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Alex Saratt

Alex Saratt, professor de História nas redes públicas municipal e estadual em Taquara/RS e dirigente sindical do Cpers/Sindicato.

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Notas sobre a luta política na pandemia

A Frente Ampla - democrática e de salvação nacional - é um imperativo categórico de máxima urgência. Ou, como no título do livro de Inácio Loyola Brandão, “não verás país nenhum"

Experiências de Frente Ampla no mundo e no Brasil
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Por Alex Saratt e Igor Pereira*

Como está montada a arena política no Brasil no quadro de crise simultânea da economia, radicalização política e pandemia? 

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Quem são os personagens, sejam aliados ou adversários? Em um canto do ringue para defender a faixa presidencial obviamente temos Bolsonaro e um bloco relativamente homogêneo, porém instável.

Mas quem o desafia? A lista é grande. Inclui elementos de seu próprio governo, no caso o Ministro da Saúde, passando por governadores, parte da imprensa, Supremo Tribunal Federal, 

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Congresso Nacional e partidos de oposição.
Salienta-se no quadro atual o duelo travado entre os extremistas de direita contra uma direita mais moderada e tradicional e é sobre esse aspecto que procuraremos nos deter. Afinal, quais os significados dessa disputa? Para onde ela aponta?

Deixemos a crise econômica – o PIBinho, o dólar, a balança comercial e o desemprego – para uma outra reflexão. Nos interessa abordar a diferença entre Bolsonaro e seus adversários sobre o que fazer diante da pandemia, particularmente o embate dado no campo conservador, fato notável, distinto e cheio de nuances.

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Nesse sentido, o presidente parece isolado. Será? O capitão sequer possui um partido. Saiu do PSL e não conseguiu formalizar o seu "Aliança pelo Brasil". É justamente isso que reforça sua narrativa. Ele é o antissistema: veste um personagem de não ser um político tradicional, em meio a um sistema político cuja credibilidade foi estraçalhada e pode estar abaixo de zero. Sendo "fora do sistema", se conecta diretamente com seu eleitorado. Pesquisas de opinião pós pandemia colocam sua aprovação em 30%, o que está longe de um desempenho ruim. Ele contempla o desejo de uma em cada três pessoas que querem sair do isolamento e voltar a atividade econômica e social. Esse é seu principal motor e ativo nesse momento.

Deve ser observado o comportamento do empresariado - reunido nas suas entidades de classe ou de modo individual – que pressiona por intervenção financeira do Estado, pela redução das obrigações trabalhistas e pelo relaxamento das normas de isolamento social e suspensão de atividades econômicas. Parte do Capital ainda oferece sustento ao Governo Bolsonaro e espera colher dividendos da situação.

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O Presidente é precavido e mostra seus dotes de raposa política: ora ameniza o discurso ostensivo e anuncia medidas econômicas e sanitárias que acompanham as ações realizadas em outros países, ora – pessoalmente ou através do “gabinete do ódio” – ataca as premissas científicas, as iniciativas dos desafetos políticos, a Mídia, a China, enfim, os inimigos reais ou imaginários que se opõe ao seu projeto de poder.
Essa duplicidade ou dubiedade não é espontânea, aleatória ou equívoca, antes parece ser parte de uma estratégia de mobilização, blindagem e disputa de narrativa e constituição de uma nova hegemonia.

Sua força consiste numa ideia que está hoje na cabeça de um terço dos brasileiros. A ideia de que a política e a institucionalidade tradicional fracassou e é incapaz de responder às urgências. Pandemia? Isolamento? Por que acreditar nisso? 

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Um vírus não é visível. Mas as contas para pagar sim. E quando se desacredita nas instituições, a desobediência é o próximo passo. Ainda mais quando se tem uma voz na presidência a estimular esse comportamento. Bolsonaro estimula os desejos. É claro que todos desejam sair do isolamento. Ele sabe disso e continua dizendo o que as pessoas querem ouvir. Sua voz semeia o caos e a tragédia por que manipula sentimentos reais e legítimos.

Do outro lado, argumentos científicos, técnicos, articulação do mundo político tradicional organizado em partidos, mídia televisiva, escrita e falada. Nada disso o parece demover nem tampouco derreter sua base social. No Sábado de Aleluia, centenas de manifestantes ignoraram todo o bom senso para gritar um improvável “Fora Dória, China e Globo” em plena Avenida Paulista. A explosiva combinação de uma elite escravocrata com uma multidão de precarizados parece ser um caldo altamente resistente à Ciência e às instituições que Bolsonaro tem conseguido reunir em torno de si.

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As oposições não encontraram-se ainda num ponto de convergência, unidade e projeto. Na Direita tradicional – o establishment – despontam o PSDB com Dória, o Presidente da Câmara Rodrigo Maia e, num plano secundário, o Governador do RJ Witzel, além do surpreendente Ministro da Saúde Mandetta. Alia-se a eles a Rede Globo, os jornalões e revistas de circulação nacional e, pontualmente, o Judiciário não-lavajatista. Protagonizam linha de divergência com as ordens advindas desde o Planalto e tem vida própria.

À Esquerda, poucos espaços: governos estaduais de menor expressão não tem meios para dar ênfase aos seus feitos e opiniões e o Parlamento é trincheira com poder de fogo limitado, responsável por importantes ações contra a pandemia mas que não foram suficientemente acumuladas. Curiosamente, a Esquerda padece de ironia: nos tempos dos governos progressistas, o Movimento Social tecia críticas à demasiada institucionalidade, apontada como freio ao avanço das pautas, enquanto hoje não fosse a frente institucional certamente a resistência seria praticamente nula ou inócua.

Tentando responder a pergunta inicial, a vitória de Bolsonaro só poderá ser completa se ele quebrar a institucionalidade vigente. Isso significa esmagar todos os seus adversários, já que estariam supostamente degenerados. Em outras palavras, Bolsonaro só triunfará se conseguir instituir uma ditadura, onde só ele e o povo que o venera governarão, sem nenhuma mediação. Nada de imprensa, nada de Congresso, STF, universidade, ministro da saúde. Se isso acontecer, e a ciência que ele também quer destruir estiver certa, seu reino se apoiará sobre um amontoado de cadáveres.

Nunca houve tanta necessidade de unir esforços quanto hoje. Deixou de ser apenas político. A luta é da vida contra a morte. Da civilização contra a barbárie. Da democracia contra o arbítrio. Pessoas morrerão se Bolsonaro triunfar. O salve-se quem puder se instaurará se as instituições falharem. Uma longa noite de ditadura se aproxima, caso ele triunfe. A Frente Ampla - democrática e de salvação nacional - é um imperativo categórico de máxima urgência. Ou, como no título do livro de Inácio Loyola Brandão, “não verás país nenhum”

*Igor Pereira é Técnico em Assuntos Educacionais da UFRGS e mestrando em Educação (UFRGS)

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