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Breno Altman

Breno Altman é diretor do site Opera Mundi e da revista Samuel

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O queijo e a ratoeira

O jornalista e colunista do 247 Breno Altman alerta para o risco de opiniões, expressas por dirigentes da esquerda e intelectuais progressistas, em defesa de um plano B, dando como favas contadas a interdição do ex-presidente Lula e sua permanência na cadeia; "Essa é a tempestade perfeita: a combinação da vacilação de dirigentes frente ao conflito determinante e autofagia dentro do campo popular. A essa altura do campeonato, o que realmente importa é construir uma gigantesca campanha, nacional e internacional, pela liberdade de Lula e seu direito a participar das eleições", diz ele 

03/02/2017- São Paulo- SP, Brasil- Ex-presidente Lula recebe vista de Ciro Gomes e do governador do Ceará, Camilo Santana (PT-CE), no hospital Sírio-Libanês, onde está internada a ex-primeira-dama Marisa Letícia. Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula (Foto: Breno Altman)
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Os operadores da direita, especialmente aqueles instalados nos monopólios da mídia, atuam desabridamente para minar a influência política e eleitoral da esquerda.

Essa intervenção não se limita aos ataques diretos, entre os quais se destaca a perseguição judicial através da Operação Lava Jato. No portfólio conservador também reluz o plantio da cizânia e da confusão.

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A mais recorrente dessas ações de sapa envolve a especulação sobre o chamado "plano b" diante da hipótese de impugnação eleitoral do ex-presidente Lula.

A conta é simples: se o PT e a esquerda morderem a isca e entrarem nesse debate encomendado, será natimorta a batalha pela libertação do ex-mandatário e seu direito à candidatura presidencial.

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Como em qualquer combate, a existência de outro plano que não o da vitória só pode resultar em rendição prévia. Na melhor das hipóteses, em guarda baixa e frouxidão diante do inimigo.

Vários são, infelizmente, os que caem nessa esparrela, fazendo objetivamente o jogo conservador, e disparam a cogitar soluções para o suposto cenário sem Lula, dando a luta por perdida antes mesmo de travá-la.

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Isso é tudo o que a direita quer. Tanto porque desarma o petismo e seus aliados para a batalha de todas as batalhas quanto porque produz naturais reações defensivas, e até sectárias, de quem não aceita levantar a bandeira branca antes sequer do primeiro tiro.

Foi o que ocorreu na última semana, por exemplo. Os petistas Fernando Haddad e Jaques Wagner, tratando jornalistas como se fossem amigos na sala de estar, deram para engordar a teoria de que o PT deveria se preparar para a hipótese de apoiar o pedetista Ciro Gomes e indicar o vice em uma fórmula coligada.

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Ambos desmentiram, de alguma maneira, a edição dos impressos que deram ares de dissertação a tertúlias especulativas.

O fato é que dirigentes políticos, ainda por cima em tempos de guerra, não deveriam se comportar como livres-pensadores, engordando pautas jornalísticas e desidratando a confiança dos militantes que eventualmente comandam.

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Na mesma onda entraram certos intelectuais e publicistas, cujo derrotismo ganha contornos alarmantes e os conduz para a busca de alguma saída mágica que parte da consideração de serem favas contadas a interdição de Lula e sua permanência na cadeia, contra as quais nada se poderia fazer a não ser virar a página.

A esse derrotismo se mistura – ou até se sobrepõe – uma certa incapacidade de reconhecer que a exclusão do ex-presidente não é apenas carta eleitoral, mas a fronteira que determina o enterro da Constituição de 1988 e o fim do pacto democrático então consagrado, estabelecendo um cenário no qual toda a orientação política dos últimos vinte ou trinta anos deve ser inteiramente revista.

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O outro lado dessa moeda é o espírito de corpo, também ao gosto do conservadorismo. Perante a hesitação no campo de batalha, lideranças e militantes petistas sentem-se obrigados a delimitar território, demarcando posição contra Ciro Gomes e outras opções não-petistas.

Pior ainda: o vírus da intolerância se alastra nesse ambiente, resultando em vaias contra aliados, apesar do esforço em contrário da presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, como ocorreu no Primeiro de Maio em Curitiba, e outras atitudes que rompem com a imperiosa lógica frentista que deveria prevalecer.

Essa é a tempestade perfeita: a combinação da vacilação de dirigentes frente ao conflito determinante e autofagia dentro do campo popular.

A essa altura do campeonato, o que realmente importa é construir uma gigantesca campanha, nacional e internacional, pela liberdade de Lula e seu direito a participar das eleições. Campanha essa que deve e pode contar com a participação de todas as forças antigolpistas, apoiadoras ou não de seu retorno ao Palácio do Planalto.

Não seria aconselhável, nessa etapa, nem sequer misturar "Lula livre" com "Lula presidente": a unidade da esquerda, por ora, passa pela primeira das consignas, sempre reforçada por uma construção programática que a associe às demais lutas dos trabalhadores e às reformas de caráter democrático, popular e anti-imperialista.

Por isso, têm a mesma natureza daninha, embora em proporções distintas, tanto a claudicação diante da leitura de que eleição, sem Lula, é fraude quanto o patriotismo petista contra outros candidatos.

A esquerda somente voltará a ter o queijo na boca se transformar sua base difusa e passiva de apoio, majoritária na sociedade, em mobilização unitária e massiva, soldando por esse meio uma alternativa viável de governo.

Tal movimento precisa ter como norte a consolidação de uma coalizão orgânica e programática de partidos, movimentos e cidadãos, no diapasão que levou ao surgimento da Frente Brasil Popular e que dá o ritmo de sua ação integrada com a Povo Sem Medo, ampliando para novos agentes e setores do bloco antigolpista.

Esse processo, hoje, tem como eixo o futuro do ex-presidente Lula.

Seria desastroso se as forças progressistas, sequiosas pelo queijo, caírem na ratoeira da capitulação sem combate ou do sectarismo autodestrutivo.

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