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Camilo Vannuchi

Jornalista, escritor, mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela USP, membro da Comissão Municipal da Verdade da Prefeitura de São Paulo

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O que é terrorismo pra você?

Tá pra nascer uma nação que tenha formulado uma lei antiterror baseada num conceito de terrorismo sem falhas e inconsistências

Tá pra nascer uma nação que tenha formulado uma lei antiterror baseada num conceito de terrorismo sem falhas e inconsistências (Foto: Camilo Vannuchi)
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A regra é clara. Terrorismo é a ação cometida por uma ou mais pessoas para intimidar ou coagir Estado, organização internacional ou pessoa jurídica, nacional ou estrangeira, com o objetivo de provocar terror. E precisa ter motivação religiosa ou ser resultado de preconceito de raça, cor, etnia ou origem, sacou? O conceito não se aplica a manifestações políticas, movimentos sociais ou sindicais. Ou seja: xenofobia não pode.

Mas matar uns petralhas deve poder. Detonar dinamite na igreja é terrorismo. Detonar dinamite na parada gay não é. Não há menção na lei a terrorismo sexual. Nem político. A não ser que o alvo seja o Estado. Porque aí não pode. Entendeu? Nem eu. De qualquer maneira, pense duas vezes antes de implodir uma sinagoga ou metralhar uns pretos no baile funk. Melhor jogar uma bomba no ato da CUT e outra na marcha dos coxinhas.

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Tá pra nascer uma nação que tenha formulado uma lei antiterror baseada num conceito de terrorismo sem falhas e inconsistências. Por aqui, o que se vê é o "terrorismo seletivo". Não há nada de mais em detonar explosivos para eliminar umas bichinhas efeminadas que insistem em andar de mãos dadas na Avenida Paulista. Dizimar as transexuais e as travestis que fazem ponto no Planalto Paulista ou na Bento Freitas também pode. É até um bem que você faz. Agora, se os explosivos atingirem uma igreja, tá lascado. Bomba no shopping Frei Caneca pode. Bomba na Igreja evangélica não pode.

Na literatura especializada, houve quem entendesse terrorismo como ato capaz de disseminar pânico em determinada sociedade. Ora, seguindo esse raciocínio, o que é pânico para você?

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Atacar a facadas uma transexual semanas depois de ter desfilado caracterizada de Cristo crucificado na Parada do Orgulho LGBT não seria terrorismo?

Abrir fogo contra um grupo de estrangeiros não seria terrorismo? E apedrejar uma garota que acabava de sair de uma cerimônia religiosa de matriz africana?

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Lançar uma bomba contra o portão do escritório político de um ex-presidente da República não seria terrorismo? E minimizar o atentado, tratando a bomba como se fosse uma pedra inofensiva ou, pior ainda, como se o episódio tivesse sido forjado para que Lula e fizesse de vítima?

Criar, manter, administrar, curtir ou compartilhar uma página no Facebook intitulada "Morte ao Lula" não tem nada de terrorismo? E hospedar essa página, permitindo que 5.700 pessoas destilem ódio e sejam instigadas a agir com agressão? Se fosse comigo, o pânico já estaria instalado. Generalizado.

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O que é terrorismo para você?

Deixar a população sem água, sem informação e sem esperança de normalidade é o quê?

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Suprimir direitos constitucionais, como saúde gratuita, em nome de uma redução na dívida pública é o quê?

Coagir, constranger, cercear a autoridade de uma presidenta da República, atropelando sem legitimidade nem amparo jurídico a decisão soberana e cidadã de 54,5 milhões de eleitores é o quê?

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Quando eu era adolescente, aprendi o poder simbólico das palavras e entendi que as narrativas se constroem de acordo com o discurso empregado. Entendi, por exemplo, que os jornais, cada um à sua maneira, eram solidários às "ocupações" de terra e contrários às "invasões", duas formas de se referir à mesma coisa. Nesse sentido, era bom ser "de esquerda", mas não "esquerdista". "Homossexualismo" e "homossexualidade". "Revolução de 64" ou "golpe militar". Da mesma maneira, aprendi ainda adolescente que "guerrilheiros" como meu pai e meus tios foram durante muito tempo chamados de "terroristas". A mesma coisa aconteceu com Dilma. Mais recentemente, com os ativistas Fábio Hideki e Rafael Lusvargh, com o repórter Piero Locatelli...

O adolescente daquela época arriscaria afirmar que a guerrilheira do Coração Valente vetaria alguns itens da nova lei antiterror. O adulto de hoje acredita que a lei será sancionada por ela. Terrorismo é permitir a escalada, no Brasil de hoje, dos dois pesos e das duas medidas.

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