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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

203 artigos

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O sol e a paneira

No equilíbrio de poderes, não adianta reclamar do judiciário ou o legislativo. Despertados de sua letargia, eles agem. Mostram que cumprem com suas funções. Para os palacianos, as preocupações têm sentido. Quando o clamor cresce, tropas de choque fiéis não bastam para colocar os pingos nos is. Que desviem a peneira um pouco para o lado, e olhem para cima

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Cada indivíduo possui um modo de ver a realidade, o que tornam difíceis as interpretações sobre o que se passa. Um dos estratagemas mais comuns, de uns tempos para cá, é a tática do encobrimento. Não importa que o mundo diga algo, desde que a pessoa afirme o inverso. Há quem suponha que se trate de uma estratégia capaz de impor uma versão sobre as demais, até que a população se convença de estar trilhando pelo caminho errado. Desde a posse, Jair Bolsonaro assumiu semelhante postura, chamada pelos que o ouvem de “negacionista”, porque, como os mais conservadores, nega a forma esférica da Terra, a gravidade da epidemia do coronavírus, as crises da economia e da política. Com um pouco de sorte, talvez seja possível negar até o fenômeno da impopularidade, frente ao alarido ruidoso de militantes nas pequenas aglomerações em praça pública, jogando areia nas pupilas cansadas de muita gente. 

Em certas circunstâncias, negar a evidência pode custar caro. Os fatos, na crueza das estatísticas, falam alto. Afinal, estamos numa situação de paralisia na qual não se anda para a frente em nenhuma das plataformas da indústria, do comércio, da educação, da pesquisa ou da cultura. Claro que experimentamos igualmente uma crise de saúde pública, com cifras alarmantes de vítimas da Covid-19, agravada pela incompetência do governo, no meio da qual o “negacionismo” não convence porque vemos em toda parte parentes e amigos se vitimarem. No desespero da falta do que dizer, Bolsonaro responde com grosserias. A Driele Veiga, da TV Aratu, questionado sobre um cartaz de ‘CPF cancelado’, normalmente referido a pessoas mortas, a repórter obteve a delicada resposta: “Você não tem o que perguntar não? Deixa de ser idiota, menina.” Cabe registrar que o Presidente não usava máscara, como mandam as recomendações, e andava com a porta do carro aberta. Ele imagina que a um Presidente da República faculta-se o direito de dizer o que bem entende, com as palavras que escolhe... Aqui, sem dúvida, vem acontecendo isso. Em sociedades que prezam a dignidade, seria impensável. Os brasileiros, sem dispor de outros recursos, tapam o sol com a peneira. Pelo visto, vai dando certo. Guedes, sem dúvida, assegura. As empregadas domésticas, os filhos dos porteiros, segundo comenta, também.

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No entanto, há complicações. Uma CPI, no Senado, talvez atrapalhe as coisas. Olhar para cima, sem anteparos, pode revelar que a peneira, quando se trata do grande astro, não constitui um bom instrumento de proteção. Uma CPI põe a nu um monte de informações, escapando de uma enormidade de ralos no conjunto dos ministérios. Não espanta que os adeptos do governo, prevendo dificuldades, já estejam acendendo sinais de alerta. Não será, afinal, uma tarefa hercúlea, frente ao “negacionismo”, demonstrar que a administração incapaz, a que divulgou remédios inúteis para enfiar goela abaixo dos incautos, não nos protegeu em nenhuma dimensão. Uma decepção! Não parece a ninguém de bom-senso que um Presidente da República se exima de suas responsabilidades apenas mentindo.

No equilíbrio de poderes, não adianta reclamar do judiciário ou o legislativo. Despertados de sua letargia, eles agem. Mostram que cumprem com suas funções. Para os palacianos, as preocupações têm sentido. Quando o clamor cresce, tropas de choque fiéis não bastam para colocar os pingos nos is. Que desviem a peneira um pouco para o lado, e olhem para cima. Verão que há nuvens no horizonte.

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