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Paulo Roberto Andel

Estatístico, escritor, autor e coautor de 26 livros sobre esportes, crônicas, Rio de Janeiro, política, humor e poesia

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Moro e Bolsonaro: farinha e pirão

Não cabe a menor desculpa a quem quer que seja para justificar a presença ao lado de uma criatura como Jair Bolsonaro. Sergio Moro chegou credenciado à República da Barra Pesada, ao intervir diretamente no curso das eleições brasileiras, condenando Lula num processo que remete à barbárie - e sendo convidado para o Governo antes da eleição

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O maior desafio de escrever neste espaço que muito me honra é conseguir ser minimamente atual. Hoje mesmo acordei embasbacado (mas nem tanto) com a notícia de que Donald Trump, o Bozo estadunidense, cogitou injeções de desinfetante para combater o vírus Covid19, mas já sabia que o Brasil 2020, versão piorada do trambolhão em que nos metemos desde o golpe de 2016, não frustraria os maníacos por barbaridades. 

Não cabe a menor desculpa a quem quer que seja para justificar a presença ao lado de uma criatura como Jair Bolsonaro. Sergio Moro chegou credenciado à República da Barra Pesada, ao intervir diretamente no curso das eleições brasileiras, condenando Lula num processo que remete à barbárie - e sendo convidado para o Governo antes da eleição, o que no mínimo lhe coloca sob suspeição. Foi a mão amiga de Moro que abriu as trilhas para a vitória da RBP. Queridinho da mídia, protegido da Globo, verdadeiro gato angorá (não confundir com Wellington Moreira Franco) do neoliberalismo, deixou o exercício da magistratura seletiva (Banestado, Farsa Jato) e caiu como o camisa dez do, digamos, time. Chegando ao clube, sabia muito bem quem eram os dirigentes. 

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O senso de justiça do ex-ministro nunca deixou de causar desconfianças bem antes da Farsa Jato, vide o escândalo do Banestado. Já no Governo, fez cara de paisagem para as investigações do Caso Marielle. Nunca deu o menor sinal de se incomodar com os diversos crimes de responsabilidade praticados por seu ex-chefe - e não foram poucos. É certo que já vinha se bicando com o ex-presidente em exercício, mas não abriu mão da pasta e assistiu passivamente a um carnaval de horrores. E o que dizer de Queiroz, rachadinhas, fake news etc? Foi uma estátua de Chopin na Praia Vermelha, com todo o respeito ao compositor, à natureza e à cor que atordoa os torcedores do Primitivismo. 

As informações dadas pelo ex-ministro em seu pronunciamento derradeiro na pasta são naturalmente graves, mas nenhuma delas causa nenhuma surpresa a quem esteja minimamente informado sobre os personagens envolvidos, muito menos a ele mesmo, que sabia de tudo e se manteve calado. Alguém que leia este portal tinha dúvidas de que Bolsonaro tentava interferir na Polícia Federal e onde mais lhe desse na telha, desde que fosse para proteger a si e sua cria? Não. Somente os habitantes do mundo de Pollyanna é que poderiam se surpreender com isso...

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Talvez, talvez a grande surpresa (mas nem tanta assim) possa ter sido Sergio Moro dizer publicamente sobre um apoio financeiro que teria exigido por conta de ter largado seus 22 anos na magistratura. Não ficou claro em seu pronunciamento sobre que fonte de apoio seria essa e qual o seu amparo legal. Não é Mensalão, não é Petrolão mas é Ministrão? Como assim? 

Enfim, o Brasil continua debaixo de situação caótica, o carnaval da morte está estampado em dezenas de milhares de valas abertas para o sepultamento das vítimas do Coronavírus, as pessoas sentem fome e sede nas filas dos bancos, os frigoríficos mortuárias estão lotados nos hospitais, vivemos tempos muito difíceis e será preciso muita coragem para superar esses desafios todos. Mas a manhã desta sexta-feira mostra que, no fim das contas, pensando, pensando bem, apesar da total afinidade do passado até recentemente, talvez Moro e Bolsonaro talvez não possam ser tachados no futuro como farinha do mesmo saco - afinal, a República da Barra Pesada é para poucos. Mas que são farinha e pirão, são - e não é um pedido de demissão que irá mudar a receita. Um especulador desastrado na Economia e um bando de desajustados mentais pregando terrraplanismo e macartismo entre citações do ideário nazista. Uma novela rota e medíocre, que faz entender a presença do pinguim de geladeira chamado Regina Duarte em seus quadros. Não, desculpe o engano: pinguim, você não merece isso!

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No fim, chega a ser irônico que Moro, tão acostumado a cercear, constranger e passar por cima da lei para agir de forma persecutória, deixe o ministério justamente por ser vítima de cerceamento. Beber do próprio veneno. Mas a melhor definição de tudo que aconteceu nesta manhã brasileira é do brilhante William de Luca na rede social Twitter: "A gente esperando um pedido de demissão e Sergio Moro nos presenteia com uma delação premiada". Irretocável.

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