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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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O recado da Bolívia com a prisão de Camacho: peguem o fascistão

Os bolivianos nos ensinam tardiamente: não deixem o grande golpista solto, escreve Moisés Mendes sobre a prisão de Fernando Camacho

Líder da oposição boliviana Luis Fernando Camacho recebe avaliação médica após sua detenção, em local não revelado nesta imagem divulgada em 28 de dezembro de 2022 (Foto: TWITTER/Carlos Eduardo del Castillo del Carpio/Divulgação via REUTERS)
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Por Moisés Mendes, para o 247 

Todos os líderes do golpe de 2019 contra Evo Morales, que não fugiram da Bolívia, foram presos a partir de março de 2021. Menos um, o mais poderoso de todos, o fascistão boliviano Luis Fernando Camacho.

Camacho só foi preso agora, na quarta-feira, por participação no golpe de três anos atrás e por voltar a conspirar contra a democracia ao insuflar greves em setores essenciais e bloqueios de estradas.

O recado que vem de lá é a repetição do alerta que tem sido feito aqui: se os grandes fascistas não forem contidos, a engrenagem golpista continua funcionando.

Camacho é governador de Santa Cruz de la Sierra, o reduto do latifúndio e dos grandes empresários, onde circula o dinheiro e o rolo.

É chamado no Brasil de Bolsonaro boliviano por suas posições extremistas. Mas não é bem assim. Foi líder estudantil, vem de família rica e é influente na elite econômica de Santa Cruz.

Ganhou projeção como líder do Comitê Cívico do Estado, um ajuntamento de direita que alguns chamam de TFP boliviana, sem formato de partido, e sempre trabalhou na articulação política.

Já Bolsonaro era um tenente medíocre, de família pobre. Segundo o general Eduardo Villas Bôas, nunca foi militar, porque apenas passou pelo Exército.

Camacho, que já foi acusado de lavagem de dinheiro no Exterior (Panamá Papers), é um político organizador e agregador.

Bolsonaro sempre foi solitário e atuou como lobo avulso por 27 anos na Câmara, até se transformar na gambiarra anti-Lula.

Camacho esteve em liberdade até agora, sempre tramando um novo golpe, porque se beneficiou de uma sequência de fatos que não pouparam seus parceiros da extrema direita.

O golpe acontece em novembro de 2019. Em outubro de 2020, Luis Arce, do mesmo Movimento ao Socialismo de Evo, é eleito presidente. O golpismo é derrotado.

Em março de 2021, o Ministério Público inicia uma série de prisões de golpistas civis e militares. Jeanine Añez, a senadora que ocupou a presidência durante o golpe, é presa.

São presos todos os chefes das três armas, o chefe da Polícia Nacional (a PM federal deles) e oficiais subalternos.

Só dois líderes escapam. O general Williams Kaliman, chefe das Forças Armadas, que pediu para deixar a ativa logo depois do golpe e fugiu para os Estados Unidos, e Luis Fernando Camacho.

Ninguém sabe até hoje por onde anda Kaliman. Mas Camacho ficou livre e solto. Havia sido eleito governador de Santa Cruz uma semana antes de o Ministério Público deflagrar as prisões do ano passado.

Pode ter sido poupado por um erro de cálculo do MP, que retardou as prisões, ou pelo receio do próprio MP e do Judiciário de que, como provável eleito governador do Estado mais poderoso, não deveria ser enfrentado.

Camacho foi o líder civil do golpe em 2019. Foi ele quem empurrou a Polícia Nacional para um motim e depois forçou a entrada dos militares na crise.

Lidera um conglomerado de partidos chamado Acreditamos e vinha comandando as rebeliões contra o adiamento do censo que poderia aumentar a representação (de direita, claro) de Santa Cruz no Congresso na eleição de 2025.

Com a prisão dele, o Ministério Público desarmou uma bomba, com atraso, e acionou outra. Luis Arce e o próprio Evo terão de provar que podem segurar as reações da oposição.

O que importa é que MP e Judiciário decidiram que era hora de enjaular um sujeito viciado em golpe. Pegaram um extremista que poderia se cacifar à presidência da República.

O mais importante, e que resume tudo, é que está preso o chefe das arruaças. Já estavam encarcerados os mandaletes dele, sem e com farda, e até milicianos que atiçou contra Evo Morales.

Os bolivianos nos ensinam tardiamente: não deixem o grande golpista solto. Peguem os fascistões logo depois de um golpe ou de uma tentativa, ou eles continuarão mobilizando e financiando milicianos, terroristas, manés e patriotas.

No Brasil, Bolsonaro é o líder de todos eles, mas há outros fascistões ainda em atividade, principalmente entre grandes empresários financiadores das milícias digitais e dos acampamentos. O Camacho brasileiro é um capacho endinheirado de Bolsonaro.

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