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Jean Goldenbaum

Músico, professor da Universidade de Música de Hanôver, Alemanha. É membro fundador do ‘Observatório Judaico dos Direitos Humanos do Brasil’ e fundador do coletivo ‘Judias e judeus com Lula’

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O país dividido em três e o prenúncio da repetição de erros do passado

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Chegamos ao meio do caminho. Dois anos sob a presidência do mais lesivo, incompetente e perigoso líder da história do Brasil. E certamente entre aqueles da história mundial o Capitão do Neonazifascismo também não fica muito atrás. Não é muito comum encontrarmos no curso da humanidade um líder que tenha chegado ao poder que consiga reunir somente nocividades, como este cidadão; uma pessoa que abraça absolutamente tudo o que é contrário aos Direitos Humanos, à Justiça Social, à Democracia. Este é o presidente do Brasil, um monólito de negatividades.

E 55 milhões de pessoas o elegeram. Sabemos, há uma grande parcela deste número que mal sabe distinguir entre certo e errado em se tratando dos mais elementares valores da estrutura social e comunitária. Esta é uma parcela completamente vulnerável à dominação mental e ao deterioramento cerebral conduzido pelos dois maiores maquinários de poder que se instalaram sobre a sociedade brasileira: a indústria das fake news e a seita evangélica neopentecostal. Ambas se fundamentam sobre dois pés: a inverdade e o ódio. Enquanto a primeira consiste na otimização da conhecida máxima nazifascista “um mentira repetida até virar verdade”, a segunda se esteia na completa subversão dos valores cristãos, ou seja, ela se pauta no inverso daquilo que diz se pautar. Desta forma, da “mamadeira de piroca” de 2018 à “vacina chinesa que transmite AIDS e câncer” de 2020, o “cristão cidadão de bem que faz arminha com a mão” chega ao meio do mandato do obscurantista governo bolsonarista mais ignorante e pastoreado do que nunca.

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O que me motivou escolher desta vez este tema para meu artigo semanal foi a recente pesquisa de avaliação do Governo Bolsonaro realizada pela CNI, que evidencia a completa e infeliz estagnação do cenário político e eleitoral brasileiro. Os números mostrados são praticamente idênticos aos de janeiro de 2019: o país dividido em três terços. Um terço pró-Bolsonaro (que avalia o governo como ótimo ou bom), um terço contra Bolsonaro (que qualifica como ruim ou péssimo), e um terço neutro (que considera regular). O interessante é que estes números mostrados por esta pesquisa são bastantes condizentes com o resultado eleitoral de 2018, no qual cerca de um terço do país votou no tal cidadão, um terço votou em Fernando Haddad e um terço se absteve.

Pois bem, minha análise é seguinte: o núcleo duro bolsonarista, formado por um cerne nazifascista, se manteve intacto, como era de se esperar. Essas pessoas raramente mudam, afinal sua ideologia ultraconservadora, homofóbica, racista é sólida e maciça demais. Votaram em Bolsonaro pelo que ele representa e continuarão a votar pois ele continuará representando.

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Por sua vez, o terço contrário ao bolsonarismo também é consistente e substancial, e não haveria de se desfazer ao longo destes dois anos. São em sua maioria pessoas convictas sobre sua ideologia antinazifascista e ainda mantêm a mesma concepção do movimento EleNão. Desta forma, independentemente do partido que preferem, continuarão a votar no candidato contrário a Bolsonaro.

A má notícia para o Brasil reside no terço restante: os abstêmicos. O perfil destas pessoas é quase sempre este: não votaram em Bolsonaro porque ele é grotesco e bizarro demais, mas se recusaram a votar em Haddad por causa do antipetismo (produzido criminosamente sobretudo pela mídia mainstream encabeçada pela Globo). Então se abstiveram, se tornando – ao meu modo de ver – cúmplices da ascensão do Neonazifascismo no Brasil. São estas pessoas que respondem hoje que o governo bolsonarista é regular, afinal ele gera a elas sentimentos mistos. De certa forma as desagrada pela truculência e pequenez do líder, mas por outro lado as agrada pela postura econômica ou pelo simples e irracional fato de se distanciar de políticas populares características dos governos Lula e Dilma.

