sob tortura. A inclusão do seu nome na lista dos que seriam libertados e trocados, no entanto, chegou tarde demais. No dia seguinte ao sequestro de Bucher, Bacuri foi assassinado pela equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury. Seu nome teve de ser substituído na lista.

As negociações foram tensas. Dois dias depois do sequestro o regime informou que não aceitava libertar 13 dos presos políticos listados – quase todos participantes dos sequestros anteriores. Feitas as substituições, o governo disse que 18 pessoas se recusavam a deixar o país. Enquanto as negociações entre militares e guerrilheiros se desenrolavam, o clima no cativeiro era amenizado pela personalidade do refém. Aos 57 anos, Giovanni Enrico Bucher era brincalhão, e adorava o Brasil, onde atuava desde 1965.

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Quando tudo parecia emperrado, a maioria da direção da VPR decidiu executar o embaixador, responsabilizando a ditadura pelo fracasso das conversações. Lamarca, porém, o comandante da VPR, optou por poupar a vida de Bucher e continuou negociando. Houve novas recusas por parte do governo e novas trocas, num processo que durou um mês.

A ação na Conde de Baependi levou cerca de três minutos. Assim que viu o grupo armado se aproximando, o agente Hélio Araújo saiu do Buick com sua pistola MAB calibre 765 em punho e tentou reagir, mas foi atingido com dois tiros à queima-roupa (ele morreu no Hospital Miguel Couto, dias depois). Em seguida, as armas foram apontadas para o motorista Ercílio Geraldo, que se jogou no chão gritando “Não me matem, tenho família para criar”. Poupado, o chofer correu para dentro de uma obra, enquanto o embaixador assistia no banco de trás. Eram 8h45 de 7 de dezembro de 1970 quando os guerrilheiros enfiaram Bucher num Volks vermelho que saiu gritando na direção da Praça José de Alencar, deixando pela rua os panfletos com um manifesto da VPR, assumindo a autoria daquela ação.

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Os 70 “trocados” desembarcaram em Santiago às 4h42 (horário de Brasília) do dia 14 de janeiro de 1970, a bordo de um Boeing 707 da Varig. Dois dias depois, Bucher foi deixado pelos sequestradores, antes do amanhecer, na Penha, onde foi resgatado pelo motorista da embaixada, no mesmo Buick azul que usava quando foi raptado. O embaixador foi libertado e recusou-se a identificar seus sequestradores quando foi interrogado pela Polícia. 

Confira imagens dos 70, feitas por agentes na despedida dos familiares:

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