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Toninho Kalunga

Ex-vereador do PT em Cotia. Foi coordenador Estadual de Formação Política do Diretório Estadual do PT/SP. Cristão católico ligado aos Orionitas no Santuário São Luís Orione

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O jejum como instrumento de manipulação política

Se quiserdes jejuar, o faça. Isso é bom! Mas não propagandeie seu ato como se isso fosse uma coisa mais importante do que os que não fazem

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Para os homens e mulheres, a oração e o jejum, em diversas religiões são práticas constantes e comuns. Mas creio que a utilização política para tal ato é algo inovador. A oração e o jejum servem para uma conexão pessoal para aquele que tem fé com relação ao seu Deus. Imaginar que uma atitude tão nobre como essa, sirva a interesses deploráveis como o de defender um político é algo terrível. Veja só em que ponto chega Bolsonaro, se utiliza de um instrumento da mais profunda seriedade da fé do povo para manipular gente pobre com o apoio de medíocres que utilizam a fé para enganar o povo.

Os católicos por exemplo, não fazem jejum aos domingos, por uma razão teológica e doutrinária. Foi num domingo que Cristo ressuscitou, logo, domingo é sempre o dia que os católicos guardam para o descanso, para o encontro com Deus nas Missas e com a alegria da memória da Páscoa que é feito em qualquer missa como um todo em, mas nas missas dominicais em especial.

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Para os que creem e seguem a doutrina católica, o Papa São João Paulo II nos lembra na exortação apostólica “Dies Domini”(O Dia de Domingo)  transcrevo abaixo o ponto 58, cujo tema é “A ‘alegria plena’ de Cristo” 

58 “Em sua Exortação pedindo que, no dia do Senhor, a Igreja testemunhasse vigorosamente a alegria experimentada pelos Apóstolos, quando viram o Senhor na tarde do dia de Páscoa. Por isso, convidava os Pastores a insistirem “na fidelidade dos batizados à celebração, com alegria, da Eucaristia dominical. Como poderiam eles, de fato, negligenciar este encontro, este banquete que Cristo nos prepara com o seu amor? Que a participação em tal celebração seja, ao mesmo tempo, digna e festiva! É Cristo, crucificado e glorificado, que passa entre os seus discípulos para conduzi-los todos juntos, consigo, na renovação da sua Ressurreição. É o ápice, aqui neste mundo, da Aliança de amor entre Deus e o seu povo: sinal e fonte de alegria cristã, preparação para a Festa eterna” (105). Nesta perspectiva de fé, o domingo cristão é verdadeiramente um “fazer festa”, um dia dado por Deus ao homem para o seu pleno crescimento humano e espiritual. ”

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Quem está convocando esse jejum é Bolsonaro! Então, não há o que se falar em ação em nome de Deus! Tanto que quem está apoiando, esta atendendo um chamado do “chefe da nação”. Mais claro que isso, impossível! Basta ver quem apoia esse chamado para entender o tamanho da manipulação política que tem por trás dessa proposta.

Imaginem agora, os políticos se utilizando da fé do povo, para justificar suas ações contrárias aos interesses do mesmo povo? A quem sua fé serve? A homens ou a Deus? Se for um homem que está convocando tal ato a resposta é simples. Não faça! Se eu ou qualquer outra pessoa convocar um ato como este, com vistas à própria posição política, saiba que neste dia estará se entregando ao inferno! 

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Não. Definitivamente, não há sentido em jejuar no dia em que os trabalhadores têm direito ao seu descanso semanal, o dia reservado para estar próximo à família, o dia que se reúne para confraternizar, para visitar quem se ama, para se alegrar pelas bênçãos recebidas pela semana que passou e para fazer o pedido que seja agraciado pela semana que se inicia. Domingo é o dia da alegria da memória da Páscoa do Senhor.

O Evangelho fala sobre o jejuar dos hipócritas... leia Mateus 6,16.

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Eu sou católico... acho que poucas práticas religiosas manipularam tanto, no passado, o jejum como os católicos fizeram no decorrer do tempo:  O “jejuar religioso”, praticado por motivos escusos sempre foi denunciado pelo próprio Jesus, como sendo hipócrita! O jejum imposto aos homens como prática obrigatória é por si só uma prática suspeita.

Sou de um tempo em que comer carne, no tempo da quaresma, era um pecado terrível. Mas já foi pior! Houve um tempo na história que uma pessoa que não fizesse jejum de carne, podia ser preso ou até mesmo excomungado, o que para um religioso católico equivale a morte.

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Conheço gente, que faz penitência, passam dias sem comer algum tipo de comida ou beber algum tipo de bebida. O intuito disso é levar a alguns objetivos: Pode ser para agradar a Deus em razão de uma dádiva alcançada, para fazer uma súplica a um pedido por alguma dificuldade que esteja passando ou para castigar o próprio corpo como forma de expiação dos pecados.

Mas tem um grupo que faz isso pra fazer uma troca com Deus... eu dou sacrifício e assim, imponho a Deus que me dê o que estou pedindo! Fazem uma fé por escambo! Essa prática de jejum se mostra absolutamente errada e contrária ao evangelho. Deixa algumas pessoas, principalmente as hiper-religiosas, arrogantes e começam a querer ser exemplo e comumente julgam os que não fazem o mesmo de fracos, de pecadores e por ai vai! Ficam vaidosos e maus. Quando dá certo, dizem que isso se deu graças ao seu sacrifício, quando não, acusa os outros de não ter fé como o que fez a penitência e de um jeito ou de outro, Deus fica relegado a segundo plano.

