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Giselle Mathias

Advogada em Brasília, integra a ABJD/DF e a RENAP – Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares e #partidA/DF

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O menino do Rio 3

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Por Giselle Mathias

Ela retornou a palestra e assim que terminou, voltou ao aplicativo, pois lembrou-se que esquecera seu amigo borboletinha em sua casa. Aliás, a Socióloga sempre presenteia suas amigas com um amigo borboletinha, acha essencial termos um.

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No aplicativo, como em um cardápio, busca um homem que mais lhe agrada, e se depara com um Deus de Ébano, daqueles esculturais, que pode lavar sua roupa no abdômen. Inebriada com aquela imagem, com o mesmo olhar ansioso de quem está prestes a comer seu doce preferido, ela começa uma conversa para marcar um encontro.

Iniciada a conversa, descobre que o homem que escolhera, no cardápio do aplicativo, era Engenheiro de petróleo, morava no Morro do Vidigal, era o primeiro em sua família a ter uma formação superior, e como ela, de esquerda. Dessa vez, não seria dispensada por sua posição política.

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Ela disse que não morava na cidade, e perguntou se isso seria um problema. O Engenheiro disse que não, pois estava à procura de um encontro casual. 

Pronto!

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Ela achara o que procurava, e adorou o fato de ele ter sido sincero, o que não é comum, nem mesmo para encontros casuais.

Acertaram o local; um barzinho charmoso no Leblon, bem no começo da noite. 

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Assim, foi feito! 

Saiu do congresso, passou no hotel em que estava hospedada em Copacabana, tomou um banho demorado, colocou um belo vestido, e já preparada foi se encontrar com o homem que escolhera no cardápio do aplicativo, por uma tela de celular.

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Chegou no local na hora combinada. O Engenheiro já estava lá a aguardando, tomaram uma cerveja, e decidiram ir para a casa dele. Ela adorou, nunca tinha subido o morro na Cidade Maravilhosa. Logo que chegaram ao pequeno apartamento, ele disse que desejava lhe mostrar a bela vista de sua moradia, e a levou no andar de cima, mais conhecido como laje; mostrou-lhe a vista maravilhosa daquela cidade, em uma noite iluminada pela lua cheia.

Os dois ficaram por alguns minutos observando aquela imagem, quando sem perceberem se viram na profundidade da súbita troca de olhares, e enxergaram quase imediatamente o vazio um do outro; não estavam mais protegidos pela tela do celular, ou na escuridão de uma noite sem lua.

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Naquele instante, eles verdadeiramente se encontraram, e resolveram dividir suas experiências e medos, e o porquê buscaram esse mecanismo virtual de defesa. Ele lhe contou sobre uma paixão, a qual entendia ser recíproca, mas não conseguiram ficar juntos, havia muita disputa, desconfiança, palavras não ditas, orgulho e tantas outras coisas que impossibilitam vivermos uma relação. Então, ele decidira só ter encontros casuais, não queria mais sofrer, estava com medo de amar.

Ela o ouviu com atenção, e, também, partilhou com ele suas dores, aflições e o vazio que sentia, mesmo com toda a proteção que acredita ter. Eles perceberam que se comportavam da mesma forma, e ela da maneira que mais abominava, o de tratar o outro como descartável, sem responsabilidade, sem consideração, olhando apenas o seu próprio prazer.

A Socióloga se sensibilizou com aquele homem, porque eles dividiram suas angústias, foram francos, e em nenhum momento tentaram se enganar, apenas se despiram. A conversa dos dois sobre os afetos, anseios, medos e alegrias durou muito tempo, até que o objetivo do encontro se concretizou, embaixo de uma linda lua, com a praia no horizonte e sob o calor da Cidade Maravilhosa.

Mais um dia de Congresso, e no início da noite a Socióloga retorna para sua casa. Deste encontro surgiu uma bela amizade. Ela nos contou que, de todos que tivera usando o aplicativo, este foi o único que permaneceu; aquele homem não era descartável, assim como ela não foi para ele.

O encontro se dera entre humanos, os dois se despiram de suas armaduras, tiraram as máscaras sociais impostas.

Hoje aconselham um ao outro, trocam ideias, se constroem com uma boa amizade. Eles não se veem mais apenas como objetos de prazer, mas encontraram-se na humanidade de cada um.

Eu e a Pesquisadora comentamos a história que acabáramos de ouvir, ela já tinha usado aplicativos, e disse que não conseguiu estar ali, como se fosse um pedaço de carne em exposição. Diante de sua fala, percebi o quanto ainda temos que refletir sobre como nos relacionamos, sobre o que esperamos do outro e o porquê acreditamos nas falácias ditas, e qual o vazio que tentamos preencher a partir do existir através de alguém.

A Socióloga nos mostrou, que apesar de, talvez, nem mesmo ela ter percebido a importância daquele encontro, pois continua tratando os homens como descartáveis, e sendo tratada assim, o quanto precisamos enxergar o outro e não agir da mesma forma superficial, não devemos aceitar a cultura imposta da descartabilidade das pessoas. Aquele encontro com o Engenheiro mostrou que é possível sermos humanos, ver o outro e sua essência, e apesar de ter sido um encontro casual, não ficou nenhum vazio neles, os dois permaneceram na vida um do outro, sempre com franqueza, solidariedade e compaixão.

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