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Marissom Ricardo Roso

Advogado previdenciarista. Membro da Comissão Especial de Seguridade Social - CESS da OAB Subsecção de São Borja. Vice Presidente da Subsecção no Exercício 2013/2015. Cronista Eventual no Jornal Folha de São Borja. Tradutor da obra “Layla e Majnun”

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O juiz ladrão de sonhos e a pátria arrasada

Eu ainda não compreendi por que Sérgio Moro se submeteu a pôr em prática o plano do império, o que lhe foi prometido, se foi só por vaidade ou pelo instinto de subserviência e traição a pátria

The Sirens and Ulysses by William Etty 1837
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“Moro foi a ponta de lança para lesar gravemente a democracia brasileira, desequilibrar o papel das instituições públicas, desorganizar a economia, quebrar o sistema de inclusão social dos pobres, implodir as grandes empresas brasileiras com inserção internacional. Foi um lacaio da extrema direita local, dos interesses hegemônicos norte-americanos, e do capital rentista internacional. Foi um mamulengo dessa gente que se instalou no poder com o Temer e o bolsonarismo. Podia dar vazão aos processos judiciais apurando fatos e responsabilizando culpados, mas estava comprometido com esse projeto de poder para o qual hoje se tornou um estorvo”. (Paulo Afonso Robalos Caetano – Juiz de Direito Aposentado, Advogado militante na Comarca de Santa Maria/RS).

Os frequentes e cada vez mais intensos ataques à nossa tenra democracia perpetrados pelos fascistas neste Brasil bolsonário, faz com que esse velho alquebrado pai e avô que me tornei, recorde com profunda nostalgia aquele adolescente que frequentava as reuniões clandestinas para refundação do PTB (Associação de Estudos e Debates Para Refundação do Partido Trabalhista Brasileiro) de arma na cintura, se cuidando para não ser preso pelos gorilas fardados, ali próximo do “verdurão” na esquina da Praça 15 de Novembro.

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Faz lembrar com orgulho aquele estudante do Colégio Estadual de São Borja – CESB, no período da noite, quando era proibido participar de atividades políticas como determinava o famigerado artigo 477. Criamos o “Grupo dos 13”, comandado por nosso colega Moysés Lopes, o qual pagava o preço de ser irmão de um “campeão da liberdade e da democracia”, preso político e torturado, o brilhante professor e advogado Dino Lopes.

A memória cumplice de um sorriso nostálgico é como um filme em preto e branco das manifestações políticas clandestinas, das pichações dos muros com a inscrição “milicos no poder, povo com fome”, do célebre discurso onde vestimos a estátua do velho Getúlio no centro da Praça XV com uma “gandola” verde-oliva e quase fomos presos. Vem-me à lembrança com orgulho, aquele grupo de adolescentes que, na saída da Igreja Matriz de São Borja, comandados pelo vereador e médico Mauá Ferreira, tomaram das mãos dos soldados do exército a urna funerária onde descansava para a eternidade o corpo do Estadista/Presidente João Goulart. No entrevero, fomos ajudados pelos “brigadianos” janguistas e formamos um cordão humano ao redor e o carregamos até a morada derradeira, no Cemitério Jardim da Paz.

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O dia do velório e enterro do Presidente Jango Goulart foi um dos dias mais tristes e marcantes que eu presenciei. Todos choravam. O povo, que o amava e era amado por ele; seus adversários políticos também; até os cães choravam; a cidade inteira chorava. E naquele dia, o céu também chorava. Na saída do cortejo que foi caminhando até o cemitério, o céu ficou escuro como um dia de inverno e uma garoa fininha descia sobre nossas cabeças como se o paraíso também chorasse.

Pessoas choravam nas janelas das casas, nas calçadas, nas ruas o povo exclamava “morreu Jango, o pai dos pobres”. Um bêbedo maltrapilho soprava um lamento numa gaita-de-boca, cães uivavam e políticos discursavam. Jango morreu do outro lado do Rio Uruguai. Morreu de tristeza, de saudade, mirando a querência amada. Morria o presidente e brotava do chão vermelho da missioneira São Borja a rosa da nossa democracia.

