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Mirela Filgueiras

Jornalista, com especialização em Teorias da Comunicação e da Imagem. Tem experiência nas áreas de webjornalismo, assessoria, rádio e televisão. Estuda as relações entre cibercultura e jornalismo

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O pobre de direita é o verdadeiro colonizado

O pobre de direita, por pertencer à classe média branca, não se reconhece como o "colonizado incompetente", se acha o europeu que sofre em "terras selvagens". Mas ele é o verdadeiro colonizado. Um pato que se veste de verde e amarelo para defender os interesses dos Yankees, achando que vai voltar a fazer compras em Miami

O pobre de direita é o verdadeiro colonizado (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
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Tem algo de muito errado com uma sociedade que pede um golpe político, que sai em passeatas pedindo a volta da ditadura militar. Tudo por despeito de conviver com uma nova classe média, emergente das políticas sociais do PT.

A tradicional classe média brasileira sempre foi de típicos profissionais liberais e de servidores públicos. Alguns são os pobres de direita. Pobres de direita são pessoas que colocam seu mérito, sua relevância, no preço das coisas que possuem, ou dos serviços que usufruem. Pertencem à classe média, dependem de uma renda mensal para sobreviverem, mas se acham ricos.

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Ser especial, para o pobre de direita, é consumir coisas caras. Tudo se resume em "ser rico" e se sentir, por isso, especial e melhor do que os outros. Danuza Leão, no famigerado texto Ser Especial, definiu essa mentalidade fútil e mesquinha. Para ela, certamente porta voz dos pobres de direita, "Ir a Nova York perdeu a graça. Até o porteiro do meu prédio vai. Imagine ir e dar de cara com o porteiro!". (Leão, 2012.).

Sim, por que como o pobre de direita irá se diferenciar e se achar superior se "qualquer um" também puder viajar para os lugares que ele vai, comprar as marcas que ele usa ou ir para o shopping que ele frequenta? Para o pobre de direita, não basta que ele ganhe um bom salário, é necessário que o outro continue mal pago, mantenha distância dos shoppings e dos aeroportos.

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Mentalidade de colonizado

Lendo O Local da Cultura, de Homi Bhabha, restou mais claro que o nosso complexo de vira-lata tem sua origem no discurso colonial e é comum a outras colônias. "É uma forma de discurso crucial para a ligação de uma série de diferenças e discriminações que embasam as práticas discursivas e políticas da hierarquização racial e cultural.". (BHABHA, p. 107, 1998).

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Segundo Bhabha, o discurso colonial é um aparato de poder

"que se apoia no reconhecimento e repúdio de diferenças raciais/culturais/históricas. Sua função estratégica predominante é a criação de um espaço para 'povos sujeitos' através da produção de conhecimentos em termos dos quais se exerce vigilância e se estimula uma forma complexa de prazer/desprazer. Ele busca legitimação para suas estratégias através da produção de conhecimento do colonizador e do colonizado que são estereotipados mas avaliados antiteticamente. O objetivo do discurso colonial é apresentar o colonizado como uma população de tipos degenerados com base na origem racial de modo a justificar a conquista e estabelecer sistemas de administração e instrução." (BHABHA, 1998, p. 111,).

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O pobre de direita reproduz esse discurso ao justificar, por exemplo, a venda (a preço de banana) das nossas estatais afirmando que o brasileiro não tem competência pra gerir suas próprias riquezas, que competente mesmo é o estrangeiro, o colonizador, que hoje não é mais Portugal e sim os Estados Unidos.

O pobre de direita, por pertencer à classe média branca, não se reconhece como o "colonizado incompetente", se acha o europeu que sofre em "terras selvagens". Mas ele é o verdadeiro colonizado. Um pato que se veste de verde e amarelo para defender os interesses dos Yankees, achando que vai voltar a fazer compras em Miami.

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Nosso complexo de vira-lata, nosso preconceito de classe, nosso racismo, nosso discurso colonial vai nos arrastar para a miséria. Pobres de direita, pobres de esquerda, todos pobres.

Um passo em frente, dois atrás

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Perdemos 21 anos só com a ditadura militar de 64 (se contarmos os desgovernos de Sarney, Collor/Franco e FHC, então foram 38 anos. E agora, quantos anos o golpe de 2016 nos roubará?

Referências:

BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998.

LEÃO, Danuza. Ser especial. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/80046-ser-especial.shtml>.

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