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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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O celular foi para o espaço

Leão Serva (Foto: Reprodução/Twitter/UOLNotícias)
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O ilustre desconhecido Douglas Garcia, deputado estadual por São Paulo, notável pela truculência com que age aqui e ali, quis, de repente, bancar o ator principal numa cena que não lhe dizia respeito. Meteu as mãos pelos pés. E perdeu o celular, que saiu voando pelo espaço da TV Cultura, colhido pela indignação do Diretor de Redação Leão Serva. Este não pôde assistir passivamente as agressões do parlamentar contra a jornalista Vera Magalhães. Expulsou-o aos gritos, depois de lhe confiscar o aparelho que, aliás, vinha sendo brandido pelo agressor como se fosse uma arma. O parlamentar, habituado a desprezar mulheres e maltratá-las, colocou o rabo entre as pernas e saiu de fininho. Com as justas repercussões do caso, arrisca-se até a perder o mandato. Tarcísio de Freitas, também bolsonarista, como o outro, envergonhado, se tivesse um buraco no chão, se meteria nele até a raiz dos cabelos.

A atitude de Douglas García e o gesto de Leão Serva trazem à mente observações de George Lukács sobre o que constitui a essência das coisas no comportamento humano. Gestos comunicam algo. Transmitem às vezes o que as palavras, na ânsia de dizer, não logram passar. Por isso, mostram-se importantes. Um gesto, em determinada circunstância, muda a vida de alguém. Nós não avaliamos frequentemente, presos às banalidades do cotidiano, como nos atingem esses modos de expressar noções e admirações diante de uma pessoa que nos é cara. Não há, por certo, comparações possíveis entre a mão agitada do pequeno deputado e a outra, a de Leão Serva, que lhe confiscou o celular e comunicou a ele e a todos o que se deve e o que não se deve fazer com uma mulher. 

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Vera Magalhães tem na profissão uma trajetória polêmica. Por opiniões que emitiu, despertou as antipatias do Presidente Jair Bolsonaro durante o debate na Rede Bandeirantes. Este reagiu destratando-a e procurou humilhá-la. O que o de cima fez, o de baixo se arriscou a fazer, dentro do velho princípio da imitação. Agora, o conjunto do grupo que lhe dá sustentação, se esforça para se desligar dele, como se houvesse cometido um crime inafiançável. Realmente, o cometeu. Pode e deve pagar um preço por isso. No entanto, o seu modelo, o que mora no Alvorada, é useiro em expressar no cercadinho ou fora dele o ódio que manifesta contra o gênero feminino quando cresce e o desafia no terreno das ideias. Douglas Garcia deve estar verificando que pisou na bola e talvez retorne sem querer ao lugar de onde nunca deveria ter saído: a mediocridade do anonimato. O gesto que usou contra a jornalista, ao contrário do que apontaria Lukács, é bem menos do que imaginaria. Leão Serva, este sim, realizou diante da nação o que a maioria da população há tempos anda louca para fazer.

Os bolsonaristas, incluindo o candidato ao governo de São Paulo, que se acautelem. Usaram e abusaram da paciência nacional. Humilharam pessoas. Excederam-se na crueldade com a história da marmita para Dona Ilza, de Itapeva, São Paulo, e seu confisco porque apoiava Lula. O próprio país, decepcionado frente a um Chefe de Estado grosseiro e sem qualificação, encolheu-se envergonhado na maior parte do seu mandato. Pode votar finalmente, num sucessor à altura. E é o que pretende fazer. Quem sabe no primeiro turno, com ou sem Douglas Garcia, com ou sem Tarcísio de Freitas, com ou sem Jair Bolsonaro. Leão Serva fez e disse o que todos estão querendo dizer: “Basta! Chega para sempre! Grosseria nunca mais!”

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