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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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O natal e o brasileiro: um momento de reflexão política

A gente anda pelas ruas e só o que a gente vê é o povo simples trabalhador que vive com dinheiro contado. Esse mundo de Daslu natalino e cheio de luzinhas só existe nas propagandas da TV aberta, na prisão domiciliar de delatores da Lava Jato e na cabeça do jornalismo obediente - cuja missão premente é resistir o máximo possível à realidade

Na foto fila do desemprego - carteira de trabalho. 29/10/2013 Foto: Divulgaçao (Foto: Gustavo Conde)
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A gente anda pelas ruas e só o que a gente vê é o povo simples trabalhador que vive com dinheiro contado. Esse mundo de Daslu natalino e cheio de luzinhas só existe nas propagandas da TV aberta, na prisão domiciliar de delatores da Lava Jato e na cabeça do jornalismo obediente - cuja missão premente é resistir o máximo possível à realidade.

O mundo real é outro. Trabalhadores sem aposentadoria - ou com uma aposentadoria que é quase um deboche - circulam pelos mercados populares para, num misto de expressão de dor e sorriso de gratidão, comprarem um alimento a mais para a ceia de natal, cristãos disciplinados que são. E ainda há quem pense que o brasileiro é "católico não praticante".

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O brasileiro é o católico mais praticante do mundo. Ele aceita de bom grado a recompensa post mortem. Trabalha a vida inteira para servir o topo da pirâmide que, em retribuição, retira-lhes toda a proteção social que governos legítimos foram capazes de produzir. O céu que se encarregue da redenção.

Esses brasileiros pegam as filas resignados e são igualmente atendidos por funcionários resignados, trabalhando agora em regime intermitente. Incrível como 1 ano e 8 meses de ingerência política é capaz de destruir a autoconfiança e o ar de soberania que brasileiro ostentava há 4 anos. Nem na ditadura se via tanta desesperança contida e medo nas feiras e mercados populares.

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Há também uma ressaca moral nesses heróis trabalhadores porque eles não ficaram fora do surto de ódio que se alastrou pelo país em meados de 2013. Eles parecem, neste momento, pedir desculpas a si mesmos, corroborando o que todas as estatísticas apontam como o sentimento que ora prevalece: arrependimento.

Não havia, no entanto, outra maneira de processar o volume de ódio artificial e classista insuflado pelos meios de comunicação ao longo de uma década. Teria de ser por meio de catarse e a catarse foi o impeachment sem crime. Como em todas as situações de ordem simbólica, é preciso você perder algo para compreender sua importância.

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Essa resignação silenciosa é o verdadeiro luto que o brasileiro experimenta. Aquele "luto" artificial que atrizes globais representaram tão mal em fotos de estúdio antecipou, enquanto farsa, o que estava por vir: a dor da perda do sentido da democracia.

 Todo esse conjunto de farsas, fobias e narrativas forjadas, que serviram de substrato para o golpe, mexidos com doses maciças de senso comum, é parte do pacote: ele contribui para que a realidade política continue opaca. A própria compreensão das causas que levaram ao derretimento institucional do país vai sendo adiada em função dessas antecipações farsecas. A interpretação é explícita demais, por isso sua cifra, paradoxalmente, ideológica e/ou ingênua: nada pode ser tão explícito assim.

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Há, no entanto, a fadiga de material golpista. O povo está aparentemente resignado, mas deixa o seu recado nas pesquisas de opinião. Todo esse processo, por assim dizer e a médio prazo, terá como consequência a chegada do brasileiro à maturidade política e democrática. Se é possível dizer que aprendemos com erros, jamais estivemos em outro momento histórico tão aptos a aprender. Feliz natal a todos.

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