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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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O mercado da morte

"Muita gente não respeitou as regras desde o inicio. Muita gente também teve que ir trabalhar sob pena de perder o emprego se não fosse. Como sempre os patrões estabelecem regras que não seguem o que a OMS diz e os empregados obedecem. A realidade é que passamos de 186 mil mortos hoje quando escrevo e as vagas nas UTIs sumiram. Mas como fazer diferente?", indaga Miguel Paiva

(Foto: Miguel Paiva)
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Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia 

Entendo a aflição das pessoas em sair de casa no meio desta pandemia, mas respeito esse sentimento nas pessoas que estão em isolamento. Muita gente não respeitou as regras desde o inicio. Muita gente também teve que ir trabalhar sob pena de perder o emprego se não fosse. Como sempre os patrões estabelecem regras que não seguem o que a OMS diz e os empregados obedecem. A realidade é que passamos de 186 mil mortos hoje quando escrevo e as vagas nas UTIs sumiram. Mas como fazer diferente? 

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Mas realmente não entendo quem abusa das aglomerações, vai para a praia como se não houvesse amanhã e continua ignorando as regras de isolamento social. Agora a Covid 19 está atingindo muito mais as pessoas mais jovens que são justamente aquelas que estão nas ruas. Elas se contaminam, as vezes nem manifestam os sintomas, mas contaminam seus pais, parentes idosos, ou vizinhos e nem ficam sabendo. Não adianta. Não há alternativa para o isolamento. É seguir e basta. 

Também entendo o calor, a vontade de arejar, de poder respirar um pouco fora do apartamento apertado, da casa sem conforto, da família aglomerada. Mas não é dessa gente que estou falando. Essa gente é minoria nos bares do Leblon ou da Vila Madalena, que vemos lotados todas as noites e pior, com o pessoal sem máscara.

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Daria para fazer quase tudo isso se a lei do isolamento fosse respeitada. Você pode sair, caminhar na rua, nos parques sem precisar aglomerar. Você pode encontrar seus amigos e queridos na rua, nas praças, até tomar uma cerveja, mas respeitando o distanciamento.

Mas custo a entender essa necessidade de comprar que sobretudo a população mais pobre tem. As ruas de comércio popular estão cheias, tão cheias quanto os anos passados.  Não são gêneros de primeira necessidade. Os supermercados nunca entraram em crise de abastecimento. São compras desnecessárias e sobretudo, e o que me intriga, presentes.

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Não é de hoje que reparo nessa necessidade atávica de presentear o próximo. É engraçado. Compram presentes para todos, para sobrinhos, mulheres, irmãos e filhos. Não são coisas caras, mas são presentes dados com o coração e com o pouco dinheiro que tem.

Penso que talvez seja uma necessidade de manter uma normalidade, em tempos de Covid ou não, e isso se manifesta na tradição. Dar presentes significa manter as coisas como estão, o dia depois da noite e o Natal no final do ano. Dar presentes é uma tradição sobretudo dos países mais pobres. Não lembro de ruas de comércio popular em outros lugares fora do Brasil assim lotadas. Se existem me digam, por favor. 

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Se você for perguntar a qualquer daquelas pessoas porque está ali ela irá dizer que é para comprar um presente de Natal para o sobrinho ou para a afilhada. Se não fizer isso o que pode acontecer? Se não houver Natal o que pode acontecer? O mundo vai acabar? A realidade vai mudar? O que é esse medo de criar novos hábitos que passam por novas regras que exigem de você mais do que você está acostumado a dar. Talvez isso explique o medo da transformação também. Talvez explique até os resultados eleitorais. Melhor ficar assim ruim do que arriscar o que não conheço e o que me dizem que é ruim. Negar uma mudança, negar um risco, negar o que depende também do seu gesto é mais fácil do que aceitar que as coisas podem e devem ser diferentes. Aglomerar nas ruas é manter essa “normalidade” como se nada tivesse acontecido. Melhor assim.

Melhor que o Natal continue, que Papai Noel apareça como sempre e que você seja olhado pelo próximo como uma pessoa normal que dá presente e é aceito na sociedade. Melhor assim, do que virar jacaré, certo?

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