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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Mídia ignora crimes de Moro e cede espaço ao PT para pavimentar impeachment

"Tradicionalmente o PT está à frente da luta pela preservação da democracia e em defesa dos direitos constitucionais. Certamente não irá se submeter ao papel de coadjuvante", escreve a jornalista Denise Assis

(Foto: Agência Brasil)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

Moro ficou no cargo de ministro da Justiça o tempo que lhe foi benéfico. Neste período, enfronhou-se com todos os temas (sigilosos ou não), do governo, participou de estratégias e, o principal: concordou com o que estava sendo feito e calou-se. 

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Todos se lembram da revolta dos policiais do Ceará, movimento liderado por milicianos infiltrados nas fileiras da Polícia local, em que ele tomou posição ao lado dos revoltosos, numa atitude totalmente contrária ao cargo, ao bom senso e aos princípios constitucionais. 

Nos lembraremos, sempre, também, do Moro humilhado, sendo levado pela coleira por Bolsonaro a um estádio de futebol, somente para que ficassem registradas imagens de apoio ao ministro que se caísse “acabaria o seu governo”, como alertou o cão de guarda Augusto Heleno. 

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Por tudo isto, fica muito difícil aceitar que Moro agora seja transformado em soldado de artilharia pró impeachment. Herói da moralidade, que veio para unir os segmentos progressistas em torno da ideia de tirar Bolsonaro do poder. Eu quero, vocês querem, todos queremos. Não por mero capricho. Mas por ter ele esgotado todo o repertório dos crimes de responsabilidade previstos no Código. E, independente de pandemia, a Lei é para ser cumprida. Sendo conveniente ao momento ou não. Mas não sob a batuta de Sergio Moro.

Imaginem se um pai assassinou a mulher na frente dos cinco filhos, é pego em flagrante, com a faca suja de sangue na mão, mas a Polícia chamada e presente ao local decide que não convém levá-lo porque alguém tem de cuidar das crianças. É mais ou menos ao que estamos assistindo no momento. Bolsonaro pinta e borda, mas não é enquadrado num processo de impeachment porque estamos enfrentando uma pandemia.

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Não. Não a estamos enfrentando. Estão aí os números que não nos deixam mentir. E exatamente por isto ele tem de sair logo. Mas não vamos aqui chover no molhado. O que há de novo é a celeridade com que o ministro Celso de Mello toca as investigações que poderão encurtar o caminho. O de denunciar Bolsonaro por crime e, submetido à Câmara o pedido de licença para processá-lo, assistirmos ao seu afastamento por 180 dias, até o julgamento final. 

O cuidado a ser tomado neste cenário, no entanto, é o de perseguirmos, sim, o propósito de interromper as loucuras de Bolsonaro sem, contudo, dar oportunidade ao ex-juiz Sergio Moro de ficar sob o canhão de luz na ribalta. Não lhe cai bem este papel. Por tudo o que sabemos de sua trajetória. 

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Moro chegou lá a bordo de um enredo digno de um folhetim de quinta. Trapaceando, vazando materiais exclusivos para a mídia, destruindo empresas sólidas, ceifando milhões de empregos país a fora e trocando a eleição praticamente garantida do ex-presidente Lula, pelo cargo de onde agora foi apeado e de onde pensou, jamais seria destronado. Ninguém joga 22 anos de previdência para o alto, na perspectiva de sair derrotado, sem levar nada. 

Sergio Moro arriscou tudo e não é homem de sair por baixo. As oito horas que passou entre os seus, em Curitiba, comendo pizza, certamente foram embaladas por muitos áudios, gravações e “prints” de celular e dossiês comprometedores. Cabe aos que estão no comando das investigações – fora de Curitiba – manter um olho no padre e outro na missa. Apurar, sim, as denúncias levadas por ele, mas sem perder de vista que ao se calar Moro foi conivente e prevaricou. Ao pedir pensão sem direito a ela incorreu em crime. As responsabilidades precisam ser apuradas.

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Com tudo isto o que se vê no horizonte é a mudança do comportamento da mídia, que já não suportando as transgressões de Bolsonaro, a quem apoiou para não permitir mais uma vitória do PT, se agarra a Moro para livrar-se do fascista. Nem que para isto tenha de abrir espaço para Lula, Dilma e Haddad. 

A mídia hegemônica já entendeu que o PT, a despeito da perseguição desenfreada empreendida durante quatro anos, contra o partido, é uma força agora indispensável para fazer o serviço de desalojar Bolsonaro do Planalto. Enquanto alivia Moro, no noticiário, estimula o Partido dos Trabalhadores a puxar a luta para a derrubada de Bolsonaro. (E nem precisa. Esta é uma bandeira da esquerda). A estratégia ficou patente no espaço concedido a Haddad, em um dos seus canais. Vão precisar do Partido como “força-tarefa” para convencer a opinião pública e liderar as manifestações seja lá pelo meio que for, em dias de quarentena. Sabe que o partido é criativo, é resistente, é organizado. Mas, acima de tudo, costuma puxar pautas como esta, e não ficar a reboque das conveniências de Sergio Moro. Tradicionalmente o PT está à frente da luta pela preservação da democracia e em defesa dos direitos constitucionais. Certamente não irá se submeter ao papel de coadjuvante.

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