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Celso Raeder

Jornalista e publicitário, trabalhou no Última Hora e Jornal do Brasil, é sócio-diretor da WCriativa Marketing e Comunicação

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O bençalão

Milton Ribeiro (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
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Um raio pode cair mais de uma vez no mesmo lugar. Só no monumento do Cristo Redentor, no alto do morro do Corcovado, a média de ocorrência desse fenômeno meteorológico é de sete descargas elétricas por ano. Outro ponto do país em que raios estão caindo no mesmo lugar é em Brasília, mais precisamente no coração do governo federal. Em menos de um ano, dois ministérios se viram envolvidos em suspeita grossa de corrupção, ambos envolvendo a participação de religiosos afinados com o entendimento do presidente sobre valores da família cristã.  

Durante dez horas de inquirição na CPI da Pandemia, o reverendo Amilton Gomes tratou os senadores como idiotas, repetindo o tempo todo que conseguiu escancarar as portas do Ministério da Saúde para a venda de vacinas superfaturadas, apenas enviando um e-mail solicitando audiência, no que foi prontamente atendido em menos de duas horas. Lembrando que a Pfizer, que seguira por este mesmo caminho, enviou mais de cem mensagens para o ministério, todas sem respostas. 

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No relatório final da CPI, se chega à seguinte conclusão: “Os indícios apontam que Roberto Ferreira Dias, então diretor de Logística do Ministério, teria pedido propina para facilitar a negociação de vacinas oferecidas por um mercado secundário cheio de atravessadores (Luiz Paulo Dominghetti, Cristiano Carvalho, Rafael Alves, José Odilon, Marcelo Blanco, empresa Davati, Reverendo Amilton de Paula, entre outros”.

Pelo que consta nos autos do relatório da CPI, a operação supostamente intermediada pelo reverendo renderia uma propina de R$ 400 milhões, decorrentes do sobrepreço de um real por dose de vacina vendida. Embora a operação tenha sido abortada, restou comprovada a existência de um modelo de negócio envolvendo zangões com acesso ao dinheiro público, com poder de direcionar recursos para atender interesses privados. 

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O que não ficou provado no episódio envolvendo o reverendo Amilton, foi o aval do Palácio do Planalto para suas operações. Embora alguns senadores tenham levantado a tese da proximidade do religioso com o clã Bolsonaro, não havia nenhum elemento comprobatório de materialidade que confirmasse o elo.  Mas o destino fez cair um segundo raio, desta vez no Ministério da Educação, onde, desta vez, o próprio titular da pasta afirma que o presidente condicionou a liberação de verbas do MEC a uma negociação com outro zangão, o pastor Gilmar. 

“A minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar. Por que ele? Porque foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do Gilmar”, disse o agora ex-ministro Milton Ribeiro.

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Ora, se dois dos principais ministérios da República foram atacados em seus orçamentos bilionários pelo mesmo modus operandi, qual seja, a ingerência de intermediadores na liberação de recursos públicos para bolsos selecionados, podemos pressupor que outros ministérios também possam estar atrelados a este modelo tosco de corrupção, bem ao feitio dos seus idealizadores. 

Mas como descobrir se o esquema do Bençalão está ocorrendo no Ministério da Defesa, da Cidadania, entre outros, se a Procuradoria Geral da República, a Polícia Federal e o Tribunal de Contas da União estão impedidos de atuar em razão do xeque-mate do presidente sobre estas instituições? Como confirmar o alastramento da política de comissão na forma de ouro, dólar ou criptomoedas, num governo que decreta sigilo de cem anos em suas contas e distribui dinheiro para parlamentares via orçamento secreto? 

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Sem transparência não há o que se falar em honestidade. A esperança é que a blindagem à bandalheira costuma gerar excesso de confiança, levando os envolvidos a cometerem erros primários, como a confissão do ex-ministro da Educação sobre seus parceiros de negócios em contratos com as prefeituras. Não vai demorar, portanto, para que outro esquema seja revelado, em nome de Jesus. 

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