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Cesar Calejon

Jornalista, mestre em Mudança Social e Participação Política pela USP com especialização (MBA) em Relações Internacionais pela FGV. Autor dos livros A ascensão do bolsonarismo no Brasil do Século XXI, Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil

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O bolsonarismo, o pensamento concreto e a mídia progressista

Uma das consequências mais deletérias que a ascensão do bolsonarismo perpetrou na vida pública brasileira foi a anulação do debate

(Foto: Isac Nóbrega/PR)
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Por Cesar Calejon, para o 247 - O pleito presidencial de 2018 foi o primeiro, desde a redemocratização do país, durante o qual não houve debates públicos entre os candidatos no segundo turno. Assim, uma das consequências mais deletérias que a ascensão do bolsonarismo perpetrou na vida pública brasileira foi a anulação do debate, tanto na política institucional, quanto na esfera social, de forma mais ampla.

Em outubro de 2018, a ascensão do bolsonarismo promoveu uma reorganização da estrutura social brasileira, não somente nos âmbitos político e social coletivo (trabalho, clube, mercado etc.), mas no cerne das famílias e das relações afetivas das amizades mais próximas.

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Melhores amigos encerraram as suas amizades. Mães e filhas discutiram severamente e irmãos se desentenderam aos gritos. Em geral, desde a eleição de Bolsonaro, a sociedade brasileira vive uma espécie de crise nos seus processos de comunicação (institucionais e interpessoais) por conta do ruído odioso e agudo que é, continuamente, emitido pelo presidente da República e os seus seguidores. Bolsonaro já disse que participará dos eventuais debantes somente durante o segundo turno, mas segue destilando o ódio que gera agressões de todas as ordens junto à sociedade brasileira.

Ao se apresentar como uma solução “antissistema”, Bolsonaro atingiu, para muito além do Partido dos Trabalhadores e os seus principais líderes, a política institucional de forma mais ampla, bem como a própria prática da política social – a vida social – de toda a nação, consequentemente.

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Tipicamente, a guerra cultural do bolsonarismo é travada por meio de narrativas que reduzem e polarizam o debate entre anjos e demônios, certo e errado, família tradicional e promiscuidade etc.

Tal maniqueísmo tem uma relação direta com a unidimensionalidade do próprio presidente e dos membros que compõem o seu círculo primário de atuação. Invariavelmente, são figuras limítrofes, incultas, que enxergam na força bruta, no insulto e na agressão as únicas vias de resolução dos conflitos e de posicionamentos políticos.

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Essa unidimensionalidade vai ao encontro da estrutura de raciocínio segundo a qual opera parte da população nacional: uma forma mais polarizada, reducionista e estrita de perceber o mundo, que foi forjada, em ampla medida, pelos canais abertos da televisão brasileira e quase nenhum pensamento crítico.

Por exemplo: por meio desse tipo de pensamento concreto, uma pessoa pode concluir que uma carroça e uma bicicleta são a mesma coisa, porque ambas possuem rodas. Enquanto, com um tipo de pensamento mais elaborado, que os psicólogos intitularam pensamento abstrato generalizador, o sujeito é capaz de entender as similaridades e diferenças entre esses dois veículos para abstrair o que lhe for útil no sentido de compreender a complexidade da questão: neste caso, as diferenças entre a bicicleta e a carroça, apesar de as duas apresentarem rodas.

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Em última análise e na prática, significa ser capaz de perceber a vida de uma maneira mais integral e elaborada. Em linhas gerais, os brasileiros passaram a segunda metade do século passado assistindo às telenovelas noturnas e aos programas de palco, organizando a construção da “realidade” de forma concreta, por meio de imagens e representações gráficas definidas que deixam pouquíssima margem para o raciocínio, o debate e a livre elaboração.

Exatamente neste ponto encontra-se a importância das mídias progressistas que furam o bloqueio hegemônico dos veículos corporativos: fomentar o pensamento crítico para que a política institucional retome as suas capacidades emancipatórias.

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Esse processo de alienação das massas criou a fragilidade ideal para a proliferação da linguagem que o WhatsApp, os pastores evangélicos e o bolsonarismo avançariam décadas mais tarde. Nesse sentido, para evitarmos a tragédia social, que se consumou por meio da ausência dos debates em 2018, é necessário que a sociedade civil exija, a partir de agora, as discussões públicas durante às quais as figuras presidenciáveis devem expor os seus respectivos planos, ideias e reflexões para governar o Brasil.

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