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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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O que as pedras sabem

Tanques tomam as ruas em abril de 1964. (Foto: Domínio Público)
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Com o golpe parlamentar que interrompeu o mandato da Presidente Dilma Rousseff, entregando-nos, na época, a uma outra corrente de forças para governar o país, é sabido que abrimos a caixa de Pandora. Dela começaram a sair uma série de infelicidades, entre as quais se incluem, além de uma crise econômica, um mandatário incompetente e um dos piores gabinetes de ministros da nossa crônica de costumes. Isto para não mencionar uma epidemia de características novas, perigosa e assassina. O que mais podíamos esperar? Para empregar uma expressão utilizada por Gilmar Mendes num dos debates do Supremo, até as pedras podiam imaginar que arriscávamos os princípios da integridade nacional com uma aventura que, uma vez iniciada, se dirigia ninguém sabia exatamente para onde. 

A sucessão de desastres não deixava de lado namoros com o nazifascismo, com direito à evocação pelo alto poder de dirigentes do Terceiro Reich, derrubados e soterrados pela memória ocidental. Não espanta que agora um medíocre comentarista de youtube tenha a ousadia de defender num de seus programas, em companhia de afins, a legalização do partido nazista, sem levar em conta o mal que a ideologia trouxe para o mundo, não perdoando ninguém, nem o povo alemão, em pedaços no final do conflito. O tal de Bruno Aiub, o Monark, autor da façanha, foi punido com a perda do canal e do efêmero prestígio que conquistara. É muito?

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É pouco, se considerarmos que o fascismo foi se infiltrando, gradualmente, pelas reentrâncias do sistema político brasileiro. Não só passamos a viver, a cada instante, sob promessas de golpismo, como adquirimos o hábito de considerar natural a matança como fórmula saneadora de divergências ou desavenças sociais. Com as eleições se avizinhando, reacendem-se os ânimos no sentido de encontrar meios que perpetuem o atual status quo, sem riscos de derrubá-los pelos votos. Ameaças contra o Tribunal Superior Eleitoral e as urnas eletrônicas, que pareciam pacificadas, voltam à cena, com uniformes militares dançando nas retinas dos saudosistas e ameaçando com quarteladas. Há razões para tudo isso. Vale a pena consultar as pedras.

A ditadura de 64 cedeu lugar ao processo de redemocratização, sem que fizéssemos um balanço dos crimes cometidos contra os civis, com as prisões e torturas em série, então multiplicadas. Não se mostra convincente, a não ser para os que sujaram as mãos, que a população se revele interessada no retorno daqueles anos de chumbo. Surtos de autoritarismo que nos atingem como se fossem uma segunda epidemia, agora com características locais, em confronto com a Covid, de colorações internacionais, não saíram do horizonte. Seja como for, não constituem brincadeira. Olhemos as pedras. Se elas não nos disserem nada, espreitemos a caixa de Pandora recém aberta e ainda muito mal fechada. Todo cuidado é pouco. As soluções permanecem ao alcance da mão. É bom não as deixar escapar por inadvertência. Já não é um bicho de sete cabeças saber quem são e quem não são os verdadeiros democratas. 

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