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REBELIÃO
E, quando comiam, tomou o pão, o partiu, o deu aos camaradas, e disse: tomai, comei, isto é uma expropriação.
FUMAÇA
- Pensava nela: um suspiro, uma tragada.
- O legista disse que os pulmões eram duas peneiras.
DANTE
Foi me jogando pra baixo, pra baixo, pra baixo. E agora, como sai aqui do inferno?
CANA
A cachaça o fazia cair de cara no chão. Passou a beber na cama.
CONFLITO
Poderia dizer-se que viviam em pé-de-guerra. Se ainda tivessem os pés.
TOMOS
Um microconto encontrou um romance. A obra o olhou de cima para baixo, com empáfia. Ao notar o pedantismo do colega, a mininarrativa disse:
- O que foi? Você é grande, mas não é dois volumes.
SER, ESTAR, ETC
Pensava na vida quando o avião passou e cobriu o sol. Um segundo, mas entendeu o que era não existir.
TÚNEL
No metrô se sentou ao lado da moça de minissaia. Comeu-a com os olhos. Ela virou o pescoço e mirou a escuridão do túnel. Ficou por isso mesmo.
FUTUM
O hábito teve início na pandemia: não tomava mais banho. A mania começara com banhos alternados, dia sim, dia não. Depois foi ficando mais radical, uma chuveirada rápida a cada 15 dias. Até que se cristalizou numa abstenção total de qualquer forma de higienização. Passados quatro meses, Fido, o gato de estimação, abandonou o lar.
Mesmo assim, ele continuava passando longe da água e do sabonete. Ao completar um ano e meio de desasseio, o sobrado, a pedido da vizinhança, foi interditado pela Prefeitura. Acharam-no, de borco, em cima do sofá. Virara bolor.
SEM TÍTULO
Um redator de publicidade. Uma madrugada. Um anúncio para entregar urgente. Um caixa de pizza vazia. Uma lata de Coca zero amassada. Uma tela de laptop em branco. Uma folha de Word em branco.
SENHORA
Mana, usei aquele preenchedor de rugas que você me indicou. O da dermato lá de São Paulo. Tô feito pinto no lixo de alegria. Fechou a cara toda, menina! Me diz uma coisa: como faz pra virar influencer?
NA CAMA
- Tossindo?
- Bastante.
- Febre?
- Não medi, mas tô meio quente.
- E o paladar?
- Tá bom.
- Mas sente gostos, cheiros?
- Médio.
- Diminuiu a sensação de gostos, de cheiros então?
- Um pouco.
- Come essa mexerica.
- Tá.
- ...
- ...
- Sentiu o gosto?
- Não.
- Nada?
- Não.
- Cheira teus dedos.
- ...
- Sentiu?
- Humm, cheiro nenhum.
- Certo. Tira a roupa, mas não me beija.
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