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Carla Teixeira

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História Membro do Conselho Editorial da Revista Temporalidades - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

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O passado que não passa: três anos sem Marielle

"Solucionar a questão não é apenas resolver um caso qualquer de homicídio, mas oferecer o respiro necessário à nossa democracia sufocada e consolidar as liberdades democráticas conquistadas com milhares, milhões de vidas ao longo da nossa história. Quem mandou matar Marielle e por que?", questiona a doutoranda em História Carla Teixeira

Manifestação cobra três anos sem respostas: “quem mandou matar marielle?”
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O covarde assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e do seu motorista, Anderson Gomes, completa três anos sem que as autoridades competentes saibam responder a pergunta elementar: quem mandou matar Marielle e por que? A sofisticação do crime e o evidente caráter político de sua execução trouxe de volta aquela realidade presente durante a Ditadura Militar quando defensores dos direitos humanos, das liberdades democráticas e das lutas anticapitalistas eram sequestrados, torturados e assassinados por agentes do Estado sem que qualquer investigação ou punição fosse aplicada aos responsáveis.

Se até hoje não é possível apontar o mandante do assassinato de Marielle e Anderson, é um óbvio ululante que as milícias cariocas, máfias que dominam territórios e agem sobre decisões políticas, sãos responsáveis pelo crime. É plausível afirmar que, mesmo após a Constituição de 1988, o Brasil segue contando com Esquadrões da Morte (grupos de extermínio como aqueles comandados pelo delegado Fleury, na Ditadura Militar) que, em conluio com grupos políticos, integram as polícias e corrompem os agentes do Estado no exercício da violência contra a população civil.

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As munições calibre 9 mm que mataram Marielle e Anderson pertencem ao mesmo lote daquelas utilizadas na maior chacina do estado de São Paulo, em 2015, quando 23 pessoas foram assassinadas e sete ficaram feridas, num intervalo de duas horas, em ataques ocorridos nas cidades de Osasco e Barueri. Até hoje não sabemos como essas munições foram desviadas, mas é tácito que trata-se de lote separado para cometer crimes e ações por parte de grupos, inseridos no sistema repressivo, que atuam contando com financiamento, aparato técnico e treinamento do Estado.

Tudo ficou ainda mais escandaloso quando descobriu-se que o acusado de efetuar os disparos contra Marielle e Anderson, Ronnie Lessa – ligado ao contrabando de armas e às milícias -, era vizinho do atual presidente da República e recebeu, no dia do crime, o seu cúmplice, Élcio Queiroz, cujo registro de visita remete à casa 58, de Jair Bolsonaro, não à casa 65, de Ronnie Lessa. O filho 03, Carlos Bolsonaro, estava presente no condomínio durante o horário da reunião, de acordo com vídeo publicado por ele mesmo, na internet. Ao ver que estava se auto incriminando, excluiu suas redes sociais e sumiu por uns dias.  

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A ligação dos Bolsonaros com grupos de extermínio é antiga. Ronnie Lessa era o chefe da milícia da comunidade Rio das Pedras, o mesmo lugar que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, se escondeu antes de ir a São Paulo, em dezembro de 2018, para tratar um câncer, no hospital Albert Einstein. Pouco tempo depois, descobriu-se que dois promotores, ligados ao caso da morte de Marielle e Anderson, fizeram campanha para o atual presidente. Vazamentos de trechos das apurações, de interesse da família, mostraram acesso ilegal às investigações. Suspeitos de envolvimento no crime também tinham fotos, na internet, ao lado de Bolsonaro e seus filhos.  

O que a morte de Marielle e Anderson traz à tona é o envolvimento do presidente da República e do seu grupo político com suspeitos de terem participação em assassinatos políticos. Marielle - mulher, negra, lésbica, nascida e criada na favela da Maré, foi mãe jovem e correspondeu à exigência meritocrática ao chegar à pós-graduação e ser eleita vereadora, em 2016, com mais de 46 mil votos – foi covardemente assassinada numa tentativa de silenciar seu pensamento e eliminar a sua luta. Trata-se de um crime político executado pelas milícias à serviço da extrema-direita que, atualmente no poder, oferece uma série de medidas que facilita o acesso e o comércio de armas, a cooptação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal com o apoio de integrantes das Forças Armadas.  

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A covarde execução de Marielle escancarou a fragilidade da nossa democracia e mostrou como a institucionalização secular da violência contra grupos marginalizados leva a um senso comum que naturaliza agressões, massacres e torturas. Os assassinos de Marielle carregam a mesma motivação que detinham os torturadores dos porões da ditadura: eliminar a diferença para conservar a desigualdade. O cálculo sinistro que nos faz viver, permanentemente, num passado que não passa.

 A morte de Marielle e Anderson é símbolo do estado autoritário que avançou a partir de 2016 e adquiriu contornos mais bem definidos com a eleição do atual presidente, rebento das milícias cariocas. Solucionar a questão não é apenas resolver um caso qualquer de homicídio, mas oferecer o respiro necessário à nossa democracia sufocada e consolidar as liberdades democráticas conquistadas com milhares, milhões de vidas ao longo da nossa história. Quem mandou matar Marielle e por que? Sem essa resposta, seguiremos com nossa democracia incompleta e vulneráveis ao autoritarismo.

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