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Valter Pomar

Historiador e integrante da Direção Nacional do PT

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Lula não quer "remoer"! Nem nós!!

"Nada de "remoer". Tem que agir", escreve Valter Pomar

Lula em entrevista com Kennedy Alencar (Foto: Ricardo Stuckert)
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Lula deu uma longa entrevista para Kennedy Alencar. A íntegra da entrevista está aqui: É Notícia: Entrevista com o presidente Lula (27/02/24) | Completo (youtube.com).

A entrevista de Lula gerou ampla repercussão. Na direita, o que mais causou polêmica foi Lula reafirmar a condenação do genocídio que Israel está praticando na Palestina. Mais detalhes, aqui: Valter Pomar: Sabino e a "comparação".

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Na esquerda, o que parece ter causado mais polêmica foi uma declaração de Lula sobre os 60 anos do golpe militar de 1964. A declaração em síntese-muito-sintética foi a seguinte: “o que eu não posso é não tocar a história pra frente, ficar remoendo sempre, remoendo sempre”.

Vamos combinar: ninguém gosta de ficar “remoendo sempre”. Remoer & sempre é coisa de quem não tem alternativa melhor. Não é o nosso caso, não é o caso de Lula. Temos os meios, podemos e devemos fazer muita coisa acerca da chamada questão militar.

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Por exemplo:

*demonstrando na prática que, através do mais amplo exercício das liberdades democráticas, o povo pode conquistar uma vida melhor.

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Sobre isso, Lula fala na entrevista, concordemos ou não com as medidas citadas.

*combatendo os golpistas aqui e agora, por exemplo tirando eles dos postos de comando, submetendo a julgamento, condenando e prendendo.

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Sobre isso, Lula também fala na entrevista, na linha de que em “nenhum momento da história desse país os militares foram punidos como estão sendo agora” e “todos que foram provados e todos que provarem que participaram serão julgados, serão punidos”.

*pondo as forças armadas no seu devido lugar, ou seja, a defesa da soberania nacional contra inimigos externos.

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Sobre isso, Lula fala na entrevista, na linha de que “estamos tentando reconstruir a civilidade nas forças armadas” e de que “Múcio tem feito um trabalho, sabe… adequado”.

*desligando o programa de lavagem cerebral, instalado desde o golpe de1964 em todas as escolas de formação de oficiais.

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Sobre isso acima, Lula não fala absolutamente nada na entrevista.

De pouco adianta não comemorar o primeiro de abril nas cerimônias, mas continuar ensinando aos soldados que o golpe e a ditadura teriam salvo o país do comunismo. E o fato é que, nos quartéis, seguem ensinando antigas lições e formando legiões de futuros bolsonaros, helenos, pazzuelos, mourões, cids e bragas netos.

Daí ser me engana que eu não gosto dizer que “os generais que estão hoje no poder eram criança naquele tempo, (...) alguns acho que não tinham nem nascido ainda naquele tempo”.

O golpismo nas forças armadas não é individual, é institucionalizado. As forças armadas contribuíram decisivamente, ao longo de boa parte da nossa história, para bloquear processos que pudessem transformar o Brasil em benefício da grande maioria de nosso povo.

Por isso existe um fio que liga 1945, 1954, 1964, 2016, 2018 e 2023.

Se queremos que esta história não se repita, não podemos mesmo ficar “remoendo” o assunto. Muito menos deixar que mister Múcio seja régua do que seria “adequado” no trato com as forças armadas.

Precisamos tomar mais e melhores medidas, desde alterações no artigo 142 até mudanças no currículo das escolas militares, passando por nomear um ministro da Defesa que não seja nem cúmplice dos golpistas, tampouco representante dos militares junto ao governo. Sem esquecer das indispensáveis medidas de memória, verdade e justiça!

Ou é isso, ou ali na frente vamos ver de novo as forças armadas agindo como braço forte e mão amiga dos que bloqueiam as mudanças estruturais indispensáveis para fazer do Brasil um país desenvolvido, com soberania, bem-estar e liberdades.

Por isso, nada de "remoer". Tem que agir.

