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Robson Leite

Professor Universitário, funcionário concursado da Petrobras, ex-deputado estadual (PT-RJ) e ex-Superintendente Regional do Ministério do Trabalho e Emprego do RJ no Governo Dilma Rousseff

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O novo plano estratégico da Petrobras e os desafios para a sua prática

"Os desafios são enormes e é exatamente por isso que a formação contínua e de alto nível realizada por uma universidade corporativa será indispensável"

(Foto: Fernando Frazão/Ag.Brasil)
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A mudança da estratégia da Petrobras, como muito bem definida pelo seu presidente, Jean Paul Prates, é basilar para que a companhia encontre o rumo da lucratividade combinando sustentabilidade e responsabilidade para com o futuro exitoso da empresa e do país. Porém, além de sua formulação e construção, há outro grande desafio que se apresenta para o novo plano estratégico: o quanto ele será abraçado pelos gestores e empregados da companhia, sobretudo em um cenário internacional de constantes e profundas mudanças de ambientes que influenciam diretamente no plano: guerra, preço do barril de petróleo, crises econômicas etc.  A estruturação de uma solução para este problema, levando em consideração o envolvimento de líderes e colaboradores da empresa para a elaboração e prática do plano neste cenário conturbado de profundas mudanças, tem consumido bastante tempo das organizações, e principalmente do meio acadêmico, pois ele tem reflexos contundentes em diversos setores, sobretudo o de energia.

Entretanto, para falar do desafio de formular, elaborar e praticar o plano estratégico de uma empresa do porte da Petrobras, faz-se mister conceituar estratégia e os seus desdobramentos mais modernos na academia e nas organizações. Desde as primeiras definições do termo estratégia, que datam de 3000 A. C. com o General Chinês Sun Tzu, até as mais modernas concepções e aplicações de seu estudo acadêmico, fica evidente que essa ciência demorou muito tempo para amadurecer. Por outro lado, a partir da segunda metade do século XX, o campo de estudo e aplicação da estratégia empresarial ganhou grande relevância em função do forte ambiente de competição por mercado neste período da história recente. Isso tem levado as organizações a aumentar os investimentos em suas áreas de estratégia para pesquisar, formular e colocar em prática os seus planejamentos estratégicos (CAMARGOS e DIAS, 2003; VASCONCELOS, 2001; LEITE, R. C. , 2018).

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Ainda dentro deste contexto, o forte crescimento que as organizações experimentaram neste período mais recente da história combinado com o incremento considerável do ritmo de mudanças de ambiente que assistimos no mundo de hoje trouxeram a necessidade, para estas organizações, de uma maior capacidade em elaborar, implementar e sobretudo adaptar os seus planos estratégicos de forma a possibilitar a superação dos desafios organizacionais de curto, médio e longo prazos (MATUS, 2005; LEITE, R. C., 2022). O corpo funcional destas organizações assume, em função deste cenário, relevância significativa para conduzir, liderar e executar suas tarefas cotidianas alinhadas ao plano estratégico.

No caso específico da Petrobras, as conceituações e experimentos acadêmicos explicitados acima são bastante evidentes, e ao mesmo tempo instigadores, para o cumprimento das metas organizacionais que o novo plano estratégico, alinhado com os importantes desafios que a nova direção apontou, apresentará para este novo ciclo. Todavia, os importantes investimentos que a empresa recebeu no período dos governos Lula e Dilma possibilitaram um grande salto qualitativo na formação de seu corpo funcional o que facilita, sob determinado aspecto, esta tarefa, apesar de todo o retrocesso que a empresa viveu nos últimos seis anos.