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Esse velho/adolescente lembra com brilho no olhar da volta do Brizola, da multidão que aguardava o avião na “granja do João Vicente”, do histórico discurso na Praça da Lagoa, onde Pedro Simon engoliu o cachimbo quando “engenheiro” disse que a oposição no Brasil era consentida, demonstrando que não havia espaço para dois galos no mesmo rinhadeiro.

Com as “Diretas Já” desabrochou finalmente a nossa Democracia, vieram as eleições livres, os anos de ouro da Era Lula, o Brasil se transformou numa potência respeitada internacionalmente, o Brasil tinha voz e poder de decisão na geopolítica mundial. Lula se tornou um líder e um estadista de respeito. Combateu a fome e se revelou um fenômeno da comunicação para as massas. 

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O Brasil sob a liderança de Lula se transformou nos “Estados Unidos da América Latina”. Nossa moeda era valorizada, emprestávamos dinheiro para nossos vizinhos, para o FMI e pagamos a dívida externa. Nossas reservas internacionais cresceram assustadoramente. A Petrobrás descobriu o Pré-Sal e nos tornamos autossuficiente em petróleo. Nosso agronegócio batia recordes de produção e preservávamos a floresta amazônica. O Brasil fazia parte do BRICS. Tínhamos o melhor corpo diplomático do mundo. O brasileiro era feliz.

Tudo isso despertou a ira e a ganância adormecida do Império do Norte. O Pré-Sal, nossa tecnologia de exploração em águas profundas e a Petrobrás se tornaram a nova “prata da América Latina” a ser saqueada. O colonizador não podia admitir nossa independência econômica e cultural, tampouco que desfrutássemos de nossa riqueza. 

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Porém, o Partido dos Trabalhadores cometeu erros gravíssimos. O maior deles foi pensar um projeto de poder em vez de um projeto de governo. Deixou-se inebriar pelo poder e abandonou as bases. E estas o abandonaram na hora do golpe. Não criou uma nova consciência popular, não combateu o sistema. Pior, preservou- o (bancos, grandes grupos de comunicação, os rentistas, etc...) para ser aceito pela nossa elite retrógrada e perversa. Outro erro não menos grave foi indicar postulantes a ministros da suprema corte sem notório saber jurídico e coragem para julgar processos sem medo da “opinião publicada”, que se revelaram incapazes de defender a constituição subvertendo o direito. 

Como o mundo ocidental já não tolera mais golpes militares, assassinatos de líderes e governantes, o colonizador do norte colocou em ação suas agências de espionagem e seus assassinos econômicos treinados a serviço do “mercado”, passando a utilizar-se de uma forma mais civilizada de remoção de obstáculos políticos contrários aos seus interesses, corrompendo a justiça através da prática de Lawfare para destruir o “Rei”. Todos os governos de esquerda na América Latina foram varridos, vítimas dessa perseguição judicial que começou no Brasil.

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Porém, para colocar o plano em ação, era necessário um personagem chave. O escolhido para o crime foi um juiz de primeira instância de saber jurídico duvidoso. O novo super-herói dos moralistas hipócritas e da direita que não é capaz de vencer uma eleição limpa. Eu ainda não compreendi por que Sérgio Moro se submeteu a isso, o que lhe foi prometido, se foi só por vaidade ou pelo instinto de subserviência e traição a pátria, comportamento típico de nossos vira-latas em relação ao Império do Norte. Talvez ambição, dinheiro, poder, um cargo de Ministro na suprema corte ou a Presidência da Republica bananeira? A história, um dia, dirá.

