CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Bia Willcox avatar

Bia Willcox

Empresária que escreve sobre relações de afeto, editora que fez Direito na UERJ, professora que dá palestras, mãe que produz conteúdos

62 artigos

blog

O mundo dos otakus

As razões para a disseminação dessa subcultura e a proliferação dos otakus não é tão óbvia assim. Pode ser por conta de um pessimismo generalizado

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Nos últimos dias tenho pensado muito na vida no Japão. Não, eu nunca morei lá e nem me identifico especialmente com a cultura nipônica. Mas descobri uma nova espécie de pessoas que vive lá e fiquei obcecada lendo sobre eles e tentando entender o que os leva a serem o que são.

Estou falando dos otakus, termo japonês que define jovens obcecados por computadores, mangás, animação e videogames e sem grande desejo de sexo.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Os otakus são geeks que mergulham num mundo de fantasia, deixando de lado qualquer possibilidade de vida social e amorosa presencial, carnal. E eles são muitos hoje no Japão.

O que mais me impressionou na minha descoberta é que há otakus de quase 40 anos, alguns casados, que vivem uma história de amor virtual paralela ao seu cotidiano real. Os otakus têm pouco interesse em sexo e se não houver nenhum fato novo nas próximas décadas no Japão, eles serão responsáveis por um terço de redução da taxa de natalidade em 2060.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Especialistas atribuem essa fuga da realidade dos otakus a muitos anos de estagnação econômica que os desmotiva e os faz criar um mundo de fantasia onde eles se sentem felizes e realizados. A falta de ambição pós-guerra em transformar o Japão numa potência, a falta de vontade em fazer parte de grandes corporações e ter grandes salários contribuíram, segundo eles, para que essas pessoas, em número cada vez maior, sejam chamadas de herbívoros - pessoas passivas e sem desejo carnal.

O mais impressionante de tudo o que descobri é que muitos otakus se relacionam com um videogame da Nintendo - Love Plus, só comercializado no Japão. São namoradas virtuais que se apresentam numa espécie de tablet e eles a levam pro parque, pro cinema e compram presentes e doces pra elas.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Sim, é estranho, bizarro.

Minha impressão é que eles querem transformar a ilha numa espécie de Terra do Nunca, alegando que o relacionamento com uma garota virtual de 15 anos (e eles têm virtualmente um pouco mais) é o melhor dos relacionamentos de juventude, mas sem a pressão de casar e constituir família. Estão felizes. Saem por aí carregando o tablet pro cinema na cesta de suas bicicletas. Há otakus casados que omitem essa relação extraconjugal de suas mulheres. Eles as traem com verdadeiros tamagotchis.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

É conhecido também o caso de um jovem japonês que se casou com seu Nintendo DS.

Oi?

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Acho que consegui justificar o meu estado de choque.

Os casais japoneses hoje fazem pouco sexo, mesmo quando vivem juntos. E cresce o número de pessoas que, sem muito ou nenhum desejo sexual, querem relacionamentos com garotas virtuais perfeitas. Querem jogar o amor. Querem relacionamentos perfeitos, prolongando indefinidamente um estado de infância onde não há problemas, decepções ou grandes sofrimentos.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

As razões para a disseminação dessa subcultura e a proliferação dos otakus não é tão óbvia assim. Pode ser por conta de um pessimismo generalizado e falta de perspectivas de se chegar ao nível de riqueza da geração de seus pais. Mimados?

Se isso fosse razão suficiente, teríamos muitos brasileiros vivendo mundos virtuais de fantasia e alienação, já que vivemos crises e falta de perspectiva em muitas classes sociais. E encaramos tudo! Ou quase tudo.

O Japão lutou pra preservar sua cultura única em um mundo globalizado. Superprotegeu seu povo? Infantilizou os jovens em sua bolha? Fabricou otakus?

Continuo pensando e compartilho minhas dúvidas e aflições agora com vocês leitores.

Afinal, se relacionar com máquinas, assumindo um personagem e abrindo mão de sexo e procriação não é um fenômeno de explicação fácil.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO