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Juca Simonard

Jornalista, tradutor e professor de francês. Trabalhou como redator e editor do Diário Causa Operária entre 2018 e 2019. Auxiliar na edição de revistas, panfletos e jornais impressos do PCO, e também do jornal A Luta Contra o Golpe (tabloide unificado dos comitês pela liberdade de Lula e pelo Fora Bolsonaro).

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Lava Jato contra a JBS: Lula na mira novamente?

Imperialismo continua política de destruição econômica do Brasil, numa operação que pode atingir Lula e o PT

(Foto: Reuters | Reprodução)
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Por Juca Simonard

A JBS parece estar sob a mira de governos europeus e do norte-americano. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, recentemente anunciou um plano de cunho protecionista que afeta os rendimentos da empresa brasileira, entre outras; e deputados europeus e norte-americanos iniciaram uma campanha pela investigação da processadora de carne, alegando crimes de corrupção e contra o meio ambiente.

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Os três parlamentares que defenderam investigações são ligados às principais organizações políticas do imperialismo: Bob Menendez, do Partido Democrata, partido de Biden; Ian Liddell-Grainger, do Partido Conservador britânico; e Norbert Lins, eurodeputado ligado aos democratas cristãos alemães, de Angela Merkel, e presidente da Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Parlamento Europeu.

Biden tem direito de realizar a política econômica que bem lhe entender nos EUA. No entanto, a campanha internacional pela investigação e o boicote da JBS chama atenção. Principalmente quando a campanha dos parlamentares estrangeiros foi divulgada apenas um dia após o presidente norte-americano informar sobre seu novo plano que atinge diretamente, além da JBS, outra empresa brasileira grande no setor: a Marfrig. Ambas as empresas foram citadas, em pesquisa publicada pelo site da Casa Branca, por estar usando seu "poder de mercado para aumentar os preços e pagar menos aos agricultores, enquanto pegam cada vez mais para si mesmas".

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Afinal, o que está em jogo?

A JBS é a maior processadora de carne do mundo e uma das mais importantes nos EUA e, por isso, está incomodando um setor do imperialismo que quer controlar esse mercado. No dia 4 de janeiro, a empresa brasileira adquiriu 100% da Rivalea, líder em criação e processamento de suínos na Austrália. Com isso, a JBS assumiu a liderança no processamento de carne suína no país e aumentou seu poder de exportação. Portanto, é uma empresa em franca expansão. Mais de 70% das receitas da empresa é oriunda da venda de carne nos Estados Unidos — o mesmo acontece com a Marfrig.

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Ao contrário de outras empresas brasileiras de capital aberto, a JBS continua tendo como acionistas majoritários dois empresários brasileiros, os irmãos Wesley e Joesley Batista. São eles que comandam efetivamente. Os parlamentares estrangeiros que pediram a investigação da JBS demonstraram estar preocupados com isso, alegando que ambos são investigados por corrupção.

Corrupção: pretexto da campanha imperialista

Efetivamente, os irmãos Batista foram alvo da Justiça brasileira durante o período do golpe de Estado. A JBS foi alvo da Operação Lava Jato. Wesley e Joesley foram investigados pela Polícia Federal em 2016. Eles eram acusados de pagar milhões de reais em propina a mais de 1.800 políticos e servidores públicos, num amplo esquema que atingiu também setores da direita que a Lava Jato queria tirar do cenário político, como Eduardo Cunha (MDB) e, por um momento, Michel Temer (MDB).

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Em 2017, os empresários fecharam um acordo de delação com a Procuradoria-Geral da República (PGR), fizeram uma leniência com o Ministério Público Federal (MPF) e acertos com autoridades norte-americanas, abrindo mão de cerca de R$ 12,4 bilhões em ativos próprios. Da mesma forma que ocorreu com a Odebrecht, a Lava Jato usou a corrupção para fazer política a favor dos EUA. Enfraqueceu setores do próprio golpismo, enriqueceu autoridades norte-americanas e chantageou os empresários para obter delações premiadas contra integrantes do PT, como a ex-presidenta Dilma Rousseff — que, no entanto, foi absolvida para salvar Temer e Aécio Neves (PSDB).

Foi pura e simplesmente uma operação política que quase derrubou Temer numa época em que o imperialismo havia perdido confiança em seu governo impopular; enfraqueceu a liderança de Aécio Neves e Cunha no bloco golpista — favorecendo a ala mais pró-imperialista; continuou a perseguição política ao PT; e tentou destruir a JBS, assim como fizeram com as empreiteiras brasileiras que cresciam no mercado mundial (Odebrecht, OAS etc.).

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Ficou claro, durante essa operação, que a Lava Jato era uma manobra do imperialismo não apenas para dar o golpe nas organizações dos trabalhadores, como o PT, mas também para enfraquecer um setor da burguesia nacional em prol dos interesses dos monopólios estrangeiros. Foi apenas nesse momento que um setor do Supremo Tribunal Federal (STF), como Gilmar Mendes, ligado a grupos pecuaristas nacionais, quando viu que os próprios interesses estavam em risco, mudou de lado e passou a criticar a Lava Jato.

Temer se manteve no poder e os irmãos Batista, por mais que prejudicados financeiramente, continuaram mandando na empresa porque um setor da burguesia nacional impediu as manobras lavajatistas e chegou a um acordo com o imperialismo.

