Música contra a destruição do Brasil
Um dos melhores álbuns musicais do ano passado - e da década - foi lançado de maneira discreta e independente. Sua importância não está somente no campo musical/artístico, mas também como uma legítima declaração política e de denúncia: trata-se de "Lágrimas", projeto de Lucas Bueno e Paulo César Feital, disponível em CD e nas plataformas digitais
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Em tempos inusitados de crença terraplanista, homofobia, ódio de classes, intolerância, censura e todos os outros desatinos que se vê no cotidiano brasileiro, ao menos a arte pulsa, vibra e mostra seu valor como digna expressão do nosso país antes da tragédia nas eleições de 2018.
Um dos melhores álbuns musicais do ano passado - e da década - foi lançado de maneira discreta e independente. Sua importância não está somente no campo musical/artístico, mas também como uma legítima declaração política e de denúncia: trata-se de "Lágrimas", projeto de Lucas Bueno e Paulo César Feital, disponível em CD e nas plataformas digitais.
Essencialmente um álbum de samba e suas variações dentro da tradição musical brasileira, "Lágrimas" é a junção da juventude de Lucas - que toca e canta com sabores de um passado marcante, capaz de remeter a nomes como Silvio Caldas e Orlando Silva - à poesia de Paulo César - poeta decano da MPB com inúmeros parceiros e serviços prestados à arte do Brasil. A mistura do novo com o veterano deu lugar a um rosário de canções que falam do Rio e do Brasil com doçura, firmeza e contestação. As letras falam da miséria, da violência, da opressão do povo sofrido, da ditadura, mas também celebram nomes como os de Darcy Ribeiro, Clementina de Jesus, Áurea Martins, Cartola, Noel Rosa e outros.
Uma das canções merece destaque até por involuntariamente ter ressuscitado os abomináveis tempos da ditadura militar, tão celebrados pelos inimigos dos livros: "É foda, é foda, pensar tá proibido, meu irmão/ É foda, é foda/ Assassinaram a Constituição" já recebeu orientações para a troca da letra de modo a poder ser executada publicamente.
Com participações especiais de Nina Wirtti, Cláudio Nucci, Moyseis Marques, Vidal Assis e Soraya Ravenle, "Lágrimas" é uma audição fundamental para os que procuram pela boa música brasileira e também tenham compromisso com as causas populares. Merece ser ouvido de ponta a ponta, não somente como um álbum de canções ou um manifesto musical, mas também como a luta por um país que merecemos ter, bem diferente deste amontoado de grosserias vistas diariamente na política nacional.
Para terminar, o primor de projeto gráfico e de capa realizado por Gabriel Caymmi, que captura perfeitamente a linha de "Lágrimas".
É um álbum musical, mas se fosse um livro certamente incomodaria a quem se orgulhar em ter dificuldades com muita coisa escrita. Melhor dizendo, talvez nem incomodasse: sua sofisticação não cabe em mentes primitivas.
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