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José Reinaldo Carvalho

Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc

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Involuntariamente, FHC presta um serviço à esquerda

FHC combate as vozes que pregam o diálogo entre a oposição e o governo, alerta para os limites entre o diálogo e o conchavo e claramente nega uma "tábua de salvação" aos que estão à frente do poder nacional

FHC combate as vozes que pregam o diálogo entre a oposição e o governo, alerta para os limites entre o diálogo e o conchavo e claramente nega uma "tábua de salvação" aos que estão à frente do poder nacional (Foto: José Reinaldo Carvalho)
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O ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso fez um dos piores governos da história republicana brasileira, marcado pelo entreguismo e a corrupção. Desenvolveu relações promíscuas com sua base de sustentação no Congresso Nacional, cooptando-a por meio da compra de votos, como no nefasto episódio da aprovação da emenda da reeleição. Politica e ideologicamente, completou há tempos sua adesão a posições conservadoras. Foi arauto da globalização neoliberal, que comparou ao Renascimento, alinhou-se com as posições neocolonialistas do imperialismo estadunidense. Hoje, no papel de oráculo do PSDB, alimenta o obsessivo mantra de derrotar a esquerda.

Mas, involuntariamente, às vezes presta inestimável serviço às forças progressistas. É quando fala com nitidez ao dar entrevistas, pronunciar conferências ou publicar artigos, como fez no último domingo (5) no jornal O Estado de S.Paulo. FHC combate as vozes que pregam o diálogo entre a oposição e o governo, alerta para os limites entre o diálogo e o conchavo e claramente nega uma "tábua de salvação" aos que estão à frente do poder nacional.

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Não consta que as forças progressistas e o governo estejam em busca de uma "tábua de salvação". Muito menos que faça parte do seu horizonte a capitulação ao inimigo ou a sujeição aos seus desastrosos planos. Estão, isto sim, empenhados na recomposição da sua base política, o que implica reforçar o núcleo de esquerda, repactuar as relações com o centro democrático e intensificar os laços com os movimentos populares e sindicais transformadores.

FHC veio a público mais uma vez para tentar oferecer um rumo ao amálgama de forças reacionárias que é a oposição neoliberal e conservadora. Invocou a experiência histórica de crises institucionais, misturando alhos com bugalhos, para levantar a necessidade de a oposição ter organização e objetivos definidos, percepção clara sobre o que virá e visão política alternativa. Mesmo rejeitando retoricamente a saída golpista, desvelou seus propósitos de derrubar o governo, chamou a oposição às ruas e apresentou seu modelo de reforma política antidemocrática, golpeando o sistema proporcional e defendendo o financiamento empresarial das campanhas.

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Efetivamente, não há termo de cooperação nem possibilidade de união entre correntes políticas tão antagônicas como são as forças progressistas e as que formam o consórcio oposicionista – o PSDB e seus partidos satélites, a mídia e os movimentos que vão às ruas pregar o golpe, que FHC generosamente designou como "movimentos populares moralizadores e reformistas".

Não há despropósito maior do que pactuar com o partido que, à frente do governo federal [1995-2002] comprometeu a soberania nacional, vilipendiou os direitos do povo, dilapidou a economia e a administração pública, privatizou valiosas companhias estatais e tentou privatizar a Petrobras e os bancos públicos. Não faz nenhum sentido aderir a quem pretende restaurar o domínio da oligarquia financeira como propôs seu candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais.

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A oposição neoliberal e conservadora, representada pelo PSDB e seus aliados, é antagônica com a esquerda, as forças progressistas democráticas e patrióticas. É do confronto entre estas forças, salutar à consolidação da democracia, que resultará a solução de fundo para a crise política estrutural da sociedade brasileira.

A unidade necessária para enfrentar a momentânea crise do governo e as dificuldades econômicas deverá ser pactuada entre as forças democráticas, patrióticas e progressistas no âmbito de uma frente política e social com este caráter e conteúdo, em torno de bandeiras como a defesa da Petrobras, da economia nacional e sua engenharia; o combate à corrupção; a reforma política democrática, com o fim do financiamento empresarial das campanhas; a retomada do crescimento econômico e a garantia dos direitos trabalhistas e sociais. Esta plataforma mínima rejeita todo e qualquer golpismo, as manobras da oposição neoliberal e conservadora e tem como pressuposto a defesa do mandato legítimo e constitucional da presidenta Dilma.

