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Igor Corrêa Pereira

Igor Corrêa Pereira é técnico em assuntos educacionais e mestrando em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Membro da direção estadual da CTB do Rio Grande do Sul.

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Inovação na Universidade com corte de verbas?

Estar alinhado com este governo e promover inovação é uma contradição em termos e eu posso provar. Senão vejamos.

Carlos André Bulhões Mendes (Foto: Karine Viana/Divulgação)
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Não há palavras que possam expressar a perplexidade, a estranheza, a indignação que causa ver o Reitor nomeado pelo governo Bolsonaro contra a vontade da comunidade da UFRGS Carlos Bulhões afirmar que sua prioridade é a inovação e o empreendedorismo, e que está promovendo alianças para a inovação com outras universidades. Estar alinhado com este governo e promover inovação é uma contradição em termos e eu posso provar. Senão vejamos.  

A economista Mariana Mazzucato, que escreveu o elogiado livro Estado empreendedor , utiliza um exemplo bem didático sobre como a inovação realmente funciona. A ideia que o senso comum, e aparentemente os entusiastas da inovação na Reitoria da UFRGS compartilham, é que as inovações ocorrem através de uma espécie de Professor Pardal gênio inventando geringonças na sua garagem depois de noites mal-dormidas. Assim teria sido criado o Iphone, o Facebook. Indivíduos brilhantes que tiveram uma ideia luminosa que os deixou bilionários. Portanto, basta ter uma ideia "fora da caixa" e contar com a liberdade de empreender, garantida pelo Estado mínimo, para que qualquer pessoa possa virar o Bill Gates, o Mark Zuckemberg, o Stevie Jobs.   

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Mazzucato, que é muito bem paga por governos e empresas para prestar consultorias, rebate essa ilusão contando como foi possível a criação de tecnologias como o Iphone e o próprio Facebook. A base para essas invenções foram basicamente, entre outras ferramentas, a internet e o GPS. Como isso foi desenvolvido? Com maciços investimentos em tecnologia por parte do exército estadunidense, ou seja, pela ação do Estado. O país investe pelo menos quinhentos bilhões de dólares anuais com pesquisa e desenvolvimento. Somente com esse suporte, que possibilitou inúmeras pesquisas que deram errado, não deram retorno, que envolveram centenas de pesquisadores em anos e anos de trabalho duro, idas e vindas, só assim foi possível o desenvolvimento da internet. 

E só a partir daí, que as pesquisas de Stevie Jobs e outros, que também obtiveram recursos públicos para as desenvolverem, se tornaram possíveis.   Com essa pequena história, voltamos a perplexidade do início do texto. Ora, como pensar inovação e apoiar Bolsonaro, se o mesmo corta recursos para pesquisa? A matéria de outubro de 2021 nos revela que o governo tesourou 87% da verba para Ciência e Tecnologia, que já ficava nos magros R$ 690 milhões anuais e foram para os insignificantes R$ 89 milhões anuais! Qual inovação é possível com esse investimento chocho, capenga, minguado, esquálido?  

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 O reitor indicado por Bolsonaro tem a petulância de falar de inovação, e é seguido por horda de discípulos entusiasmados, por que eles defendem uma ideia que suicida o Brasil. A ideia de que quanto menor a presença do Estado, mais vai florescer da iniciativa privada toda a inovação de que o país precisa para crescer. É como se o Estado fosse um grande parasita que impede a criatividade e a iniciativa  empreendedora das pessoas individuais, que estão prontas para virarem Stevie Jobs assim que não pagarem mais impostos. Se os políticos maus e corruptos pararem de roubar, vai surgir em cada esquina um novo Facebook, e quem realmente tiver mérito vai ficar bilionário.   

Nada pode ser mais fantasioso. É justamente o Estado que possui a capacidade de criar um ambiente favorável a inovação. Precisamente porque o Estado pode investir em pesquisas que não terão retorno imediato, que não precisam necessariamente dar lucro. Foram necessárias muitas pesquisas não-lucrativas para que avanços realmente produtivos pudessem ter se desenvolvido. Uma empresa não pode ser dar ao luxo de investir em pesquisas dessa natureza, pois ela tem um orçamento limitado e precisam direcionar recursos naquilo que lhes traga retorno.  

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O jornalista especialista em desenvolvimento industrial Fausto Oliveira aplaude o trabalho elaborado pela EMBRAPII, que é a Empresa Brasileira de Pesquisa em Inovação Industrial. Essa instituição, que é pública mas atua com menor burocracia pela sua natureza de empresa, tem condições de promover saltos tecnológicos na indústria nacional, trazendo inovação para as empresas por meio de parceria com Universidades. Eles tem um excelente modelo tripartite de financiamento entre empresa, Universidade e EMBRAPII, onde cada ente entra com uma parte no investimento de uma inovação. O modelo é extremamente eficiente. Já funciona nos Estados Unidos, Europa, Israel. 

 Permite ao empresário um financiamento não reembolsável, ou seja, ele toma um financiamento junto ao Estado e não precisa pagar depois, caso a inovação dê errado. O limite é justamente não ter fundos. Não é possível fazer projetos significativos por falta de verba. Justamente por causa da crença de Bolsonaro e seus indicados nas reitorias de que quanto menos orçamento o Estado tiver, melhor. Melhor para quem? Não o é, seguramente, para a inovação industrial brasileira. Com certeza é melhor para os países que competem com o Brasil. Estados Unidos, Alemanha, China, todos esses investem pesadamente em pesquisa e inovação e provavelmente comemoram que o Brasil fecha os cofres para a inovação enquanto que cinicamente fala dessas ideias, como se elas fossem viáveis com um governo federal que despreza o investimento em ciência e tecnologia.

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