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Weiller Diniz

Jornalista especializado em cobertura política, ganhador do prêmio Esso de informação Econômica (2004) com passagens pelas redações de Isto É, Jornal do Brasil, TV Manchete, SBT. Também foi diretor de Comunicação do Senado Federal e vice-presidente da Radiobrás, atual EBC.

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O mitômano do cercadinho cai no abismo

"Bolsonaro mentiu na Assembleia das Nações Unidas, em Nova Iorque, e virou chacota global", escreve o jornalista Weiller Diniz

Jair Bolsonaro durante entrevista na saída do palácio da Alvorada em Brasilia (Foto: Antônio Cruz/ Agência Brasil)
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Depois do fiasco golpista de 7 de setembro, o capitão arrastou o Brasil para outro vexame mundial, desta vez na história universal da mentira proclamada na ONU. Golpe tão inútil quanto a quartelada que malogrou por aqui. Despudoradamente, Bolsonaro mentiu na Assembleia das Nações Unidas, em Nova Iorque, e virou chacota global. Com o mesmo cinismo – repudiado pelos brasileiros e investigado pelo STF – Bolsonaro maquinou para o mundo a realidade paralela do cercadinho, inexistente e falsa.

Exumado da própria insignificância, o capitão defendeu o tratamento precoce, sepultado pela ciência, escondeu a corrupção das vacinas, comprovadas pela CPI, mencionou o crescimento fictício do emprego e citou um auxílio emergencial de 800 dólares, outro unicórnio nunca visto.

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A hipocrisia ética e a mentira patológica estarrecem. O partido pelo qual foi eleito usou laranjas. Os filhos estão investigados ou denunciados por corrupção, o vice-líder foi flagrado com dinheiro na cueca e o escândalo das vacinas está escancarado. Na Astrazeneca, contou uma testemunha, era cobrado 1 dólar de propina por dose. A compra da Covaxin, pedida por Bolsonaro, foi cancelada depois que a CPI encadeou mais de 20 irregularidades da negociata do imunizante. Entre elas superfaturamento, nenhuma dose entregue, falsificação de documentos, pressão em servidores, pagamentos antecipados em paraísos fiscais a empresas estranhas ao contrato. A compra só foi desfeita depois que o laboratório indiano descredenciou a intermediária, a Precisa Medicamentos, caloteira conhecida do líder do governo e ex-ministro da Saúde, Ricardo Barros.

 

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Os desvarios em terras estrangeiras, entretanto, não se limitaram às versões fraudulentas sobre a trágica realidade brasileira. Transbordaram para o comportamento delinquente da comitiva em solo norte-americano. O capitão foi alvo de um protesto em Nova Iorque, na noite da segunda-feira 20 de setembro, quando chegava a uma recepção. Um grupo de manifestantes, usando um tambor, gritava “Bolsonaro, pode esperar, a sua hora vai chegar” e “genocida”. Um caminhão com telões exibia imagens do presidente cercado por chamas e frases em inglês dizendo “cadeia para Bolsonaro” e “Bolsonaro está queimando a Amazônia”, entre outras.

A excursão para disseminar fake news e Covid-19 nos Estados Unidos rendeu um festival de gafes constrangedoras, expondo o anacronismo brasileiro e esfarelando o que restava da nossa imagem externa. Na mesma tarde da segunda-feira, Bolsonaro se encontrou com o premiê britânico Boris Johnson. O Inglês, negacionista convertido, recomendou a vacina da AstraZeneca/Oxford: “É uma ótima vacina. Obrigado, pessoal. Tomem vacinas da AstraZeneca!”, disse Johnson ao lado de Bolsonaro, único líder que declarou não ter tomado a vacina. “Já tomei duas vezes”, disse o premiê olhando para Bolsonaro. O ogro brasileiro respondeu que “ainda não”, se referindo a vacina. Bolsonaro ainda disse que está com imunidade contra Covid-19 alta porque já teve o vírus. 

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Jair Bolsonaro não passou de uma merecida irrelevância exótica entre os líderes mundiais e objeto de jocosidades, já que na cidade norte-americana é exigido o passaporte da vacinação contra a Covid-19 para frequentar lugares fechados, como restaurantes, cinemas, teatros e academias. Bolsonaro passou pelo constrangimento de almoçar em um lugar improvisado numa churrascaria brasileira. Foi montada uma área externa – cercada por uma grade e panos pretos que impediam a visão pelas pessoas da rua – para Bolsonaro e seu séquito de invertebrados driblarem as regras sanitárias. Após o almoço, Bolsonaro caminhou até o hotel e, no trajeto, foi xingado de “assassino” por uma brasileira que o reconheceu.

Outro embaraço foi ensejado pelo prefeito de Nova York, Bill De Blasio. Ele cobrou a vacinação contra a Covid-19 para participação na Assembleia da ONU. A organização do evento informou que não cobraria vacinação dos Chefes de Estado: “Precisamos mandar uma mensagem a todos os líderes mundiais, especialmente Bolsonaro, do Brasil, de que se você pretende vir aqui, você precisa ser vacinado. E se você não quer ser vacinado, nem venha, porque todos devem estar seguros juntos. Isso significa que todo mundo deve estar vacinado”, cobrou o democrata. Já no primeiro dia em solo americano, no domingo 19, Bolsonaro foi obrigado a entrar pela porta dos fundos do Hotel Intercontinental Barclay. Não havia nem sombra de apoiadores do capitão no local. Manifestantes contra o governo aguardavam o presidente com faixas na porta do hotel aos gritos em português e inglês “Bolsonaro genocida” e “criminoso”. As faixas contra o governo pediam “Fora Bolsonaro” e “Fora militares”.