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Tanto quanto a crítica às posições de FHC é importante discernir sobre as relações na própria base aliada do governo e sobre quem efetivamente faz parte do campo progressista, pois nada é mais prejudicial a uma força política que está sob cerrado ataque do inimigo, em meio a uma intricada crise política, alvo de uma megaoperação de cerco e aniquilamento como a divisão das próprias fileiras, a fragmentação de posições e o criticismo a partir de opiniões que, mesmo bem intencionadas, servem objetivamente aos interesses da direita. O risco maior que corre uma liderança no poder momentaneamente enfraquecida é tornar-se alvo de críticas e ataques dos próprios aliados e ser responsabilizada por erros que não cometeu.

Como se não bastassem os ataques dos inimigos declarados do governo, a nova moda é inculpar e condenar a presidenta Dilma pelas defecções de aliados.

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Em artigo recente, neste mesmo espaço, comentei como foi decisiva para a vitória de Lula nas eleições de 2002 e o êxito do seu governo, a aliança com o grande empresário e político patriota José Alencar e, a partir de 2006, com o PMDB liderado por Michel Temer, que se mantém ainda hoje.

Até onde alcança a minha percepção, não estava nem está nos planos da liderança política do país romper a aliança básica com o PMDB. Não encontra respaldo na realidade o argumento de que a mudança de posição de um expressivo setor desse partido decorre de posições sectárias da mandatária ou de algum auxiliar – idiossincrasias à parte - sob sua orientação.

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O que está ocorrendo no país é um forte deslocamento para a direita de forças que, enquanto consideraram conveniente, trafegaram no ônibus do governo de ampla coalizão e agora encontram a oportunidade para mostrar o seu verdadeiro caráter. Não é culpa dos partidos de esquerda se determinadas facções que respaldavam o governo decidiram sustentar bandeiras antidemocráticas e antinacionais, como o financiamento de campanhas eleitorais por empresas, a independência do Banco Central, a redução da maioridade penal e outras aberrações.

Ninguém em sã consciência entre as forças da esquerda consequente nega a necessidade da coalizão ampla para ajudar o país a sair da crise e assegurar as condições de governabilidade à presidenta Dilma. Mas tampouco renuncia à luta de ideias nem confunde flexibilidade tática e até a compreensão de que é preciso fazer concessões, com capitulação a posições antagônicas às convicções democráticas, patrióticas e éticas que conformam o programa vitorioso nas urnas.

O mesmo argumento falso, eivado por vulgar criticismo a métodos e estilo de liderança, marcou a trajetória de ruptura do PSB com a esquerda, a partir de pelo menos o ano de 2012. E ainda hoje, mesmo tendo atravessado o rubicão nas eleições de 2014, o partido justifica a opção feita pretextando os "erros" da presidenta e o "sectarismo" da corrente política que lidera.

No programa de TV que foi ao ar em rede nacional na última quinta-feira (2), ficou patente uma vez mais o papel e o lugar que o PSB escolheu exercer e ocupar no espectro político. É válido envidar esforços para marchar com os verdadeiros socialistas e patriotas que militam nesse partido (devem ser ainda muitos). Mas não é válido enganar-se nem tentar enganar os outros com o mito de que o partido não é de oposição a Dilma.

No aludido programa de TV, o PSB bateu duro no governo, insinuou que a presidenta da República mentiu, alguns dos seus próceres, como o candidato a vice-presidente derrotado e o vice-governador de Geraldo Alckmin, foram agressivos e insultuosos. Em outros momentos do programa, chama-se de "independência" a furibunda oposição que a sigla faz ao governo Dilma. De quebra, para mostrar a "cara do Brasil", o programa de TV do PSB exibiu cenas das manifestações reacionárias de 15 de março.

Falemos claro, então. Ninguém excluiu qualquer partido ou facção da aliança. Antes, foram estes que mudaram de posição. FHC percebeu, e por isso, em seu artigo no "Estadão", fez aceno a esses setores.

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