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Adilson Roberto Gonçalves

Pesquisador científico em Campinas-SP

184 artigos

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Mulher e retrocessos

Com pautas retrógradas no Congresso e a criminalização da vítima, não há o que se comemorar no Dia Internacional da Mulher. No império do machismo e da hipocrisia, continuaremos não dando à mulher o direito a seu próprio corpo. No máximo, uma rosa embrulhada em folha de plástico

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Algumas considerações a notícias e textos jornalísticos publicados nos últimos meses. São na forma de cartas, não consideradas pelos redatores, divididas em parágrafos. Elas exprimem uma crítica à condição ainda inferior da mulher e aos retrocessos vividos nesses últimos tempos, mas também trazem algumas doces manifestações culturais.

Com pautas retrógradas no Congresso Nacional e a criminalização da vítima, não há o que se comemorar no Dia Internacional da Mulher. No império do machismo e da hipocrisia, continuaremos não dando à mulher o direito a seu próprio corpo. No máximo, uma rosa embrulhada em folha de plástico.

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No intuito de combater o que chama de ideologia, Carlos Alberto Di Franco quer impor outra, contrária à decisão da mulher de interromper a gravidez ("A agenda abortista", Correio Popular, 28/2). Primeiramente, que fique claro que a discussão é sobre descriminalizar o aborto que, juridicamente, é bem distinto de legalizar. Um pressupõe o incentivo a acontecer (legalizar); o outro é um instrumento de não imputação de crime, depois do fato ocorrido. Não há dúvidas de que a prática do aborto é traumática e os exemplos trazidos pelo articulista apenas reforçam que a decisão deve ficar com a mulher. Assim, também deve-se ver com cuidado as sondagens de opinião pública, pois a esmagadora maioria da população brasileira é cristã e nem por isso o Estado deveria deixar de ser laico. Ainda mais que já são muitos os retrocessos institucionalizados a que estamos sujeitos.

Somente Fernanda Torres para correlacionar a falta de dentes com a insaciedade literária ("Banguela", publicado na Ilustrada, Folha de S. Paulo, 26/2). Ainda que escrevendo Euclydes da Cunha sem o ípsolon (já re-estabelecido pela Folha neste sesquicentenário de nascimento do escritor-engenheiro), a musa nos ensina que livros mudam pessoas, mesmo alguém, como ela, de já nobre e profunda cultura. Que entendamos nosso país e suas entranhas para sabermos um pouco mais de nós mesmos, diminuindo a angústia destes áridos dias.

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"Hilda Hilst se transmuta em dança por meio de álbum de Zeca Balero" (Ilustrada, 23/1) é um alento para as artes, mostrando a possibilidade da tradução – ou transmutação – de versos da vivência em música refinada e esta em expressão corporal das mais íntimas. Que seja exemplo para interconexão das várias formas de expressão artística: imaginem as agruras da alma de Clarice Lispector na forma de balé clássico, ou as intermitências da morte de Saramago expressas como grafite em alguma obra arquitetônica. Conforto para tempos árduos de superficialidades e imediatismos.

No que pese o risco de arder em fogueira, Hélio Schwartsman foi magistral em suas considerações sobre os limites da ignorância de todos nós e a abrangência ilógica da fé de uns tantos ("A ciência do milagre" Folha de S. Paulo, 23/12). Em tempos de balanço e de introspecção, bem como de ódio político e re(tro)cesso parlamentar, é um texto que questiona com clareza o uso indiscriminado da ciência para fins espúrios. Pudera fosse lido também pelos que dele discordam.

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Em tempos áridos e incertos, a ganhadora do Jabuti Maria Valéria Rezende mostrou que a boa escrita se faz com textos diretos (Ilustrada, 5/12). Um belo e inspirador exemplo. Forte na postura e nas palavras, é significativo que o subtítulo na página eletrônica tenha-a chamado de "escritoura", um neologismo apropriado.

Sinceras e profundas as palavras de Fernanda Torres ("Aborto", Ilustrada, 27/11), alguém que fala com conhecimento de causa e que se tornou mulher. Ninguém quer fazer aborto. A questão é como proceder quando essa possibilidade é colocada, tanto em relação às causas tanto quanto às consequências. Como ela disse, havia um certo amadurecimento da discussão que foi abandonado com esse Congresso conservador que se instalou em Brasília. Se isso é um reflexo da sociedade brasileira ou se é o movimento de interesses escusos, não importa. O que devemos fazer é fomentar a discussão, usando as palavras balizadas dessa musa inspiradora e de tantas outras que militam para defender não apenas seus corpos, mas a evolução do que entendemos como viver em sociedade.

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É notório o retrocesso social e político pelo qual passamos e a provável aprovação do PL 5069/2013 é o exemplo mais emblemático. No momento em que a discussão poderia evoluir para definir melhor o direito irrestrito ao aborto, o que se quer é a estatização do útero, uma ingerência ainda maior no corpo da cidadã. A regra, mais uma vez, é a de culpar a vítima.

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