No entanto, ele esqueceu que a ambição e a vaidade são péssimas conselheiras do homem. Representam o canto fatal da sereia. E para resistir é preciso amarrar-se ao mastro do navio, como Ulisses. A ambição e a vaidade cobram caro. Esqueceu que a política ama a traição, mas detesta o traidor. O juiz ladrão de sonhos já faz parte dos rodapés dos livros de história como o magistrado que apunhalou de morte nossa tenra democracia fraudando uma eleição. Atropelou o devido processo legal e o Estado de Direito junto com seu bando de celerados da pusilânime república de Curitiba e colocou no poder um personagem caricato, um inapto e inepto, uma criatura dantesca e cruel cuja personalidade mistura psicopatia com sociopatia e levou mais de meio milhão de brasileiros à morte graças a seu charlatanismo.

É difícil escrever algo que ainda não tenha sido dito sobre essa dupla de canalhas. Destruíram o Brasil. Um prejuízo de mais de 150 bilhões de reais. Quatro milhões de empregos diretos ceifados, destruição da engenharia nacional, da indústria naval. Esquartejamento da Petrobrás e doação do Pré-Sal para as petroleiras estrangeiras. Ignoraram a função social das empresas nacionais e as liquidaram, deixando os verdadeiros corruptos milionários em prisão domiciliar, bebendo champanha à beira da piscina. Demonizaram a política e colocaram no governo a ralé moral e intelectual do país.

Depois do serviço sujo, o juiz ladrão de sonhos foi descartado como um bagaço de laranja e foi morar na casa do colonizador, tendo como prêmio um gordo salário. Já o presidente asinino todos os dias atenta contra democracia, flerta com o fascismo, comete crimes de responsabilidade e avança para uma conduta tipificada no código penal. Aparelhou o governo com militares que estão enrolados em graves suspeitas de corrupção, não respeita o parlamento e assaca a Suprema Corte e seus ministros, além de diariamente nos ameaçar com uma aventura golpista dizendo-se apoiado pelas Forças Armadas. 

Além do desemprego, sua debilidade intelectual trouxe de volta a fome e a inflação, a classe média está desaparecendo, os pobres estão miseráveis, liquidou a previdência social, a saúde e a educação. Possui um vocabulário limitado, tosco e chulo, não tem empatia com seus semelhantes e destila todo tipo de preconceito, típico de uma alma sebosa. Agora, para fugir do impeachment e tentar salvar a reeleição, abraçou-se ao que representa de pior na política nacional, tudo aquilo que dizia combater. Enfim, graças a ele somos os párias do mundo.

Com certeza, não foi para isto que muitas pessoas foram sequestradas, presas, torturadas, mortas ou desaparecidas nos anos de chumbo. Não foi para retrocedermos a idade média, ao obscurantismo e formarmos uma sociedade idiotizada, onde a palavra de um pregador picareta ou um político safado valha mais do que a palavra de um cientista, onde a cultura e a educação estejam cada vez mais elitizadas, disponível a uma ínfima parcela da população, que a usa para perpetuar suas ideologias de exploração dos mais pobres. Não foi isso que idealizamos.

Os pensadores, os intelectuais, os educadores, os formadores de opinião os jornalistas, os artistas, os idealistas, os sindicalistas, os juristas e advogados, os marginalizados, enfim, todos aqueles que não perderam a capacidade de indignar-se, precisam se levantar contra essa ignomínia, essa pusilanimidade, essa ignorância que nos oprime como nação sob pena dessa passividade e conformismo se aproximar vergonhosamente da covardia. É preciso mudar nossa realidade imediata com urgência, é preciso dar um basta nessa insanidade. Navegar é preciso. Vamos todos pra rua beber a tempestade na defesa da democracia antes que seja tarde demais.

Afinal, como disse Leonel Brizola, herói da Pátria imortalizado no panteão da Praça dos Três Poderes, “nunca deixe de sonhar com um ideal. O dia em que não tiveres mais com que sonhar, não vale mais a pena viver”. E se for necessário morrer pela democracia, se for esse o nosso destino, que seja com coragem, dignidade e honra. As palavras do estadista Ulisses Guimarães na promulgação da Constituição Federal de 1988 não podem ser esquecidas: Temos ódio e nojo da ditadura.

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