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Ricardo Nêggo Tom

Cantor, compositor, produtor e apresentador do programa Um Tom de resistência na TV 247

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Hoje eu matei um preto

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Hoje eu matei um preto. E daí?
Não vai dar em nada mesmo. E todo mundo vai morrer um dia.
E todo dia morre um preto. E daí?
Eu lamento, mas esse é destino de todos os pretos.


Eu mato um preto no olhar
Eu mato um preto ao me calar
Eu mato sem querer matar
Eu mato um preto no percurso
Eu mato um preto no discurso
Eu mato e nem quero negar.


Hoje eu matei um preto. Foi assim:
Ele vinha na minha direção e eu mudei de calçada.
Todo dia eu mato um preto. É assim:
Eu o coloco sob suspeição e finjo que eu não sei de nada.


Eu mato um preto num sorriso
Eu mato um preto num tiro preciso
Um preto eu preciso matar.
Eu mato um preto no destino.
Eu mato um preto ainda menino
Eu mato um preto apenas por matar


Hoje eu matei um preto. E daí?
Faz parte de uma tradição conservadora dos homens de bem
Sempre se matou um preto. Peraí!
Porque agora essa comoção? Até parece que morreu alguém.


Eu mato um preto todo dia
Eu mato um preto de agonia
Agonizando pra se libertar
Eu mato um preto na periferia
Eu mato um preto que ainda não sabia
Que fora de lá não é o seu lugar.


Hoje eu matei um preto. Foi assim:
Eu estava atrás de diversão e na sua pele eu vi uma piada.
São tantos meios de matar um preto. Diz aí:
Qual a sua forma de execução? A sensação é de alma lavada.


Eu mato um preto em cima do morro
Eu mato um preto pedindo socorro
Eu não deixo um preto respirar
Eu mato um preto ao molho pardo
Eu exponho a carne no mercado
Para quem quiser comprar


Hoje eu matei um preto. Foi assim:
Eu estava sob forte emoção, me sentindo ameaçado.
E quem nunca matou um preto? Diz pra mim.
Faz parte de todo um padrão, que faz do preto um subjugado.


Eu mato um preto a todo momento
Nas atitudes ou no pensamento
Eu mato um preto para me defender
Eu mato preto para não morrer de tédio
Eu mato um preto para manter meus privilégios
Se eu não matar um preto, sou eu quem vai morrer.


Hoje eu matei um preto
Foi legítima defesa da minha honra
Porque eu não posso me dar a desonra
De ver um preto e não matar.

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