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Diminuir a concorrência e favorecer os monopólios

O golpe de Estado no Brasil deixou muito claro o objetivo do imperialismo de usar a corrupção ou qualquer outro pretexto “ético” para derrubar empresas grandes de países atrasados. Articulada pelos EUA, a Lava Jato não apenas quebrou as empreiteiras brasileiras, como também iniciou o processo de destruição da Petrobras para favorecer os monopólios imperialistas de exploração do petróleo. O motivo central do golpe foi frear o desenvolvimento econômico decorrente da política nacionalista dos governo petistas de Lula e Dilma, além, é claro, de destruir os direitos democráticos e trabalhistas para favorecer a exploração no País.

Para atingir este objetivo, no entanto, a corrupção é apenas um dos pretextos que podem ser usados. Os parlamentares estrangeiros que exigem investigações contra a JBS, por exemplo, não apenas alegam que Wesley e Joesley são corruptos, como também apontam que a empresa comete crimes ambientais.

Os deputados pediram, em comunicado conjunto, que os governos investiguem as práticas comerciais da brasileira JBS, assim como da holding J&F Investimentos, dos irmãos Batista, e de suas subsidiárias nos EUA e no continente europeu. Supostamente preocupados com a floresta amazônica, eles alegam que a JBS obtém gado “de fazendas que contribuem para o desmatamento”. A empresa foi acusada de utilizar carne de vacas de pastos em áreas desmatadas ilegalmente.

Nesse sentido, em dezembro de 2021, seis redes europeias de supermercados, como o Carrefour (controlado por um grupo de empresários franceses), anunciaram que pararam de comprar carne do Brasil por causa do desmatamento da floresta amazônica. Segundo a RFI, a União Europeia espera aprovar em 2022 lei contra a compra de produtos do desmatamento, utilizando-se da popularidade da pauta pela defesa do meio ambiente.

A política de usar pretextos supostamente éticos para levar adiante seus interesses econômicos é uma estratégia mundial do imperialismo. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Wang Wenbin, recentemente denunciou que os EUA têm coagido empresas a não comprar algodão proveniente da Região Autônoma Uigur de Xinjiangonde o imperialismo alega que há desrespeito aos chamados “Direitos Humanos”.

Nesse sentido, a gigante chinesa das telecomunicações Huawei tem sido constantemente assediada pelo governo norte-americano. A executiva Meng Wanzhou, a mando dos EUA, ficou presa por mais de três anos no Canadá, acusada de fraudes bancárias e eletrônicas. Em 2018, ela foi indiciada, junto à Huawei, por mentir para bancos sobre as ligações da empresa com o Irã, o que os norte-americanos consideraram como uma violação das sanções que impuseram unilateralmente sobre o país. Em 2020, a empresa chinesa foi acusada de crime organizado para o roubo de segredos sobre negociações de ações na bolsa.

Plano Biden

Uma outra face da mesma política aparece no novo plano de Joe Biden para diminuir o preço da carne no país. Em 2021, no intervalo de 12 meses, o índice para carnes, aves, peixes e ovos nos EUA aumentou 12,8%, com o índice para carne bovina crescendo 20,9%. Por isso, Biden lançou um plano de US$ 1 bilhão para incentivar a produção de pequenos produtores, como forma de combater a concentração do mercado, tendo como principais alvos a JBS e a Marfrig.

O programa é legítimo (ao contrário do jogo sujo tradicional) e revela, na realidade, a falência da política neoliberal. Diante da crise econômica do país, Biden busca um paliativo. Uma tentativa tímida de impedir uma explosão social causada pela inflação. Assim, une o útil ao agradável, já que ainda tende a diminuir o controle do mercado de carnes pelas empresas brasileiras. Por isso, quando o governo de Joe Biden lançou a ofensiva sobre o setor, as ações da JBS despencaram 4,22%.

Continuação da política golpista

A Lava Jato internacional contra a JBS revela que os EUA não abriram mão de sua política de terra arrasada para o Brasil. Ao contrário, ela tende a aumentar com Joe Biden, que, em um ano de governo, realizou mais investidas políticas contra países latino-americanos, como Cuba e Nicarágua, do que seu predecessor, Donald Trump. Biden mostra, novamente, ser um homem linha-dura do imperialismo, e está entrando numa crise de grandes consequências com Rússia e China para manter os interesses dos monopólios norte-americanos.

No Brasil, o objetivo é colocar a economia totalmente à reboque do imperialismo. Essa é a política do golpe, de Temer a Jair Bolsonaro. As privatizações de distribuidoras e refinarias da Petrobras e de outros patrimônios públicos nacionais fazem parte deste projeto. Com a JBS — assim como foi com a Odebrecht —, o imperialismo encontra um alvo fácil; afinal, quem colocará a mão no fogo para defender uma grande empresa, altamente corrupta e exploradora da mão de obra? 

Os motivos, no entanto, devem ser denunciados: não se trata da luta contra a corrupção ou da defesa da floresta amazônica e, sim, de uma operação política para destruir a economia nacional. Deve-se denunciar as artimanhas imperialistas e apresentar, como solução aos problemas da JBS (cujos principais não são mencionados pelo imperialismo, como a alta exploração da mão de obra), a estatização total da empresa sob o controle dos trabalhadores. Do contrário, ela apenas será substituída por monopólios estrangeiros.

Ainda, desde já, é preciso levantar a suspeita que usarão a Lava Jato contra a JBS para atingir o PT. Como foi dito, no acordo com o MPF em 2017, a empresa realizou delação premiada contra diversos políticos do PT, como os ex-ministros Guido Mantega e Antônio Palocci; os ex-governadores Fernando Pimentel e Zeca do PT; e a ex-presidenta Dilma. Foi durante os governos petistas que a empresa cresceu e sabe-se que, para impedir a vitória de Lula nas eleições deste ano, o imperialismo, com o apoio da imprensa nacional, jogará sujo contra o ex-presidente.

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