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E aqui está o maior problema de toda esta questão: a História nos ensina que, em cenários eleitorais como este, os polos opostos pouco se alteram. A que é fortemente passível de mobilidade é a parcela abstêmica, que não é plenamente convicta nem sobre um lado nem sobre o outro. Foi exatamente este fenômeno que ocorreu nos EUA e derrubou Donald Trump (também o pior presidente da história de seu país). E é isso que precisamos para derrubar Bolsonaro. Explico:

Entre as eleições estadunidenses de 2016 e 2020, houve uma enorme mudança com relação aos abstêmicos. Aproveito para esclarecer que o fato de o voto ser obrigatório no Brasil e não ser nos EUA não configura nenhuma diferença neste caso, afinal o brasileiro possui a possibilidade de anular ou votar em branco (ou até mesmo não comparecer e depois justificar). Esclarecido isto, vamos lá: em 2016 45% da população estadunidense não votou e em 2020 este número caiu para 34%. Estes 11% a mais que votaram representam cerca de 26 milhões de votos, ou seja, uma quantidade muito considerável. Destes 26 milhões, cerca 15 milhões optaram por Joe Biden, enquanto 11 milhões escolheram Trump. Desta forma, ainda que Trump tenha crescido de 63 a 74 milhões de votos de uma eleição a outra, seus adversários cresceram de 66 (Hillary Clinton) a 81 (Biden). Assim, a vitória no voto popular de Hillary por 3 milhões (que não foi suficiente para derrotar Trump no sistema de colégios eleitorais) se transformou em uma vitória de Biden por 7 milhões (que foi suficiente para derrotar o “pai de Bolsonaro”).

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Portanto, se não fosse a metamorfose do grupo de pessoas que não votou, Trump teria sido reeleito. E acredito que no Brasil o cenário é muito semelhante neste sentido, ao passo que em 2022 certamente mais uma vez teremos Bolsonaro contra alguém no segundo turno. Este alguém poderá ser da Esquerda novamente – se esta conseguir se organizar em uma frente única – ou do “Centrão/Direita não-bolsonarista”. E então o grupo abstêmico, seja ele o mesmo de 2016 (que representou cerca de 43 milhões de pessoas) ou um diferente, terá de agir para derrubar o representante do Neonazifascismo no Brasil, uma vez que os seguidores do culto bolsonarista não desaparecerão, assim como os do culto trumpista não desapareceram.

Que solução sugiro então para este delicado e pessimista cenário em que nos encontramos? Acredito que o único caminho é a formação imediata de uma frente única de Esquerda (PT, PSol, PCdoB, PDT, PSB, Rede – ou mesmo sem estes três últimos, se não quiserem entrar), para que nos próximos dois anos exista uma campanha obstinada e infatigável que conscientize o povo acerca do significado de toda a destruição que o bolsonarismo está realizando no Brasil. Se for possível mobilizarmos um quarto dos abstêmicos para que votem na Esquerda em 2022, haverá reais chances de derrotarmos a Extrema-direita e retomarmos o país. É claro que nem todos os abstêmicos são reversíveis, e muitos podem ir também para o outro lado. Porém da mesma forma que Biden conquistou importante parcela deles – em grande parte por ter dialogado mais com os progressistas do que Hillary o fez –, podemos também atingir este objetivo. Mas somente se houver união dos partidos do espectro esquerdista.

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Em suma, esta inércia e não-evolução no campo eleitoral brasileiro é extremamente preocupante, afinal, se nada mudar, Bolsonaro continuará na presidência. E para concluir, mais um aprendizado que a História nos ensinou: se um nazifascista conquista o poder, quanto mais demorar para conseguirmos expulsá-lo, mais difícil isto se torna. Eles não possuem escrúpulos e caminham sempre em frente com seus nefastos planos, como se prova todos os dias no Brasil. Portanto, a cada dia que passa e não conseguimos metamorfosear o cenário do país, caminhamos em direção à repetição dos erros de 2016, nos distanciando cada vez mais da civilização e nos aproximando cada vez mais do precipício da barbárie.

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