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Com severas restrições em locais públicos de Nova Iorque por causa da pandemia, o capitão e seus bajuladores tiveram a primeira refeição em solo americano na sarjeta, já que estavam impedidos de ingressar em restaurantes e outros estabelecimentos fechados pela ausência de vacinação do seu mal-ajambrado líder. Em imagem divulgada pelo ministro do Turismo, Gilson Machado, ele apareceu ao lado de Bolsonaro comendo pizza em uma calçada. Com eles estavam o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga; da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres; da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos – aquele que tomou vacina escondido -; e o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães. Bolsonaro e seus ministros apareceram sem máscara em vários momentos.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro também foi hostilizado em uma loja de eletrônicos na 5ª Avenida, uma das vias mais famosas da cidade de Nova Iorque. Eduardo foi aos Estados Unidos acompanhando o passeio ocioso do pai. Um vídeo da confusão foi espalhado nas redes sociais. Em certo momento, entre gritos de “fora Bolsonaro”, o autor da gravação diz que o congressista é uma “vergonha para o Brasil”, alternando palavras em inglês e português. Para quem esteve na iminência de ser indicado para embaixada brasileira em Washington, na era Donald Trump, a humilhação pública foi desonrosa.

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Já o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anêmico no combate à Covid-19, reagiu com um gesto obsceno a um protesto de brasileiros em Nova Iorque. Em um vídeo postado nas redes sociais, Queiroga aparece em um micro-ônibus que transportava a comitiva. Os manifestantes estavam na calçada em frente ao hotel em que o bando estava hospedado, chamando Bolsonaro de “genocida” e “assassino” e gritando “Fora Bolsonaro”. Queiroga fez um gesto agressivo com o dedo médio expressando irritação. Para coroar o papelão, esteve no plenário da ONU e foi diagnosticado com Covid-19. Queiroga age como um miliciano, erguendo o dedo contra a ciência, contra a vacina e o uso de máscaras e contra o mundo, mas abaixa as calças para o obscurantismo mortal do bolsonarismo.

 

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A vergonha internacional não é inédita. Em 2019, estreia internacional do capitão na chacota global, criou-se uma expectativa quanto ao discurso dele no Fórum Econômico Mundial, em Davos. Os investidores esperavam alguma densidade envolvendo as prometidas reformas. A decepção foi geral. Num dos pronunciamentos mais curtos já vistos numa sessão inaugural do fórum de Davos –15 pífios minutos – Bolsonaro repetiu suas tolices eleitorais e demonstrou ao mundo seu populismo tosco e limitado.

“Tendo como lema Deus acima de tudo, acredito que nossas relações trarão infindáveis progressos para todos.”, disse ao concluir sua intervenção inicial. “Não queremos uma América bolivariana como havia antes no Brasil com outros Governos. Quero lhes deixar claro que a esquerda não vai prevalecer na América Latina, o que é muito positivo para a região e para todo o mundo”, acrescentou ao final de sua fala no auditório principal do centro de convenções de Davos. Mesmo teor ideológico anacrônico e delirante repetido na ONU. Foram apenas 2 dias de pura infâmia que emporcalharam a imagem do Brasil sob o servilismo e gastança de uma comitiva com mais de 50 pessoas.

O mesmo evento entrou para o anedotário mundial da degradação. Um incompreensível diálogo com Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, em janeiro de 2019. Nele, Jair Bolsonaro, o messias do atraso, disse querer explorar os recursos da Floresta Amazônica com os EUA. O conhecido ambientalista americano disse não ter entendido o que o presidente brasileiro quis dizer. Nas cenas, Al Gore se aproxima de Bolsonaro para mostrar solidariedade em relação ao estado de conservação da Amazônia, afirmando: “Estamos todos muito preocupados com a Amazônia, é algo que me toca profundamente”. O capitão reagiu toscamente: “Temos muita riqueza na Amazônia e eu adoraria explorar essa riqueza com os Estados Unidos”. Parece inacreditável.

Diante de um mundo irrecusavelmente globalizado, as lorotas de Bolsonaro na Assembleia da ONU e em outras vadiagens pelo mundo não alteram a visão trágica sobre o Brasil, apenas aprofundam nossa cova de descrédito. Estamos isolados, falidos e desmoralizados. Eis o legado de três anos de caos: a sarjeta. Nenhuma das falsidades proferidas na ONU serão levadas a sério pela civilização.

 

Para o mundo e 2/3 dos brasileiros, Bolsonaro não passa de um anão institucional, político medíocre e ser humano lamentável. Um homem das cavernas acuado nos labirintos da delinquência que envolve seus familiares e são apurados em várias instâncias. Após a eleição de 2022, o cercadinho de Bolsonaro deixará de ser a área externa do Palácio do Alvorada, podendo se transformar numa jaula, mais claustrofóbica, apertada e fétida.

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