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Marcos Mourdoch

Escritor, dramaturgo, roteirista e poeta brasiliense.

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Karl Marx, o Leviatã do homem comum?

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Essa semana me deparei com uma notícia viral sobre um jovem ter se recusado a fazer um trabalho, pedido de seu professor, sobre Karl Marx e obra. Soou-me um tanto assustador perceber de forma tão clara a definição, bem como o efeito principal de uma ideologia: não perceber que se está nela. Posteriormente parei para me perguntar – de onde vem essa repulsa sobre a obra de um filósofo tão importante para o mundo ocidental? Como Karl Marx se tornou um monstro a ser evitado na cabeça do homem comum? Por quê? Para que se responda é preciso imergir nas bases da ideologia que nos toma, o liberalismo, desde os seus primórdios. 

O monstro bíblico do velho testamento foi usado por Hobbes como metáfora em sua obra clássica, O Leviatã. Não contente, foi além e, tal qual o diabo bíblico, visitou a mesma montanha na qual o mundo foi oferecido ao cristo. De lá avistou o caos e todas as espécies de injustiças. (Hobbes enfrentou a inquisição por causa dessas metáforas) Bom, eram os primórdios dos Estados modernos unificados. A revolução científica acompanhava ao longe as implicações das teorias políticas quando comparou o “Estado” (expressão só usada mais tarde, por Hegel) segundo ele criado artificialmente e classificado de “monstro artificial”, ao titã do velho testamento. Salvem essa informação, mas tomem nota disso: Hobbes defendia a existência do poder centralizado (monarquista e absoluto) a fim de evitar a barbárie, os efeitos nefastos da luta “natural” do homem por recursos. Segundo sua teoria, a causa da acumulação primitiva e da luta por poder seria o medo da morte. Dentre outras coisas, para se evitar a guerra apocalíptica de “todos contra todos” o Estado, na figura do poder centralizado, era inevitável. Bom, há aqui que se contextualizar os horrores decorrentes das invasões ao velho mundo nos séculos antecedentes à obra de Hobbes. No pós colapso do império romano as populações foram interiorizadas, introduzindo o poder feudal, da qual o absolutismo se apresentava como o ápice e também o futuro. Nesse futuro estaria a morte do homem pré-social, ou homem no estado de natureza, pronto a usar sua racionalidade e poder para subjugar indiscriminadamente a quem fosse necessário. Abrindo mão disso, “por um contrato social”, o indivíduo protegeria o bem mais valioso, a vida, se e somente se respeitassem seus papéis sociais e, por fim, aceitassem a vontade do soberano. (pois só assim se evitaria a guerra de todos contra todos)

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Bom, nesse contexto foram lançadas as bases das teorias contratualistas. Hobbes defendeu até mesmo que a finalidade da política, dentro desse contrato social, era a preservação dos direitos do indivíduo. Os pressupostos para o que mais tarde viria a ser o liberalismo também estavam lançados. (embora as conclusões sejam antiliberais, os pressupostos foram a base do liberalismo.) Nos séculos seguintes ao Leviatã aconteceram as revoluções liberais burguesas, também contratualistas e baseadas na figura do Estado garante.

Ora, lançadas as bases mínimas para que se entenda o comportamento do jovem que se negou a fazer o trabalho, seguiremos conceituando ideologia segundo o Marxismo: “o sistema de ideias que legitima o poder da classe dominante”. Ideias dominantes são as ideias da classe dominante, também segundo o Marxismo. Mas isso não explica ainda, por si, o porquê dessa necessidade de repulsa imposta pela ideologia liberal. Para isso é preciso avançar, de forma sucinta, no conceito de Estado de fato, ou seja, os fatores reais do poder a quem o Estado liberal representou durante a história: Hobbes defendia as monarquias como garantes do contrato social; a liberdade política do liberalismo clássico de Locke (propriedade privada como direito natural) o que importavam eram as garantias individuais e o mercado faria o resto. Já o neoliberalismo de T.H Green (Estado regulador) defendia intervenção estatal reguladora, mas os bilhões estariam sempre salvos. E é aqui, senhores, que a ideologia liberal ganhou o dever de tornar Karl Marx o leviatã do homem comum... Para Marx o Estado sempre esteve ao lado dos que detém o poder econômico, para realizar seus fins políticos, ideológicos, e é claro, econômicos, não importando o regime político. Ora, se dentro do pensamento Marxista não cabem o poder burguês tampouco o Estado a serviço dos fatores reais do poder (poder econômico que se desdobra em político e ideológico) como não haveria ele de ser alvo da máquina de propaganda ideológica? Os ditos liberais odeiam Karl Marx porque ele sempre questionou partes elementares dos contratualistas e seus modelos de Estado: (desde Horbbes) homem comum! Cumpra a sua função (obscura) social e aceite a vontade do soberano. A visão de pós Estado então só pode mesmo ser a inimiga número um da ideologia neoliberal. Eles odeiam Marx e eles têm toda razão.

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