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Adilson Roberto Gonçalves

Pesquisador científico em Campinas-SP

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Inversos

A imagem direta do que vemos de nós mesmos, notadamente no espelho, é exatamente a visão oposta, inversa, do que realmente aparentamos, do que os outros nos veem. Direita e esquerda nessa visão metafórica possuem posições e significados distintos. Dependerá sempre do ponto de vista do observador, não apenas no sentido físico

Técnicos inspecionam o espelho principal do telescópio Hubble alguns dias antes do lançamento. (Foto: Adilson Roberto Gonçalves)
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São versos / os inversos / que passam. // Invertidos os sentidos, / investidos, mantidos.

A imagem direta do que vemos de nós mesmos, notadamente no espelho, é exatamente a visão oposta, inversa, do que realmente aparentamos, do que os outros nos veem. Direita e esquerda nessa visão metafórica possuem posições e significados distintos. Dependerá sempre do ponto de vista do observador, não apenas no sentido físico.

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Na escrita, as palavras podem ser invertidas para ocultar a mensagem pretendida. Já os palíndromos são aqueles que podem ser lidos de frente para trás e vice-versa, com o mesmo resultado. E pode ser aplicado também para números. Assim, 1001 e arara são dois exemplos de palíndromos. A inversão das palavras pode ser por seu significado, base deste mundo de pós-verdade e fake news.

Em ciências, as grandezas são sempre representadas por unidades de medida. Há as que são o inverso de uma em relação a outra e, por isso, representadas matematicamente pela divisão do número 1 sobre a unidade. Assim, o inverso do cm é 1/cm ou cm-1 (elevado a menos um), que é difícil de representar na impressão não científica e pode ser que saia como cm-1 ou cm^-1 na notação computacional. Aqui o significado é muito distinto, pois cm é unidade de medida de comprimento, enquanto que 1/cm é unidade de medida de número de onda, um valor diretamente associado a energia. Mas também há registro de se escrever a unidade ao contrário. A medida de resistividade elétrica é dada em ohm e a condutância já foi escrita como mho, pouco usada, mas pertinente, dentro da analogia pelo inverso. Hoje é usado o siemens como unidade de condutividade elétrica.

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A mais crítica inversão de significados pode reverter tendências ou mesmo deturpar o dado estatístico para atender o pressuposto inicial. Não apenas nas pesquisas de intenção de votos isso ocorre, como mostrei recentemente no artigo Explorando o Datafolha, de 17/4. Não seria exagero dizer que muitos artigos científicos em revistas de renome carregam algum vício dessa natureza. Há muita pressão para a publicação apenas dos resultados considerados bons ou promissores, e aqueles que revelam a dimensão da falibilidade ficam de fora.

Inverter também a lógica da produção cientifica é objeto de trabalho do pesquisador, mas a comunidade é resistente a isso, preferindo a pureza falseada e uma infinidade de dados adormece em gavetas e cadernos de laboratório.

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Deparei-me na edição do jornal Correio Popular do mesmo dia 17/4 com a carta de um leitor que inverte o dado sedimentado em nosso aprendizado e afirma que o 21 de abril é data do nascimento de Tiradentes! Lapsos e relapsos, mas são assim as fontes das fake news, as notícias que nitidamente são falsas, mas permitidas sua leitura e sua disseminação.

Outros significados inversos vêm à lembrança, por exemplo, a afirmação da corajosa professora Afira Vianna Ripper da PUC, atuante na Unicamp, que dizia ser de "desembreie" o pedal, ao invés de "embreagem", pois realmente o que se faz é desembrear o motor para a mudança de marcha. Falamos dos veículos não automáticos, por certo, e a professora é especialista em educação, não em engenharia, daí sua coragem para lidar com falas estabelecidas que não refletem o sentido pretendido.

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Já escrevi textos com fragmentos de cartas, mas procurei dar uma coesão entre as frases e não fazer "Um mosaico de estilhaços", como fez Luiz Carlos Vieira na seção de Opinião do Correio Popular, de Campinas, em 7/4. Fiquei sem entender um ponto nevrálgico do texto, pois, além da pretensão de afirmar que existe "somente uma certeza em voga", ele diz que "o senso comum vai frontalmente de encontro a anseios...", mas creio que queria dizer "ao encontro de": de encontro = contrário; ao encontro de = em concordância. A expressão é batida, os mais permissivos entendem que não causa confusão, mas na matéria foi exatamente a confusão que me despertou a curiosidade. Posso estar errado e aguardo esclarecimentos do autor, uma vez que a discussão é matéria-prima do conhecimento e não podemos inverter essa lógica.

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