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Helena Iono

Jornalista e produtora de TV, correspondente em Buenos Aires

122 artigos

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O povo argentino não se rende

Este novo dia de luta, com um desencadear imprevisível, após a dura batalha do dia 14, marcado por uma vitória ainda que parcial do movimento popular, converge de um balanço de fatos e reflexões para o passo a passo das estratégicas que os trabalhadores e as forças progressistas estão realizando em reuniões diante da investida violenta do poder hegemônico vigente

Este novo dia de luta, com um desencadear imprevisível, após a dura batalha do dia 14, marcado por uma vitória ainda que parcial do movimento popular, converge de um balanço de fatos e reflexões para o passo a passo das estratégicas que os trabalhadores e as forças progressistas estão realizando em reuniões diante da investida violenta do poder hegemônico vigente (Foto: Helena Iono)
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Macri conseguiu parar o país

Nesta segunda-feira, 18 de dezembro, voltam à praça do Congresso, com maior força, as centenas de milhares de cordões operário-sindicais, dos movimentos sociais, dos anciãos, de bairros, partidos de esquerda, funcionários públicos, das Centrais Sindicais combativas, das duas CTAs, da CGT, bancários, professores, metalúrgicos, estudantes, jornaleiros, todos, invisibilizados e impedidos de entrar na praça há 4 dias, mas convictos de que suas vozes soaram no recinto parlamentar mais alto que os balaços da "gendarmeria". Soma-se a isso, a decisão da burocracia do triunvirato da CGT de convocar uma Greve Geral Nacional a partir das 12 horas do dia da votação em repúdio à Lei do "saqueio" da previdência. O povo argentino não se rende. É o mesmo que com uma multitudinária manifestação, meses atrás, derrotou no parlamento, por unanimidade, a ordem judicial que tentou aplicar o tal do 2x1 que anistiava genocidas da ditadura.

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Este novo dia de luta, com um desencadear imprevisível, após a dura batalha do dia 14, marcado por uma vitória ainda que parcial do movimento popular, converge de um balanço de fatos e reflexões para o passo a passo das estratégicas que os trabalhadores e as forças progressistas estão realizando em reuniões diante da investida violenta do poder hegemônico vigente.

O terror embutido no neo-liberalismo

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O terror do dia 14 de dezembro, é a ponta do iceberg da política econômica de um governo, que alarga o abismo entre ricos e pobres que necessita impor-se pela força. Não é casual que uma das primeiras medidas foi a espantosa compra de armamentos dos EUA, que hoje abastece a gendarmeria como corpo repressivo; sua função seria defender as fronteiras contra os inimigos da soberania nacional, mas não: mata cidadãos inocentes como Santiago Maldonado e o mapuche Rafael Nauhel. O Judiciário que defende o grupo oligárquico-financeiro de poder, os respalda e manda prender Milagro Salas, persegue Cristina Kirchner, prende ex-funcionários do governo kirchnerista (já são 8 presos políticos). Houve uma reflexão popular que circulou: "Agora que você viu como atua a gendarmeria, no centro da capital diante de toda a mídia, você pode imaginar como Santiago Maldonado se afogou sozinho". Num ato de terror de Estado, fracassou, por enquanto, a tentativa de impor um poder sobre o outro, blindando o Parlamento inconstitucionalmente, provocando uma violência alheia aos manifestantes.

O fato de escancarar midiaticamente a brutalidade da ação policial, é parte da intimidação, a que o cidadão comum não ouse aliar-se ao protesto social. Provocar com a violência a reação dos manifestantes pacíficos, ou em alguns casos infiltrar "mascarados" ou "black-blocs", também é parte da estratégia para sustentar o falso discurso dos governantes de Cambiemos: "Não podemos seguir com a sessão plenária na Câmara diante desse clima de violência (culpando os manifestantes)" (da Deputada do inter-bloque Cambiemos, Elisa Carrió). Ou "a violência impediu o diálogo"... "os deputados piqueteiros da oposição... usaram da violência". (do Chefe do gabinete de ministros, Marcos Peña). Não foi a violência que os freou, foi o povo na rua que os impediu seguir na farsa de um quórum inexistente.