Abaixo a íntegra dos trechos da entrevista citada

Kennedy Alencar perguntou:

Presidente, eu quero falar de economia com o senhor, política industrial, as perspectivas por ano, mas nessa questão da democracia o senhor mesmo disse que o senhor é um filho da democracia. “A Hora da Verdade”, a operação da polícia federal, ela mostrou um envolvimento muito grande de militares na tentativa de golpe e a gente viu voltar a circular na praça a tese de que o golpe não aconteceu porque havia legalistas no alto comando. Esses legalistas no dia 30 de outubro de 2022 viram no resultado da eleição a vitória do senhor. Toleraram e protegeram o acampamento golpista até 8 de janeiro, estavam esperando o que, né? O Múcio, ministro da Defesa José Múcio, aplica uma estratégia de acomodação com os militares. Pergunto pro senhor: essa estratégia não tá errada? Esses militares não têm que ser punidos? Que legalistas são esses que toleravam o acampamento golpista até 8 de janeiro, presidente?

Lula respondeu:

Primeiro, vamos ser franco: nenhum momento da história desse país os militares foram punidos como estão sendo agora. Nenhum! Lembre algum momento em que general foi chamado pela polícia federal pra prestar depoimento? Coronel, todos que foram provados e todos que provarem que participaram serão julgados, serão punidos. Não fique preocupado com isso. O que você não pode é o seguinte: é que nós fomos procurar nas Forças Armadas as pessoas para exercer o comando, as pessoas que não estavam comprometido com isso, tá? Eu tinha assistido o discurso do general Tomás uns dias antes, que eu achei extraordinário o discurso dele sobre a questão da política, por isso que ele veio a assumir o comando do exército, sabe? E assim vale pro Múcio, assim vale pro Damasceno. São pessoas que não estavam envolvidas com o bolsonarismo, que estavam com independência, sabe? Subordinado aos comandantes da época. Todos foram afastados e nós agora estamos tentando reconstruir a civilidade nas forças armadas. Eu fico imaginando… Eu fiquei sabendo de uma notícia ontem que um cidadão coronel, que mora em Campinas num apartamento tinha uma quantidade de munição, uma quantidade de arma que explodiu dentro da casa dele, ou seja, colocando em risco o prédio todo. A minha pergunta é a seguinte: que grau de responsabilidade tem uma pessoa que tem a patente de coronel do exército brasileiro para colecionar a quantidade de arma dentro de casa. O que ele queria com armas e munição? A serviço de quem que ele tava? A quem que ele queria fazer bem? Não pode. Então, deixa eu lhe falar: eu estou convencido que nós estamos no caminho certo. Estou convencido que o Múcio tem feito um trabalho, sabe… Adequado. Ou seja, nós precisamos aproximar… A sociedade brasileira e as forças armadas não pode se tratar a vida inteira como se fossem inimigas. As forças armadas têm um papel, o papel deles é constitucional, eu valorizo isso quando eu fui presidente da outra vez e valorizo isso agora. Eles têm que cumprir a constituição deles, eles têm que garantir a soberania nacional, eles têm que garantir a soberania do espaço aéreo, a nossa soberania da nossa riqueza mineral, a soberania da nossa floresta, nosso rio e cuidar do nosso povo. É isso que é o papel das forças armadas e é isso que eles vão fazer, e é isso que o Zé Múcio está cuidando de fazer com que aconteça no Brasil.

Kennedy Alencar perguntou:

Quero uma palavra do senhor sobre os 60 anos do golpe de 64. O general Tomás Paiva falou para não ter celebração nos quartéis. Muita gente fala “que beleza, um avanço”. Ora, deveria haver um mea culpa, porque eles acabaram com a democracia durante 21 anos. Pergunto: o seu governo, o senhor fez um ato em 8 de janeiro de memória sobre o ato de 2023 para que nunca mais se repita. 60 anos de golpe militar, como que o senhor vai tratar essa questão?

Lula respondeu:

Eu sinceramente vou tratar da forma mais tranquila possível. Eu to mais preocupado com o golpe de janeiro de 2023 do que com 64. Eu tinha 17 anos de idade, tava dentro da metalúrgica Independência quando aconteceu o golpe de 64. Isso já faz parte da história, já causou sofrimento que causou, o povo já conquistou o direito de democratizar esse país, sabe? Os generais que estão hoje no poder eram criança naquele tempo, sabe? Alguns acho que não tinham nem nascido ainda naquele tempo. Então o que eu não posso é não tocar a história pra frente, ficar remoendo sempre, remoendo sempre. Ou seja, é uma parte da história do Brasil que a gente ainda não tem todas as informações porque tem gente desaparecida ainda, porque tem gente que isso pode se apurar, mas eu sinceramente eu não vou ficar me remoendo e eu vou tentar tocar esse país pra frente. Eu tenho um compromisso de voltar a fazer esse país crescer

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