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Não consigo achar no Evangelho a prática da exigência de jejum, por parte de Jesus Cristo! Mas é verdade, que Ele jejuava constantemente!  Em Mateus, 9,14, tem uma passagem fabulosa sobre isso! Os fariseus jejuavam e cobravam ser exemplos e viviam o jejum de forma hipócrita, perguntando porque é que os discípulos de Jesus não faziam "o mesmo que eles", a resposta de Jesus é fantástica! "Podem, acaso, estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo, e nestes dias hão de jejuar".

A questão que te coloco é... Jesus não está conosco neste momento? Temos mesmo que seguir a orientação de um cara que na condição de chefe da nação defende a tortura, que retira direitos dos trabalhadores e seus salários (leia Tiago, 5,1-6), que aconselha pessoas a se contaminarem com uma doença como forma de prevenção da mesma doença? Que informa que a doença precisa atingir 70% da população e que os mais frágeis vão morrer mesmo, mas que isso é a consequência para que os mais fortes sobrevivam.

A questão que se coloca é de outra natureza. É justamente o egoísmo humano que nos leva a uma situação como essa! São as queimadas das matas, o genocídio da população indígena, a não distribuição de terras, que concentradas em alguns oligopólios e famílias regionais, produzem fome e miséria, ao invés de riqueza e democracia. O acúmulo de riquezas se resume ao fato de que os dez homens mais ricos do Brasil concentram a mesma riqueza que toda a metade mais pobre da população do país (mais de 100 milhões de brasileiros), segundo o relatório da ONG Oxfam que é uma organização britânica de assistência social e combate à pobreza, que usa como base levantamentos sobre bilionários da revista "Forbes" e dados sobre a riqueza no mundo de um relatório do banco Credit Suisse. Os dado abaixo tem como fonte o jornal brasileiro Valor Econômico é de setembro de 2019.

1 - Joseph Safra

Patrimônio de US$ 25,2 bilhões.

2 - Jorge Paulo Lemann

Patrimônio US$ 22,8 bilhões.

3 - Marcel Herrmann Teles

Patrimônio US$ 9,9 bilhões. 

4 - Eduardo Saverin

Patrimônio US$ 9,7 bilhões.

5 - Carlos Alberto Sicupira 

Patrimônio US$ 8,9 bilhões.

6 - João José Abdalla Filho

Patrimônio US$ 3,4 bilhões,

7 - Abilio Diniz

Patrimônio US$ 3,1 bilhões.

8 - Pedro Moreira Salles

Patrimônio US$ 3,1 bilhões

9 - João Moreira Salles 

Patrimônio US$ 3,1 bilhões

10 - Walter Moreira Salles Júnior

Patrimônio US$ 3,1 bilhões

O acúmulo financeiro dessas pessoas representa algo em torno de 493.800.000.000,00 (Quatrocentos e Noventa e  Três BILHÕES e Oitocentos Milhões de reais, na cotação oficial do dia 04 de abril de 2020 do dólar; Traduzindo para o português, isso significa quase 2/3 da “economia” em 10 anos que Bolsonaro e Paulo Guedes sugaram dos trabalhadores brasileiros na reforma da previdência aprovada no ano passado. 

Então meu querido irmão, minha querida irmã e companheiros de fé, se quiserdes jejuar, o faça. Isso é bom! Mas não propagandeie seu ato como se isso fosse uma coisa mais importante do que os que não fazem. Mas principalmente, não propagandeie algo que você sabe ser tão contrário aos ensinamentos de Jesus, no que se refere a manipulação à essência do Evangelho. E lembre-se que este chamado está sendo feito por quem quer fazer política e manipulação na fé do povo. 

Aos homens que imaginam poder manipular a vontade de Deus, fica a certeza de que o clamor dos pobres e vítimas assassinadas por este sistema e modelo chegará aos ouvidos do Senhor. Seja pela luta contra as queimadas na Amazônia latino-americana, seja contra a exploração dos pobres trabalhadores chineses, bolivianos, brasileiros ou africanos. Seja pelo reabilitação dos jovens membros das gangues nos Estados Unidos ou pelos viciados na Cracolândia, seja o clamor dos  dalits, arrancados covardemente de suas terras na Índia ou dos Sem Terra no Brasil, seja pelos desafios em levar paz, educação e água aos povos na África ou o grito surdo dos imigrantes e refugiados que querem chegar à Europa, EUA ou qualquer outro país rico do mundo. O clamor deste povo, está nos ouvidos de Deus. Não olhar para o coronavírus sob este prisma é querer se fingir de surdo, cego e mudo diante do recado que a natureza está nos dando.

Quem tem ouvidos para ouvir, olhos para enxergar e boca pra falar, faça disso um instrumento de libertação. Não manipulem a fé do povo. Isso tem consequências, basta ver o que está significando uma campanha eleitoral que usou o nome de Deus em vão, dizendo que Ele estava acima de tudo, mas que o País estava acima de todos. Estamos vendo o resultado desta infâmia. Basta ver a quem esta pandemia tem atingido inicialmente no mundo. Sempre se teve histórias de doenças que matavam ricos. Mas sem exceção, todas elas, antes matavam os pobres. É a primeira vez que isso se inverte.

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