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A Argentina que vimos ontem, no chamado "dia da fúria", um Congresso blindado, por um espantoso arsenal repressivo, atacando, à queima roupa, com fuzis de balas de borracha manifestantes que em milhares marcharam rumo à praça para defender o direito dos velhos aposentados, da pensão infantil, dos inválidos e pensionados de guerra (Malvinas) assombrou o país e o mundo. Imagens de tal truculência da chamada gendarmeria podiam confundir o telespectador mal informado sobre a Argentina atual de Macri; não era o Exército de Israel atacando indefesos palestinos. Tratava-se da gendarmeria (polícia de fronteira, hoje utilizada para reprimir) acompanhada de pelotões da Polícia Federal, da Polícia da segurança aeroportuária e naval, isolando a Praça do Congresso nas suas adjacências, antes mesmo que se iniciasse a sessão plenária da Câmara dos Deputados para a votação da lei do "Saqueio" previdenciário. Cenas brutais de 60 gendarmes contra um único manifestante, ou 30 policiais empurrando no camburão uma jovem cidadã (diga-se de passagem, imigrante de origem brasileira) ao sair do trabalho, ou de jornalistas e fotógrafos baleados à queima-roupa (como Pablo Piovano do jornal Página12), 8 deputados opositores feridos, e 44 detenções, não era em Jerusalém, mas em Buenos Aires, que na década de Nestor e Cristina Kirchner conquistou espaços de memória, verdade e justiça pelos 30 mil desaparecidos na ditadura cívico-militar.

Porque a urgência, a fúria do governo nos ajustes? Como dizem os ladrões, todo assalto tem que ser veloz. Macri trata de calar urgente e brutalmente as vozes críticas para executar as ordens do pagamento da parcela dos juros das dívida externa ao FMI, aos abutres (data de vencimento: fim de 2017). Os saqueio do ANSES (INPS) de 100 bilhões de pesos, com a nova lei da aposentadoria, é o que serve ao FMI, já! Os dirigentes kirchneristas e jornalistas dos meios alternativos há muito vem alertando sobre o rumo perigoso do corte dos direitos democráticos e de expressão nos últimos tempos no país, para apagar a consciência popular, e desse modo, abrir alas aos ajustes, às leis de exclusão econômica dos de baixa e média renda.

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Macri exibe músculos para ocultar seu fracasso social

O outro ponto, e que merece maior atenção, é que foi um início de uma derrota política de Macri, e uma batalha vencida pela união entre o povo na rua e a bancada parlamentar kirchnerista e da oposição. As grades da gendarmeria na frente do Congresso não puderam impedir essa energética simbiose. O agressivo presidente da Câmara, Emílio Monzó (Cambiemos), teve que suspender a sessão graças à firmeza dos deputados da FPV e da oposição que desmascararam o quórum falsificado, com 2 deputados fraudulentos, inabilitados por não terem sido empossados. Num bate-boca aguerrido no recinto parlamentar, os deputados opositores, com 8 deles feridos pela Gendarmeria, por defender o povo na praça, conquistaram a suspensão da votação, ao som dos balaços de borracha e gás lacrimogênio que a política atirava fora do Congresso, contra os manifestantes. A estes deputados, o ministro de Macri, Marcos Peña, chamou de "deputados piqueteiros". Graças ao aguerrido povo argentino mobilizado nas ruas, se impôs esta primeira derrota parcial à lei da previdência. O governo Macri, mostra músculos, quando acaba de fracassar na OMC, de onde saiu de mãos abanando.

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Após tal fracasso parlamentar, Macri, com o apoio unânime dos seus ministros, tentou impor a Lei da Previdência com um Decreto de Necessidade e Urgência (DNU). Porém, isso pôs à luz, uma diferença interna na área da frente "Cambiemos", com o desacordo da deputada Elisa Carrió que já lhes havia criado um problema na Plenária ao revelar que estavam em minoria e não havia o quórum que o presidente da Câmara (do Cambiemos) tratou de falsear com 2 deputados inabilitados. Carrió, é uma figura da direita, oportunista, mas com maior habilidade política que Macri e os empresários-financistas de Cambiemos; este já perde o apoio da Frente Renovadora, do ex-deputado Sérgio Massa, cuja base social é a pequena e média indústria e comércio, que se opõe à Lei da Previdência, e desta vez, une-se ao bloque kirchnerista da Unidade Cidadã e FPV, ao lado de todos os partidos de esquerda. Macri, reuniu-se com seus governadores de províncias, e outros do Justicialismo (PJ) recatando-os com subornos para conceder fundos às suas administrações provinciais em troca de quórum e votos dos respectivos deputados para a lei da previdência. Desta forma, se reabre a Câmara dos Deputados, nesta 2a. feira para a votação. Os poderes Executivos da Nação e das Províncias se sobrepõe ao Legislativo eleito pelo povo. Há 2 anos não se sabe onde foi parar a Constituição. Não será fácil impedir a lei do saqueio da previdência. Mas, o povo está na rua e há greve geral nacional. Lei ou não lei, o embate continua.

O fato mais importante na Argentina hoje é esta Frente Única que se está formando entre todos os partidos de esquerda junto à Unidade Cidadã e ao kirchnerismo, e o protagonismo do movimento operário-sindical unificado conscientes de que aqui está em jogo a vida e o futuro dos trabalhadores, das instituições democráticas, da soberania nacional e da inteira região latino-americana.

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