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Gustavo Santos

Doutor em economia pela UFRJ e analista do BNDES

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Juros e o pacto social

(Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)
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O empresário Rubens Menin, em entrevista recente, mostrou até agora a posição pública mais objetiva em relação à política de juros que vimos nos últimos anos. Diversos membros do atual governo também têm colocado posições coerentes, inteligentes e corajosas sobre esse assunto. 

Porém, podem estar falhando um pouco na objetividade, porque o problema não se resume a trocar ou não o Presidente do Banco Central e nem mesmo se resume a corrigir os possíveis erros existentes nos procedimentos de mensuração das expectativas de mercado ou nos demais modelos utilizados pelo Banco Central. 

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O empresário trouxe para essa discussão um ponto que até então era marginalizado, a questão política. Menin buscou esclarecer que os juros exagerados no Brasil não são um problema simplesmente técnico ou pessoal, ele é principalmente uma questão política e que, portanto, precisa partir de uma solução política.

Rubens Menin não pode ser chamado de esquerdista e nem de opositor ao setor financeiro, está muito longe disso. Ele é o fundador da maior construtora de residências do Brasil, a MRV, do Banco Inter, da CNN Brasil, além de muitos outros empreendimentos bem-sucedidos. Quando ele fala de solução política para os juros altos, ele não está se referindo a nada que poderia ser considerado herege ou revolucionário em qualquer outro país. 

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Ele propôs claramente um novo pacto social no Brasil em prol dos juros baixos. Evidentemente isso não significa qualquer sugestão de leniência em relação a uma inflação acima do desejável, pois ele sabe que a maioria dos países combina juros e inflação baixos sem problemas. 

O empresário se referiu ao Plano Real como um antigo pacto contra a inflação, que, porém, pode ter levado a sociedade a aceitar juros altos por muito tempo, como um suposto mal necessário.

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Ele esclarece que esse pacto estaria desatualizado e trazendo problemas ao nosso desenvolvimento, porque hoje se tornou evidente que os juros elevados podem ser um problema igual ou até maior do que a inflação, dependendo da situação.

As preocupações levantadas na entrevista nos lembram que os países se desenvolvem por meio de pactos sociais. O Brasil fez um pacto na redemocratização que resultou na Constituição de 88. Posteriormente, fez o pacto do Plano Real para acabar com a inflação.

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Os espanhóis fizeram o conhecido Pacto de Moncloa. Mundialmente, o mais famoso pacto social em regime democrático foi o New Deal, liderado pelo Presidente Roosevelt nos EUA. Ele durou por 50 anos nos EUA, entre 1930 e 1980. No mesmo período esteve em vigor no Brasil o Pacto Desenvolvimentista, que foi mantido com sucesso por regimes autoritários ou democráticos, pela esquerda o pela direita. Por meio dele, o Brasil foi o país soberano que mais cresceu no Planeta nesse período.

O empresário nos alerta que precisamos de um novo pacto tendo os juros como questão central. Ele quer dizer que os juros são um tema mais importante do país, inclusive do que educação, emprego, saúde? Não. Ele quer dizer apenas que o ponto de maior divergência na sociedade e entre a elite brasileira são os juros. Sobre outros temas o consenso social é muito maior. 

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Além disso, o juros afetam todos os outros problemas como emprego, investimento, competitividade, arrecadação tributária, educação, saúde, habitação etc. Por esses motivos, realmente é uma excelente ideia fazer um pacto social tendo os juros como elemento central do acordo.

Aqueles que apontam problemas técnicos no Banco Central ou questionam as decisões de seu presidente, podem estar corretos, mas esse não é uma boa forma de resolver um problema que só pode ser envolvido por acordo político. 

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A taxa de juros alta só pode ser alterada por meio de um pacto político, porque evidentemente tem forças sociais que preferem ela mais alta e forças que preferem ela mais baixa. Isso significa que o foco da discussão nos supostos equívocos técnicos do Banco Central não vai nos levar a nada. Quando os lados não têm acordo político a discussão técnica se transforma em um buraco negro que engole todos os argumentos colocados e os manda para lugar nenhum, onde não há chances de se ver a luz do fim do túnel. 

A ordem correta seria primeiramente realizar um novo pacto social e depois elaborar a discussão técnica de como operacionalizá-lo. Compreendido esse ponto, o primeiro passo seria convencer os grupos sociais que resistem à redução dos juros de que isso seria melhor para eles próprios. 

Gostaria de propor uma sugestão para esse desafio em um próximo artigo.

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