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Aloizio Mercadante

Aloizio Mercadante é economista, professor licenciado da PUC-SP e Unicamp, foi Deputado Federal e Senador pelo PT (SP), Ministro Chefe da Casa Civil, Ministro da Educação e Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação

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O impacto econômico da guerra na Europa e o desgoverno Bolsonaro

"Como disse Lula, o mundo precisa de comida, de emprego, de educação, e não de guerra", escreve Aloizio Mercadante

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em discurso no México (Foto: RICARDO STUCKERT)
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Enquanto Bolsonaro aproveitou as férias para passear de jet-ski no litoral paulista, isolado e alheio à conjuntura geopolítica global, o avanço da guerra na Ucrânia e as medidas de retaliação à Rússia apresentam grandes desafios para a economia brasileira. Conforme alertamos no artigo anterior, esta crise pode ter graves impactos no Brasil, agora agravados com a decisão do governo russo de paralisar totalmente a produção de fertilizantes, com consequências dramáticas para a agricultura brasileira. Isso porque não só a nossa agricultura está completamente dependente da importação de fertilizantes, como também o conflito na Europa tem gerado uma disparada no preço internacional do petróleo, do trigo e de outras commodities.

Os russos são responsáveis por 15% das exportações globais dos adubos nitrogenados e 17% das de potássio. No caso brasileiro, somos muito dependentes e importamos entre 85% e 90% dos fertilizantes que utilizamos no campo. Em 2021, Rússia e Belarus foram responsáveis por 28% dos fertilizantes importados pelo Brasil, o que dá a medida do impacto que paralisação da produção russa terá na produção agrícola nacional, pressionando o preço dos alimentos e ameaçando a segurança alimentar brasileira.

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O quadro se agrava quando observamos que o governo vinha aumentando a dependência da nossa agricultura da produção internacional. Em 2020, a produção de fertilizantes recuou 22% em relação ao ano de 2018. Essa diminuição pode ser explicada, em grande medida, pelo processo de desinvestimento da Petrobrás, que fechou uma unidade e vendeu três fábricas de fertilizantes no país.

Em 2019, Bolsonaro anunciou a saída definitiva do setor de fertilizantes. E só agora, a ministra da Agricultura lamenta o abandono da estratégia de investimentos promovida pelos governos do PT para assegurar maior oferta interna e garantir mais soberania e segurança alimentar ao país.

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Como alternativa, Bolsonaro aparece com a ideia de extrair fertilizantes em terras indígenas, sem qualquer estudo prévio de impacto ambiental e sem qualquer medida compensatória para os povos originários. Mais um arremedo predatório, que é uma marca fundamental desse desgoverno.

Além disso, desde o golpe de 2016 e a ascensão de Bolsonaro, o Brasil não tem uma política estratégica para a Petrobrás atuar como empresa garantidora do abastecimento nacional, com preços de menor impacto possível, especialmente quando ocorrem elevações nos preços internacionais do petróleo. 

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Pelo contrário, a empresa perdeu sua integração sistêmica entre prospecção, exploração, produção, refino e distribuição e adotou a paridade internacional de preços, dolarizando as tarifas de derivados e privilegiando a exportação de óleo cru em detrimento do refino no país. 

O esquartejamento da Petrobrás, com a privatizações de refinarias, da BR Distribuidora e dos gasodutos, impõe a importação de derivados que só beneficia 390 empresas importadoras e acionistas minoritários, favorecidos pela dolarização dos preços que asseguram lucros e dividendos. 

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No caso do petróleo, o valor do barril no mercado futuro chegou a atingir US$ 118 pela primeira vez desde fevereiro de 2013. Com tal escalada do preço, importadoras e acionistas privados da Petrobrás já pressionam por um novo reajuste dos combustíveis no Brasil, com os argumentos de que o produto está há 50 dias sem aumento. Reclamam que os valores do diesel e da gasolina nas refinarias atingiram defasagem de 25% ante a paridade de importação.  

A pressão ocorre quando a Petrobrás tem lucro de R$ 106 bilhões, distribuindo R$ 101,4 bilhões em dividendos a acionistas. Isso tudo poderá acelerar ainda mais a inflação de dois dígitos, penalizando as famílias brasileiras com o aumento do custo de vida. A pressão inflacionária tende a ser forte, porque impacta toda estrutura de transportes da economia.

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Para agravar a conjuntura, o mundo acompanha a escalada do preço do trigo e de outras commodities. Rússia e a Ucrânia juntas representaram quase 29% das exportações globais de trigo no ano passado. Com a guerra, o preço desse produto subiu 8,91% — maior valor em 13 anos —, no início da semana passada. O aumento vai chegar no preço final de pães e massas. 

Tudo aponta para a aceleração da inflação, com consequente aumento da taxa de juros, o que vai prejudicar a debilitada economia brasileira, que está tentando sair de um cenário de recessão prolongada para a estagnação projetada. O tempo da guerra e das medidas econômicas de retaliação vão determinar a extensão do dano.

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Mas, como disse Lula, em visita ao México, onde teve uma calorosa recepção do presidente Andrés Manuel Lopes Obrador, além de ter sido convidado de honra da Câmara e Senado e fortemente saudado pelos líderes de todos os partidos mexicanos, o mundo precisa de comida, de emprego, de educação, e não de guerra. 

O clamor é para que as lideranças mundiais envolvidas no conflito entre Rússia e Ucrânia larguem as armas e resolvam as divergências com diálogo e negociação. Essa é um das diferenças fundamentais entre um estadista e um bravateiro piloto de jet-ski, que tira férias e cuja única medida anunciada foi zerar os impostos de importação do próprio brinquedo.

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