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Neto Tavares

Formado em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco. Advogado com ênfase em Direito Constitucional

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Macron e a demagogia do perdão da dívida africana

É inegável, nesse sentido, o talento político de Macron e a demagogia que lhe é intrínseca, mudando de tom em relação às alocuções precedentes, adotando desta vez uma postura humilde ao reconhecer, por exemplo, erros no tocante ao combate da epidemia na França (medidas tardias, falta de material e testes, hospitais saturados etc.)

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Durante seu último pronunciamento (13/04) em rede nacional, o Presidente francês proferiu um anúncio surpreendente: “Nós devemos ajudar, igualmente, nossos vizinhos africanos a lutar contra o vírus de forma mais eficaz, ajudá-los também no plano econômico, anulando massivamente a dívida deles.” 

Ao passo que a pandemia ameaça com a possível saturação dos frágeis sistemas de saúde dos países mais pobres, Macron incitou os ministros incumbidos das finanças dos países do G20, que se reúnem nesta quarta (15/04), a porem em prática uma moratória sobre a dívida dos países da África, de acordo com a AFP (Agência Francesa de Imprensa).  

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É inegável, nesse sentido, o talento político de Macron e a demagogia que lhe é intrínseca, mudando de tom em relação às alocuções precedentes, adotando desta vez uma postura humilde ao reconhecer, por exemplo, erros no tocante ao combate da epidemia na França (medidas tardias, falta de material e testes, hospitais saturados etc.). O Presidente, assim, saiu bem na fita, mas claro que para os ingênuos e desavisados ou maus-caracteres. 

Importante notar que essa “generosidade calculada” (Libération) tem efeito de anúncio, uma vez que a China é credora de boa parte da dívida africana (em torno de 40%). De que forma, portanto, Macron poderia anular uma dívida da qual o seu país não é, em grande medida, credor? Ponto para a tal demagogia macroniana. 

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Seu pronunciamento em relação à África intenta, talvez, pressionar Pequim a entrar no jogo do Clube de Paris, onde há mais de dois anos são discutidas e negociadas as dívidas africanas, e do qual o país asiático, nesse interregno, é tão somente um mero observador. 

Segundo Franck Hermann Ekra, analista político marfinense, a última alocução do Presidente francês é “uma antecipação do mundo de depois”. E continua: “Tem-se o sentimento de que Macron tenta colocar mais uma vez a mão na África, relembrando, implicitamente, o destino universalista da França. E de imediato, por trás da máscara da generosidade, o Presidente se direciona aos franceses bem mais do que aos povos africanos. Como se quisesse sublinhar que a França passou para o lado dos que cuidam, com um chefe de Estado que, de um discurso a outro, muda de uniforme; primeiro o de um general de guerra para, em seguida, vestir o jaleco do chefe médico.”   

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O “monsieur” Presidente francês e sua querida União Europeia já em frangalhos esqueceram-se de um importante detalhe: antes de perdoarem a dívida financeira africana, são eles que devem pedir perdão pela dívida incalculável que eles contraíram com o mais antigo continente do planeta, fonte criadora dos povos. São séculos de abusos e espoliações, estupros e miséria gerados pelo velho continente. Genocídios, tráfico de humanos, cisão de tribos e culturas inteiras. Muito da miséria africana, é sabido, vem do vírus Capitalismo-Colonizador-Europeu. Um dos mais mortíferos da história humana. Difícil saber se a África terá, um dia, imunidade e sobretudo soberania para combater essa praga que não cessa de arruinar a sua saúde, impedindo esse pedaço de mundo dos mais importantes a viver, de uma vez por todas, plena e livremente. 

“Dividir e reinar só poderia nos separar 

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