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Luiz Fernando Padulla

Professor, biólogo, doutor em Etologia, mestre em Ciências, autor do blog 'Biólogo Socialista'

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Identitarismo sem luta de classe é demagogia!

Somente a destruição do capitalismo, sendo desmoralizado com suas raízes coloniais, trará a libertação para todes

(Foto: Luiz Rocha / Midia NINJA)

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Pautas identitárias. Lugar de fala. Bandeiras diversas. Tudo isso é válido e necessário para compor a luta esquerdista. No entanto, jamais devemos esquecer a base de toda a problemática: o capitalismo.

Percebo que muitas vertentes esquerdistas têm sobreposto a discussão principal que é o combate ao capitalismo e suas explorações que originam as diversas frentes de batalha. Reforço, no entanto, que não estou menosprezando de forma algum as lutas LGBTQIA+, dos indígenas, dos negros e tantos outros camaradas. Mas quero chamar atenção para que não venhamos a causar maiores divergências, permitindo a ascensão de falas destoantes e que só fortalecem a direita, fornecendo munição e promovendo o surgimento de oportunistas que arrebanham os divergentes e alienados políticos.

O que vou apontar talvez não agrade quem for ler, mas é preciso falar e alertar: pecamos na educação política de base. Um erro cometido desde os primórdios dos governos do PT. Educação é a raiz de qualquer pensamento e atitude emancipadora, como bem nos disse e ensina Paulo Freire.

A luta encabeçada contra a desigualdade, cuja raiz é o capital, foi deixada de lado, dando poder de compra às classes menos privilegiadas, assim como modestas representatividades às minorias, mas sem que tivesse sido feita a formação adequada. Em suma, atende aos interesses e ideais do capitalista, que ignora a somatória de forças e forja a sociedade individualista.

Afinal, de nada adianta elegermos indígenas, pessoas gays, trans, negros sem a conscientização de que o sistema nos impõem uma luta de classes que precisa ser enfrentada. A representatividade é importante, mas sem que seja encarada e tratada como uma questão de base, de nada adiantará. Aplaudiremos indígenas e negros em cargos públicops, pessoas trans em comerciais, mas apenas servindo - muitas vezes - como marionete,s e propagandeando o consumismo que segue a abastecer e manter o privilégio de uns perante abusos de outros. Lutar contra a cisheteronormatividade branca imposta socialmente é necessário, mas sem deixar para trás a causa original de tudo isso.

Pode parecer algo ultrapassado falar em "luta de classes", que inevitavelmente nos remete ao século XIX, à Marx, Engels, Lênin e demais camaradas. Mas ela está presente nos dias de hoje. Por sinal, jamais deixou de existir, pois (sobre)vivemos nesse sistema que nutre a desigualdade, que lucra sobre os menos abastados, que concentra a renda e as terras, que defende a fome e a exploração. E é por isso que antes de qualquer pauta – legítima, é bom que se reforce novamente –, a luta deve convergir para um único ponto: a derrocada do capitalismo. Como bom freiriano, tenho a esperança de que esse dia chegue. Ao mesmo tempo, sei que não derrotaremos o capitalismo, mas o mesmo será enfraquecido, permitindo a demonstração de um caminho sustentável ao planeta. 

A pandemia deveria ser essa alavanca para a união de forças: escancarou a desgraça que é esse sistema; firmou a importância do acesso à saúde pública e de qualidade; mostrou o quão insustentável e cruel ele é; provou que por mais que países ricos monopolizem as vacinas, somente com solidariedade e mudança na forma que nos relacionamos é que poderemos vencer esse caos mundial. As variantes provam isso: de nada adianta avançarmos com terceiras doses, se apenas 3% dos camaradas africanos foram vacinados. A África torna-se o berço do surgimento de novas cepas que podem comprometer toda a vacinação das demais nações.

Cooperação é a palavra. Cooperação e solidariedade. Distribuição de renda, de riquezas, de recursos. Igualdade. Socialismo.

E tudo isso é o que Marx dizia. Assim sendo, não só o marxismo está vivo e presente, como o capitalismo mostra-se moribundo, em estado terminal. Resta-nos dar o golpe final, com a união de forças. Com sua decadência, eliminaremos gradativamente os demais problemas sociais que hoje ainda são nutridos pelo atual sistema. Um sistema estruturado na desigualdade que segrega, destrói, individualiza, desumaniza.

Para que esse objetivo seja alcançado, a educação política se faz necessária e urgente. E não falo de grandes eventos, comícios, palestras, multidões. Cada um tem sua contribuição, seja no ponto de ônibus, na conversa na roda de amigos, na mesa de um bar.

Precisamos tocar as pessoas com discurso direto e simples de que somos reféns de um sistema que não olha para nós. Precisamos falar que somos a maioria sob a tirania de uma minoria abastada; romper essa venda imaginária que cega perante as mazelas da exploração do capital, como a mentirosa ideia do empreendedorismo e meritocracia. Precisamos levar até elas essa revolta, mostrando exemplos de solidariedade como dos camaradas do MST, que não apenas lutam e conscientizam, mas produzem alimento saudável via agroecologia e distribuem para quem necessita, dando verdadeira utilidade à terra que nos pertence. É preciso mostrar que isso é possível. Incentivar. Motivar. Despertar em cada um essa inquietação e a vontade de mudar. É preciso mostrar o que é o socialismo, destruindo a fantasmagórica falácia que a elite burguesa e imperialista imputou na sociedade. Tenhamos voz ativa para combater tudo isso. 

Parafraseando Chico Mendes, que alertava que ecologia sem luta de classes é jardinagem, atrevo-me a dizer que identitarismo sem a mesma luta não passa de demagogia; um "greenwashing" social. Somente a destruição do capitalismo, sendo desmoralizado com suas raízes coloniais, trará a libertação para todes.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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