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A atual capacidade de inovação, desenvolvimento e pesquisa da empresa, mesmo com todo o desmonte do último ciclo, reflete bem isso. Inclusive, vale acrescentar que a Petrobras resistiu aos desmontes, disfarçadamente chamado de “desinvestimentos” executados nos últimos seis anos, muito em função da capacidade de organização e resiliência do movimento sindical, mas também como consequência da elevadíssima qualidade técnica, marcadamente presentes no alto nível de seus profissionais formados na antiga, e agora novamente mais que necessária, Universidade Petrobras. Afirmo isso em função da urgência, não apenas de resgatar esse papel para esta universidade corporativa, mas sobretudo de colocá-la como uma entidade dirigente e responsável pela inculturação e absorção do futuro novo plano estratégico por todo o seu corpo funcional. Não será razoável, frente aos desafios que temos na formulação e prática do novo plano, que ele seja apenas um quadro na parede de seus gerentes e dirigentes ou um power point muito bonito presente nas redes internas e externas da companhia. Não será suficiente que o novo plano estratégico seja facilmente acessado pelos stakeholders da Petrobras. Ele precisa estar nos corações e mentes destes profissionais que são os grandes agentes da necessária transformação que se exigirá da companhia.

Cada empregado tem que ser um protagonista da prática do plano, conforme muito bem expõe Richard Whittington (2006) em seu trabalho acadêmico, mas isso não é suficiente para os dias atuais (LEITE, R. C. , 2018, 2022). Cada gestor, dirigente e colaborador precisa assumir o papel de ser o identificador dos elementos que ameaçam, impedem, fortalecem ou potencializam o atingimento dos objetivos organizacionais previstos neste plano. E muitas das vezes, o completo envolvimento deste colaborador, gestor ou dirigente com o plano permite que as mudanças, que podem ser benéficas ou prejudiciais, sejam devidamente tratadas com agilidade e competência na companhia.

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Carlos Matus, um importantíssimo intelectual do campo da estratégia e pai do Planejamento Estratégico Situacional (MATUS, 1991) – importante metodologia acadêmica utilizada para tratar com agilidade e precisão as mudanças de cenário que possam surgir e impactar o plano –, apresenta apontamentos importantes no mapeamento e controle de variáveis que estão ao redor do ambiente onde acontece a prática do plano. Contudo, este mesmo autor coloca como elemento fundamental a preparação e capacitação dos empregados da organização, tanto líderes quanto colaboradores, para o melhor cumprimento do planejamento estratégico.

Os desafios são enormes e é exatamente por isso que a formação contínua e de alto nível realizada por uma universidade corporativa, orientada à missão e aos valores da Petrobras, será arcabouço indispensável para que a companhia alcance os objetivos que estarão contidos no plano e retome o patamar de uma empresa que pensa o seu futuro crescendo de forma sustentável e lucrativa ao mesmo tempo que ajuda o Brasil a se desenvolver.

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Robson Leite é professor universitário, escritor, funcionário de carreira da Petrobras e foi Superintendente Regional do Ministério do Trabalho e Emprego no RJ entre 2015 e 2016.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CAMARGOS, M.; DIAS, A. T. Estratégia, administração estratégica e estratégia corporativa: uma síntese teórica. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 27-39, 2003.

LEITE, R. C. O dirigente como gestor da estratégia: a prática no setor público frente aos complexos cenários de mudanças. UFRRJ, 2018. Dissertação de Mestrado Premiada pela SBAP em 2019 (Sociedade Brasileira de Administração Pública) como melhor trabalho acadêmico de 2018.

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LEITE, R. C. Estratégia e Liderança em tempos de profundas mudanças: o caminho do sucesso na organização pública. Editora Dialética (2022).

MATUS, C. Teoria do jogo social. Fundap, 2005.

MATUS, C. O plano como aposta. v. 5, n. 4, São Paulo: Perspectiva. 1991, p. 28-42.

VASCONCELOS, F. Safári de estratégia, questões bizantinas e a síndrome do ornitorrinco: uma análise empírica dos impactos da diversidade teórica em estratégia empresarial sobre a prática dos processos de tomada de decisão estratégica. XXV ENANPAD, 25º Anais... Campinas: ANPAD, v. 1, 2001.

WHITTINGTON, R. Completing the Practice Turn in Strategy Research. Organization Studies, v. 27, n. 5, p. 613-634, 2006

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