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Giselle Mathias

Advogada em Brasília, integra a ABJD/DF e a RENAP – Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares e #partidA/DF

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Irmãs de alma 2

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O rapaz senta-se ao lado da Amiga 3 e a paquera que antes estava distante, apenas na troca de olhares, se aprofunda com a troca de sorrisos e uma conversa animada. Era visível que os dois estavam interessados um no outro, todo o gestual era como uma dança de acasalamento, com leves toques, olhares e pequenas inclinações do corpo em direção ao objeto desejado. A atenção, essa, só era compartilhada entre eles, parecia que não havia mais ninguém naquela mesa.

A Nutricionista contou que aparentemente estava tudo bem, mas a Amiga 1 começou a se comportar de uma forma que ela nunca tinha visto. Olhava para o Rapaz e a Amiga 3 com incômodo, não conseguia desviar seus olhos e os observava em cada toque, cada palavra, em cada sorriso. Não disfarçava o quanto aquela situação a deixara desconfortável.

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Incomodada com a reação da Amiga 1, ela a chama para ir ao banheiro - tática conhecida das mulheres quando desejam comentar sobre algo, seja para falar do carinha da mesa ao lado, seja para comentar sobre os figurinos dos frequentadores do bar, ou só para fazer aquela que é a função do banheiro. Nesse caso, a Nutricionista queria saber o que incomodava a Amiga, pois todo o brilho do seu sorriso havia desaparecido de seu rosto, e não prestava mais atenção na conversa, nem mesmo nas ótimas piadas da Amiga 2.

A Amiga 1 disse que não havia nada de errado, era apenas impressão, tudo estava tranquilo. Ela insistiu e perguntou se a situação com o rapaz era o motivo da sua súbita mudança de humor, mas ela negou e que repetiu que não havia nada de errado. As duas voltaram à mesa, e o que antes era apenas o incomodo, expressado pela face, tornou-se verbal. Ela começou a ser agressiva com a Amiga 3, depreciava tudo que ela falava, constrangia-a contando histórias de outros carinhas que ela teria se envolvido, insinuando que ela era a tal da “mulher fácil”.

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Infelizmente aquela situação não me espantara, o padrão machista também é reproduzido por nós, lembrei de situações na adolescência e do quanto foi difícil para mim ouvir de outras mulheres que eu não deveria me separar, pois na minha idade ficaria só, nenhum homem me olharia ou teria desejo por mim. Não esqueço como me senti, era como se eu não tivesse nenhum valor, a sensação de invisibilidade se aprofundou, porque eu seria a “mulher largada”, sem um homem que mostrasse a sociedade que eu era “boa”.

Talvez pensem o quanto é absurdo o que falo, que já não é mais assim, as mulheres hoje são independentes, e nada disso faz sentido. No entanto, como disse, há padrões tão arraigados, que sequer percebemos que o praticamos, já estão tão introjetados que é difícil modificá-los, precisam vir ao consciente para serem alterados.

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Confesso a vocês que tive a sorte em minha vida de ter conhecido a minha Irmã de Alma, essa mulher que mostrou o valor da minha humanidade, o meu direito de existir e me trouxe a consciência os padrões do machismo, que me colocavam vulnerável a sentimentos e dores que me paralisavam, impediam minha independência, me tornavam prisioneira de padrões abusivos, me colocavam à disposição do desejo do outro e na submissão da minha existência a alguém que sequer me enxergava.

Ela continuou o relato sobre aquela situação que revelara todo o padrão insidioso de uma rivalidade que nos é introjetada desde que nos entendemos como mulheres. A Amiga 1 colocara aquele homem, o Rapaz, no lugar do troféu, iniciara, com seu comportamento de depreciar a Amiga 3, uma disputa; desejava mostrar que era “a melhor”, a merecedora do prêmio fálico que se apresentava na mesa. O fim da noite foi constrangedor com a Amiga 3 levantando-se da mesa, dizendo a “rival” o quanto desagradável e que não serviria de trampolim para ela se enaltecer, jamais entraria naquela disputa infantil. Despediu-se de todos e foi embora.

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O Rapaz, esse não ficou constrangido, estufou o peito e agiu como um pavão, levantou-se imponente e foi beber sua cerveja no balcão, encontrou outra mulher, onde, após a situação que lhe levantara o ego e a confiança, iniciara mais uma partida do jogo da paquera e talvez conquistar um território e, depois do seu desejo atendido, virar para o lado e descansar como se fosse o guerreiro vitorioso.

As amigas ficaram estremecidas, mas após uma boa conversa entre si, e, a Amiga 1 ter percebido que reproduzira um padrão o qual abomina, se desculpou, e não perderiam a amizade uma da outra por causa de um macho trivial.

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A Socióloga, após a narrativa pela Nutricionista, disse que passou por uma situação horrível por causa de uma fofoca inventada, e agora percebeu que tudo aconteceu em razão de uma disputa insana, a qual é enfrentada para atender aos padrões estabelecidos por uma sociedade sexista em que mulheres são valoradas a partir do olhar masculino.

Nos entreolhamos e resolvemos pedir a conta, o dia seguinte era de labuta. Nesse momento o silêncio se instalou, ficamos pensativas e a Nutricionista sorrindo disse que contaria mais uma história antes de encerrarmos aquela noite.

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