Now and then (na intenção de resolver um conflito)

Quem poderia imaginar que nos tempos turbulentos pós pandemia, de personagens que negam a manutenção da paz como Zelensky, Putin, Netanyahu, Biden, e de grotescos neonazistas como Bolsonaro, Trump e Milei, um oásis surgisse da terra devastada pela ignorância e pelas armas.

Claro que nem todos prestarão atenção ou darão a devida importância. O que representa uma única abelha fora de uma colmeia? Que falta faz uma única formiga para a construção de um formigueiro? Quem repara na folha que caiu de um frondoso baobá?

Fico aflito quando alguém consegue normalizar o genocídio, ao ponto de enxergar uma criança atacada por bombas como abelhas ou formigas; quando não percebem que cada membro de uma família não pode ser visto como folha que naturalmente cai de uma árvore.

Um ministro de Estado não pode vir a público e ameaçar uma população com o lançamento de uma bomba atômica, como fez o ministro de Israel em relação a Gaza; assim como um canal de televisão não pode apoiar o massacre de inocentes, como fazem alguns jornalistas da Globo News.

Resolução da assembleia da ONU aprovou uma trégua humanitária, mas o porta-voz das relações exteriores de Israel afirmou que “neste momento, Israel se opõe a uma trégua humanitária ou a um cessar-fogo”.

Na Argentina, um candidato a presidente, que se autodeclara ‘outside’, foi para o segundo turno repetindo frases de cunho totalitarista que foram ditas pelo ex-presidente do EUA e do Brasil: “o aquecimento global é uma mentira” e “o Estado que permite o livre porte de armas têm muito menos crimes”.

O mundo caminha para traz em matéria de desenvolvimento espiritual, cultura, amor e poesia. O avanço da tecnologia, muitas vezes, representa o retrocesso da valorização humana, do afeto, da empatia, como se de repente desaparecesse o sentimento pelo outro, como se tudo fosse descaso e poder.

Então, em meio a ‘domos de ferros’, escombros de hospitais, extremismos, sequestros, repórteres sequelados pela guerra desabafando ao vivo, o inferno que é ser criança em Gaza, em meio à destruição, surge uma voz cantando “I know it’s true, it’s all because of you”.

A canção “Now and then” gravada pelos Beatles em 2022 e lançada dia dois de novembro último, foi para muitos um armistício, um momento de paz e esperança. A voz de John Lennon foi retirada de uma ‘demo’ gravada por ele, possivelmente em 1977, e remasterizada.

A fita K7, que também tinham as canções “Free as a bird” e “Real Love”, também na voz de Lennon, foi cedida em 1994 por Yoko Ono a Paul McCartney que, junto com Ringo Starr e George Harrison, entraram novamente em um estúdio para gravar.

As duas primeiras foram trabalhadas e lançadas em 1995, porém não havia tecnologia para separar o piano mal tocado por Lennon em “Now and then” de sua voz. Os três Beatles desistiram de gravá-la, mas ficou a demo das tentativas que possibilitou aproveitar o violão tocado por George Harrison, que faleceu em 2001.

Tudo isso foi possível porque Yoko, viúva de Lennon e odiada insanamente por muitos fãs da banda, entregou a fita a Paul. Talvez a atitude de Yoko que, foi quase um gesto humanitário de desprendimento, contra o ressentimento e a favor do perdão, sirva de exemplo de como terminar um conflito.