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Matheus Brum

Mineiro de Juiz de Fora, jornalista e escritor

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O futebol é do povo, não apenas de uma parte

O futebol é do povo! E é assim que deve ser. Óbvio que não sou ingênuo de ignorar que o esporte também está inserido dentro deste capitalismo selvagem que vivemos

Bolsonaro com camisa do Flamengo em live presidencial. 02.07.2020 (Foto: Reprodução)
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Olá, companheiros e companheiras. Como vão? Quem acompanha o noticiário esportivo brasileiro deve ter visto, da última semana para cá, uma intensa discussão sobre o formato de transmissão das partidas de futebol. Iniciativa esta tomada pelo Flamengo que articulou, junto ao presidente Jair Bolsonaro, a Medida Provisória que coloca os mandantes das partidas como responsáveis pelo direito de transmissão dos jogos. 

A MP, em si, traz muitos problemas jurídicos. Há pessoas mais capacitadas, que este que vos fala, para tecer comentários mais pertinentes sobre este aspecto. O que quero tratar hoje é como o futebol vem se afastando, cada dia mais, do povo brasileiro. Ou seja, todos nós estamos perdendo um pouco do principal produto cultural do país. 

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O futebol é do povo! E é assim que deve ser. Óbvio que não sou ingênuo de ignorar que o esporte também está inserido dentro deste capitalismo selvagem que vivemos. Entretanto, ações tomadas por clubes, recentemente, têm feito com que a população se afaste do futebol. 

A MP do Flamengo é a cereja do bolo de um processo que começou lá atrás, na reforma dos estádios para a Copa do Mundo e a consequente entrega dos espaços para a administração privada. Os clubes que acordaram jogar nos estádios recém-inaugurados elevaram, substancialmente, o valor unitário do ingresso. As reformas acabaram com os espaços destinados aos torcedores de baixa renda, conhecidos como “Geral”. 

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A cada ano que passa, o valor envolvido no futebol se torna maior. Em 2018, um estudo feito pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), mostrou que os clubes pagaram mais de R$1 bi apenas de salários. Naquele ano, 11.683 atletas estavam registrados como profissionais. Destes, 7% recebia o equivalente a R$800 mi, do bolo total gasto com vencimentos. Na outra ponta, 55% dos jogadores sobreviviam com menos de um salário mínimo. 

O futebol brasileiro escancara a desigualdade que vivemos no país. Poucos ganhando muito. Muitos ganhando pouco. E quando olhamos para a torcida, o cenário não é diferente. A pesquisa Datafolha do ano passado, que apontou que o Flamengo tem cerca de 42 milhões de torcedores, destrinchou o seguinte:

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  • 48% dos torcedores rubro-negros ganham até 2 salários mínimos;
  • 38% dos flamenguistas ganham entre 2 e 5 salários mínimos;
  • Apenas 5% ganham mais que 10 salários mínimos;

Mesmo diante destes números, públicos, a diretoria do Flamengo resolveu cobrar R$10 para que os torcedores assistissem Flamengo x Volta Redonda, pela semifinal da Taça Rio, torneio desprezado pelos cartolas e pela torcida, mas que se tornou importante após a briga do clube com a Globo. 

Para dos dirigentes do Flamengo, que são ricos, R$10 pode parecer pouca coisa. Porém, quem tem o mínimo de discernimento da situação atual do país sabe que é um valor que faz a diferença para muitas pessoas. E este é o ponto principal: os torcedores precisam sofrer com a ganância dos cartolas? 

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Não! Não precisam. Como disse acima, sei que o futebol é um produto do capitalismo. Só que no Brasil, o esporte tem um outro significado. É o único que permite ser praticado por qualquer pessoa, de qualquer classe social. Isso explica o porquê de ser tão famoso. Quando as primeiras práticas esportivas vieram importadas da Europa para cá, apenas a burguesia tinha acesso. 

O futebol revolucionou. Era simples de se entender. E mais simples ainda para jogar. Não precisava de muito luxo. Dois pedaços de pau para formar um gol e uma bola, que poderia ser feita de papel, meia, etc. O futebol foi o primeiro esporte a aceitar e incorporar negros, colocando-os em evidência. 

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O futebol tem mais ligação com a periferia, com o chão de terra batida. Sabe por quê? Porque para estas pessoas, muitas vezes, o time ganhar um campeonato ou uma simples partida, é um momento de êxtase e emoção. O momento de sentar-se em um barzinho ou na frente da TV se torna algo único, uma fuga da realidade. 

Entretanto, dirigentes de colarinho branco, que nunca pisaram em uma comunidade, querem acabar com isso. Querem fazer um esporte que apenas ricos possam assistir. Na realidade, já é assim. Os ingressos caros, o pay-per-view com valores fora da realidade e as camisas com preços absurdos já separam a favela dos estádios. Só que a ideia é deixar este método mais caro, cobrando por jogos que são transmitidos pela TV aberta.

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Mas, na hora do aperto, quando o time está mal, perto de ser rebaixado, o que os dirigentes fazem? Abaixam preço de ingresso, abrem sede social para a torcida acompanhar treinos e tentam transmitir o carinho dos torcedores para os jogadores. E sabe quem enche os estádios? Estes mesmos que estão relegados a segundo plano agora. 

O futebol é a essência máxima do brasileiro. Isso é cultura. Não tem preço. Cabe a cada um de nós lutar para que permaneça. Os clubes têm direito de faturar mais. Só não tem o direito de tirar dos torcedores a possibilidade de assistir a uma partida de futebol. Apesar de todos os pesares, a TV Aberta nos dá essa chance. 

O streaming é o futuro? Pode-se dizer que sim. Mas ainda está muito longe para a maior parte dos torcedores. Ao invés de segregar, os clubes deveriam pensar em incluir. Isso é bom para os apaixonados por futebol e para as marcas. Fica a dica. 

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