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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Leia livros, presidente

Sobre a intenção de Jair Bolsonaro de fazer mudanças nos livros didáticos, Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia, diz a Bolsonaro: "Tivesse dedicado um pouco mais do seu tempo à leitura desse 'monte de coisas', quem sabe mais suave seria o senhor, que está sempre com esta carranca pálida, assustada, boca trancada – e provavelmente seca, fenômeno que acomete os que ficam ansiosos ao falar em público"

Jair Bolsonaro (Foto: Marcos Corrêa/PR)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - Em mais uma de suas saídas para a galera, em que dedica alguns minutos para falar aos repórteres do “cercadinho”, Bolsonaro se pôs a defender mudanças nos livros didáticos e, sobre isto, disse que “os livros de hoje, como regra, são um amontoado... Muita coisa escrita, tem que suavizar”.

Para exemplificar o que é bom – “os pais vão vibrar”, anteviu, quando todos os livros distribuídos pelo MEC forem da sua gestão, em 2021 -, citou a cartilha em que estudou: “Caminho Suave”, ou o “método da alfabetização pela imagem”, de autoria da educadora Branca Alves de Lima (1911/2001). E promete que todos os livros virão acompanhados da letra do hino e com estampa da bandeira nacional. Nada mais Bolsonaro, convenhamos. A apropriação dos símbolos pátrios, como se fossem apenas seus, por seu (des)governo, vem de longe. Desde a campanha, quando verdadeiros “exércitos” de robozinhos vestiam a indefectível camisa da seleção para ensaiar uma “dança” marcial em ruas e praças.

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Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, em 1997, Branca Alves de Lima, autora de “Caminho Suave”, relatou que quando começou a lecionar, em cidadezinhas no interior paulista, a prática pedagógica para alfabetização se chamava "método analítico". Com o fim do Estado Novo, em 1945, as autoridades do MEC chegaram à conclusão que o "método analítico" não funcionava e estava superado, e deram liberdade didática aos professores. Sim. É isto mesmo. Vocês leram certo. O método que alfabetizou Jair foi o que vigorou no Estado Novo. Alguma surpresa?  Sem desmerecer o método da educadora, vamos combinar que depois disto muitas teorias pedagógicas passaram pelo Vale do Ribeira e pelo restante do país.

Talvez por isto, ou por pegar a definição do “método analítico” ao pé da letra - deve ter se importado apenas com as imagens -, Jair tenha tanta dificuldade em fazer leituras e sempre que lê um discurso o faz como um aluno em sala de aula, diante da professora de alfabetização. Não dá cadência, ritmo, não passa a essência do que está lendo. Todos só conseguem prestar atenção à sua imensa dificuldade de ler e interpretar o que lê. O conteúdo passa batido, ou exige enorme concentração de quem ouve. E deve ter vindo daí, de um equívoco pedagógico da sua parte, a ideia de que livro com “muita coisa escrita” não são bons.

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Engana-se, senhor Jair. Tivesse dedicado um pouco mais do seu tempo à leitura desse “monte de coisas”, quem sabe mais suave seria o senhor, que está sempre com esta carranca pálida, assustada, boca trancada – e provavelmente seca, fenômeno que acomete os que ficam ansiosos ao falar em público. A leitura transmite conhecimento. O conhecimento ajuda a pensar. E quem aprende a pensar através dos livros aprende a se expressar com facilidade, coisa que o senhor não faz porque viu nos livros apenas “um monte de coisas”.

Os livros, senhor Jair, não plantam “apenas militância”, como o senhor disse aos repórteres. Eles plantam também princípios, conceitos filosóficos que ajudam na formação do pensamento e, principalmente, ajudam os homens públicos a desenvolver, a partir deles, empatia com o seu povo, tornando-o mais sensível às questões da população. 

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Tivesse o senhor lido um pouco mais desse “montão de coisas”, e teria o senhor, sim, se suavizado a ponto de conhecer os sentimentos que devem guiar um dirigente. E se o senhor não quer, a esta altura da vida (a exemplo do ex-presidente Lula da Silva, que aproveitou o período em que esteve preso, para que o senhor chegasse aí, para ler História do Brasil e outras leituras), nem olhar para os livros, que se olhe no espelho. 

Aí sim, estará diante do que precisa ser suavizado. Para mim, pouco importa se o fará ou não. O senhor não me representa. Mas pelo menos para não tornar o dia-a-dia do país tão indigesto.

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