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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

203 artigos

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O ouro vil

Milton Ribeiro (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
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“Sou um homem perverso e desonesto, sem espírito nem consciência, mas uma vez que se respeita o dinheiro, a pessoa que o possui também goza de respeito”. A observação de Marx aparece no não menos importante livro de Lucien Goldmann Le Dieu caché. Cai como uma luva no momento atual da política brasileira, num governo que gosta de se afirmar como avesso à corrupção. Pois ela ressurge com força justamente onde menos devia se instalar: nas verbas do MEC destinadas ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Ali, num conluio entre pastores, segundo se noticia, utiliza-se uma espécie de gabinete paralelo, reunindo evangélicos e autoridades do Estado para beneficiar prefeituras comprometidas como uma certa vertente religiosa e correntes ideológicas afins. E não se trata somente de recursos. Barras de ouro, o vil metal, se destacam na transação, juntando educação, religião e concessões para exploração imoral de garimpo em terras indígenas.

A nebulosidade da cena se revela tão intensa que quase chega a cegar os olhos de observadores bem intencionados. Então era isso a ausência de corrupção no governo? São conhecidas as necessidades de investimento nas escolas da rede de ensino de primeiro, segundo e terceiro graus. Países que deram o salto da miséria para uma situação de dignidade histórica (vide China, Coreia, Japão etc.) entenderam com clareza meridiana onde e de que maneira aplicar seus capitais. Corrigiram o analfabetismo e foram além, respeitando-se a si mesmos e sendo respeitados pelos outros. Mas nos encontramos no Brasil, uma nação de dimensões quase continentais, herdeiro do escravismo e incapaz de compreender, por falta de generosidade social, como trilhar os caminhos da emancipação. Esforços em sentido contrário houve – e muitos: Darcy Ribeiro, Paulo Freire, dentre outros, os que se dedicaram à ideia da escola integral, sempre extremamente combatidos. O MEC, por seu turno, já teve, entre dirigentes, nomes de valor, bem como propostas dignas de nota. No entanto, como se gostássemos de subir para descer às pressas, com a velocidade da luz, recentemente passamos de um falastrão adepto de palavras de baixo calão e terminamos num evangélico preconceituoso. Ele prega, na disciplina das crianças, a agressão física; é homofóbico e não tem pudor de nomear para a presidência da CAPES a dona da instituição privada onde estudou. Finalmente, para ficar ainda melhor na foto, agradam-lhe as homenagens ao chefe, pelo que costuma dizer, facilitando-lhe os encaminhamentos. Deu no que deu. Eva deixou de ver a uva e saiu correndo, escandalizada, para esconder a própria cara. Já imaginávamos a cena. Paulo Freire havia alertado: não basta saber mecanicamente que Eva viu a uva. É preciso compreender a posição de Eva no seu contexto social, quem ocupa as posições de comando e daí por diante. No fim do percurso, ocorreria a libertação. 

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O ouro fácil e vil, a ganância atrás de lucros e inconsciente às dores da população garantem o quadro de anomalias que passamos a acumular de tempos para cá, desde que, num golpe parlamentar, interrompemos a normalidade democrática e criamos a caixa de Pandora de onde passamos a extrair os nomes da atual política. É possível que, de escândalo em escândalo, chocando a opinião pública com vem acontecendo, despertemos da letargia. Talvez não demore muito. Falta apenas ver a uva. 

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