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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

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Na sociedade do charlatanismo negar culpa ficou fácil

Temer certamente sonha que é um caudilho e que na última hora seus seguidores o salvarão. Já teve que desmarcar o rega bofe de domingo -21.5.17- à noite com os 'seus'. Furaram, ninguém foi. Por outro lado, é claro que a última pessoa que se pode confiar no Brasil é aquela conhecida como 'político'. Ele trai a mãe se tiver a promessa de benefícios na reeleição, e o pai na eleição

Presidente Michel Temer faz pronunciamento no Palácio do Planalto. 18/05/2017 REUTERS/Ueslei Marcelino (Foto: Jean Menezes de Aguiar)
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Kant ensina que uma transgressão involuntária mas imputável chama-se 'culpa'. Já uma transgressão voluntária, sabida, chama-se delito.

Na sociedade em que charlatões e suas empresas religiosas ficam milionários na TV e em todo lugar por aí, em público, e a polícia e o Estado, sabem e não fazem nada, negar culpa passou a ser fácil. Basta afirmar inocência com firmeza, indignação e sisudez. Tudo com cara de indignação.

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Sempre haverá crédulos e incautos que simplesmente 'crerão', essa atividade humana quase-orgásmica. E assassina.

A situação de Michel Temer e Aécio Neves só não é ridícula e patética porque eles seguem com o poder de gerar dano. Mas não só eles, claro. Todos os políticos envolvidos até o pescoço com dinheiro ilícito que, ante delações e provas simplesmente sustentam: é mentira.

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O que pretendo discutir aqui nem é a culpa ou não. Formalistas do mundo jurídico – ou cínicos profissionais – quererão que se aguarde o 'devido processo legal', com cognição exauriente, provas e todos os longuíssimos anos que estes 'preciosismos' exigem.

Em condições normais, o Direito é a resposta. Óbvio que é. Ninguém pode ser acusado irresponsavelmente e sem provas. O processo penal tem natureza jurídica de 'garantia' ao réu.

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Mas quando se trata de um 'flagrante', de uma gravação, de um filme e provas que não precisam de explicação, a situação – mesmo no Direito, e principalmente no Direito!- muda. Por isso se inventou esse método, até discutível, de prisão após a segunda instância. Há também as prisões cautelares e outras respostas a evidências cabais e flagrantes.

Defensores de Temer – agora totalmente enrustidos-, tentam usar a regularidade da 'culpa só após sentença transitada em julgado' para cobrar isenção, calma, serenidade com 'acusações'. Só que nesta situação completamente safada, antiética, mas principalmente flagrancial.

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Ninguém mais que o próprio Temer se acusou inequivocamente de prática de crimes. No plural.

O que se está lendo na imprensa é uma mera consequência de o que Temer fez com Temer. Ele que assumisse sua responsabilidade e culpa.

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Mas, neste Brasil-crente em que exorcismos são desmascarados e bolsões de crédulos continuam a seguir o exorcizador televisivo e a enriquecê-lo; neste Brasil-crente em que os mesmos bolsões votam em que seu mestre mandar, negar a culpa passou a ser tarefa 'moleza'.

À bravata de Temer "Não renuncio; se quiserem, me derrubem", cabem respostas do povo. Do tipo – ok senhor presidente, isso não é difícil com a estapafurdice que vossa senhoria fez com essa mesma senhoria. A Cesar o que é de Cesar! O 'senhor' desafia pelo derrubamento? Pela derrubagem? Que venha o morro abaixo para a sua pessoa.

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Temer certamente sonha que é um caudilho e que na última hora seus seguidores o salvarão. Já teve que desmarcar o rega bofe de domingo -21.5.17- à noite com os 'seus'. Furaram, ninguém foi.

Por outro lado, é claro que a última pessoa que se pode confiar no Brasil é aquela conhecida como 'político'. Ele trai a mãe se tiver a promessa de benefícios na reeleição, e o pai na eleição.

Assim, há um paradoxo – O povo espera que a classe política abandone o barco de Temer e tenha um mínimo de compostura e honradez. Um mínimo que seja. Mas Temer sabe da possibilidade safádica do político brasileiro, essa sua falta de caráter antropológica que a História tanto mostra. E conta com isso. Só precisa ter o que oferecer a esse político, e estará salvo. Seu cálculo não está errado.

Enquanto se mantiver formalmente como presidente, tem o que oferecer. E este deve ser o desespero do povo lúcido.

Já Aécio enveredou pelo mesmo caminho. Em artigo na Folha -22.5.17-, se diz 'indignado' – ô dó...; fala em 'família' – termo preconceituoso que emociona preconceituosos neste Brasil-crente, e, como se sua voz não estivesse 'na fita', literalmente, diz que provará sua verdade.

'Cola?' Infelizmente cola. No campo fora de sua oposição política, para os emotivistas, crédulos e 'simpatizantes' com o bom-rapaz-mineiro qualquer coisa bem estruturada 'cola'.

No artigo da Folha Aécio se aproxima de Temer, como se Temer pudesse lhe ser uma fonte de proteção. Mas isto é assim mesmo. Os mamíferos da mesma espécie se abraçam e se aquecem.

Talvez o que esteja em pauta nem mais seja um conceito comum de 'ética'. Mas a proposta do nosso maldito-favorito Nietzsche com seu imoralismo relativizado, ao qual passou a criticar a moral corrente, para perceber nela o egoísmo e a hipocrisia, fundando uma nova tábua de valores. Aí entrava em cena um conceito de potência hedonista, a única que parece interessar a esses jactanciosos Temer e a Aécio.

Tire o poder dessas criaturas e o que sobra?

As 'ruas' voltaram a ser cruciais para a situação. E cruciante para Temer. Que as ruas não cessem, seus transtornos não parem, e o país saiba dar uma resposta ética à desfaçatez.

Esta pode ser uma ótima oportunidade ética de o país se lavar nessa água gelada, mas com algum orgulho, choroso que seja, pelo destino criminoso dessa infinita gente política espertalhona.

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