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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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Incomunicável

"Precisamos voltar para escola, abrir nossos livros, trocar ideias e refletir, mesmo que o pensamento vá sem direção, apenas solto no ar", diz Miguel Paiva

(Foto: Miguel Paiva)
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Miguel Paiva, para o 247

O saudoso comunicador da TV Abelardo Chacrinha Barbosa, especialista em cunhar bordões, adorava dizer que “estava ali para confundir, não para explicar”. Sem saber ele profetizou nosso presente de hoje. E olha que naquela época o celular ainda não havia aprisionado corações e mentes como agora. Nos nossos dias até a respiração é digitalizada. No metrô, nas ruas, na bicicleta, todos olham para a telinha. É mais fácil você encontrar alguém pelas redes sociais mesmo que ela esteja passando por você no mesmo momento, na rua.  

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Contemplação é uma palavra que saiu de circulação, assim como várias  outras que o povo deixou de falar e sobretudo, de escrever. É claro que para escrever você precisa ler e a linguagem quer a internet nos trouxe e estabelece como base é a linguagem cifrada, resumida, abreviada. Lemos pouco, todos sabemos e mesmo no celular, as mensagens podem ser faladas e não escritas. A preguiça e a falta de hábito em escrever transformou a mensagem de áudio na maneira mais comum de se comunicar. A língua se simplifica, se empobrece, e comunica através do básico, sem espaço para a interpretação ou para a abstração.  

Pois é, abstração. Chegamos ao núcleo do problema. Abstração e abreviação não costumam viver bem juntas. Uma requer a abertura da mente, a colocação no espaço e no tempo, a permissão para a mente viajar e elaborar. A outra é a jato e tudo que é a jato pode ser perigoso. Um texto escrito no celular tem tantas abreviações e simplificações que fica difícil de entender. O texto falado é repetitivo, ilustra sem abstrair o que está sendo dito. Repete frases e diálogos que retratam um fato, sem a conclusão da interpretação pessoal e da abstração que se resume a um conceito criado. É mais rico e facilita a expressão.

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Estou falando de coisas que a juventude viciada na telinha nem tem ideia do que seja. A leitura é fundamental. Começa nos livros, nos jornais e revistas, nos computadores, celulares e tvs e mesmo cifrada precisa alimentar a imaginação. Não pode só passar a informação abreviada que interessa. Não pode também só repetir o que já vinha sendo dito nas redes e, principalmente, não pode alimentar as mentiras.

Essa simplificação favorece o não aprofundamento. Fulano disse isso. Ok, mas de onde ele tirou? Não interessa. O que interessa é a rede de mentiras que se estabelece com um intuito muito claro. Parafraseando o Chacrinha, essa gente está ai para confundir e não para informar.

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Um país que tem mais celulares que gente poderia até se dar bem se houvesse um projeto de desenvolvimento social usando o poder do aparelho no bom sentido. Mas de uns tempos pra cá o que vemos é um país cada vez mais alienado, mais conduzível, mais influenciável que chega ao cúmulo de se dizer imbrochável. A maioria dos apoiadores do presidente concorda sem saber o que significa. Essa virilidade tóxica se estabelece porque não se pensa sobre ela. Não se abstrai. Não abstraímos sobre a barbárie que vivemos e o estrago que ela pode causar.  

Mas ainda dá tempo. Precisamos voltar para a escola, abrir nossos livros, trocar ideias e pensar, refletir, mesmo que o pensamento vá sem direção, sem destino, apenas solto no ar. Já experimentou? É muito bom.

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