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Leônidas Mendes

Professor de História

33 artigos

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O bolsovírus: ou a vida de 200 réis

Quando a negação já não encobria a verdade factual, anunciou-se algumas medidas preliminares, não para enfrentar ou conter a propagação da pandemia, mas tentar mitigar algumas de suas consequências, entre elas um “voucher” de 200 contos. Isso mesmo 200 réis; que certamente pouco ou nenhum efeito teria na vida de brasileiros e brasileiras

(Foto: Divulgação)
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Não posso aqui afirmar com certeza, mas acredito que foi Oswald de Andrade que nos legou a afirmação de que “a vida é uma calamidade a prestações”. Posso estar exagerando, mas essa nos parece a condição dos brasileiros nestes tempos de bolsonarismo.

Desde suas origens, esse movimento (se é que podemos assim nos referir) se caracterizou por ser uma mistura de histeria, ressentimento e insensatez, genéricos e difusos, mas sempre demonstrando profundo desprezo pela democracia e suas instituições.

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As semelhanças com o fascismo logo afloraram, embora sem as marcas da elaboração teórica de seus congêneres italiano e alemão das décadas de 1920 e 1930. Não obstante um profundo desprezo pela vida, pelas diferenças e pela pluralidade.

Com uma articulação tão dispersa quanto suas ideias (partindo do pressuposto que as tenham), seus agentes e aderentes tomaram conta das redes sociais com fakenews, ataques e mentiras contra adversários reais e/ou imaginários, numa clara comprovação de que Umberto Eco tinha razão ao afirmar que “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”.

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Sua ascensão ao poder nas eleições de 2018 foi acima de tudo uma vitória da mentira, da estupidez e da irresponsabilidade de partes de nossas elites econômicas. E as falas e medidas ora anunciadas pelo governo federal para enfrentamento dos impactos da pandemia do coronavírus foi apenas seu desnudamento!

Num primeiro momento, tivemos, como evidência de sua incapacidade, a negação. Nas palavras do próprio presidente, a doença era “apenas uma fantasia da imprensa para derrubar seu governo”. Depois, veio a temeridade, pois, sob suspeita de infecção e contágio, o mesmo convocou manifestações contra o STF e o Congresso Nacional e delas participou ativamente!

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Quando a negação já não encobria a verdade factual, anunciou-se algumas medidas preliminares, não para enfrentar ou conter a propagação da pandemia, mas tentar mitigar algumas de suas consequências, entre elas um “voucher” de 200 contos. Isso mesmo 200 réis; que certamente pouco ou nenhum efeito teria na vida de brasileiros e brasileiras, ainda mais se acometidos pela doença.

Mas, a proposta feita em quase clima de festa pelo antiministro (da falta) da economia, Paulo Guedes, mostra o valor da vida em tempos de bolsovírus: 200 tostões! Talvez aqui esteja um experimento governamental daquilo que o teórico camaronês Achille Mbembe denominou de “necropolítica” ou da “economia da morte”, como diz o jornalista Fernando Brito.

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Na sequência, depois de diversas agressões aos governadores que lhe tomaram a dianteira no enfrentamento à propagação e impactos da doença, nesse final de semana, o presidente se superou com a edição da MP 927, depois “corrigida”, que rapidamente passou a ser chamada de “MP da Morte”, pois propunha a suspensão, sem remuneração, por parte das empresas, de contratos de trabalho. 

As tentativas de emendas saíram pior do que o soneto, ficando cada vez mais evidente que os males do bolsovírus são tão graves, e talvez mais duradouros, que os trazidos pelo coronavírus. Ao primeiro, o país certamente resistirá; mas, não sabemos se sobreviverá ao segundo!

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