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Pedro Simonard

Antropólogo, documentarista, professor universitário e pesquisador

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O tosco e o estadista

Em seu pronunciamento, Lula agiu como um estadista. Abordou os problemas que afligem o povo brasileiro e propôs soluções para ele. O pronunciamento tosco de Jair Bolsonaro foi repleto de senso comum de direita

Lula e Jair Bolsonaro (Foto: Agência Brasil | Ricardo Stuckert)
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No dia 7 de setembro, dia da Independência nacional, fomos brindados com dois pronunciamentos públicos. Um curto, com dois minutos e cinquenta e oito segundos de duração, proferido por Jair Bolsonaro em rede nacional às 20h, no horário nobre da televisão brasileira. Um discurso tosco, cheio de senso comum dirigido à nação. Bolsonaro não tem o que dizer e por isto seu pronunciamento foi curto, cheio de obviedades e mentiras.

Começou afirmando que a Independência mostrou que o Brasil jamais aceitaria ser subordinado a qualquer outro país. Primeira obviedade e primeira mentira. O governo Bolsonaro está entre os mais entreguistas e submissos ao imperialismo da história do Brasil. Eventos recentes como a importação de cloroquina dos EUA, a taxação do aço exportado pelo Brasil para os EUA, o envio de um general para servir sob as ordens do exército estadunidense, expõem o altíssimo grau de submissão do governo do tosco ao governo de Donald Trump.

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Outro fato negativamente marcante em seu pronunciamento foi a negação do racismo ao afirmar que a identidade brasileira começou a ser desenhada com a miscigenação entre índios, brancos e negros. A miscigenação é uma realidade, é verdade, mas ela foi feita a ferro e fogo com as mulheres indígenas e negras sofrendo seguidos estupros perpetrados pelos machos brancos cristãos colonizadores.

Bolsonaro prosseguiu afirmando que os “imigrantes trouxeram esperanças que haviam perdido em suas terras” para o Brasil. Elogiou a imigração. O mesmo Bolsonaro que declarou em 2015 que os imigrantes que chegam ao Brasil são a “escória do mundo”, esquecendo que ele próprio descende do que ela considera “escória”, colocando-se nesta mesma categoria. No pronunciamento em questão, Bolsonaro quer agradar a grande massa de descendentes de imigrante que votou nele sem precisar, contudo, mudar sua opinião sobre a imigração.

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Em seguida o tosco aborda as guerras travadas pelo Brasil, referindo-se à Guerra do Paraguai, à participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial e, pasmem, ao que ela chamou de “ameaça comunista nos anos 1960”. Ele considera que as forças armadas brasileiras lutaram uma guerra contra aqueles que combatiam a ditadura civil-militar instaurada em 1964. Esqueceu-se de mencionar que a tal “ameaça” comunista era conduzida por um governo de latifundiários e lideranças de centro-esquerda.

Talvez o momento mais mentiroso do pronunciamento foi quando Bolsonaro “reiterou” seu amor à pátria e o compromisso com a Constituição e preservação da soberania, democracia e liberdade. Ouvir isso de um defensor da censura, que capitaneia um governo entreguista, autoritário e cheio de militares chega a dar engulhos, mesmo naqueles, creio eu, que não são eleitores de esquerda.

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Termina seu discurso enviando uma mensagem para seu público, para seus eleitores, afirmando que “somos uma nação temente a Deus, que ama família e a pátria”

O país está passando por desabastecimento, volta da inflação, mais de 120 mil mortos pela pandemia do Covid-19, desemprego, crise econômica, mas nada disso parece ser importante para o Tosco. Bolsonaro não governa, faz campanha. Bolsonaro pode falar as maiores bobagens, expor sua intolerância, sua misoginia, cometer diversos crimes de responsabilidade e nada acontece. As instituições da República estão “fechadas” com ele.

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O segundo pronunciamento foi transmitido pelas mídias alternativas às 15 horas. O ex-presidente Lula dirigiu-se ao povo em um pronunciamento que durou vinte e três minutos no qual tratou de temas nacionais importantes, buscando levar esperança ao povo brasileiro, além de propor um pacto de recuperação do Brasil.

Abordou a crise sanitária, econômica e ambiental. Teceu críticas à proposital inação do governo Bolsonaro frente aos problemas causados por essas crises. Lembrou que a esmagadora maioria dos mortos pelo Covid-19 são pessoas vulneráveis, trabalhadores que não puderam deixar de trabalhar, tiveram que pegar transportes lotados e voltar para suas casas em comunidades sem saneamento urbano e com moradias precárias. Esses mortos “tinham nome, endereço, pai, mãe, irmãos, amigos”. Para Lula, o governo Bolsonaro não dá valor à vida e banaliza a morte. É um governo insensível, irresponsável e incompetente.

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Lula lembrou que os governos pós-golpe desmontaram o SUS, desviando os recursos destinados a seu financiamento para o pagamento dos juros da dívida pública.

De maneira incisiva, acusou Bolsonaro de cometer crime lesa-pátria, abrindo mão da soberania nacional. A soberania pressupõe defesa do povo, riquezas e recursos minerais e o governo do Tosco submete o Brasil aos interesses de Washington. 

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Além disso, Bolsonaro ataca os bancos públicos, desconsiderando o papel fundamental que eles desempenham no financiamento e apoio ao desenvolvimento do Brasil.

Abordou a venda do pré-sal, o desmonte da Petrobras para vender o que sobrar a preço vil. Criticou a privatização da Eletrobras, o desmonte das universidades e das agências financiadoras de pesquisa e o “abandono da cultura”. 

Denunciou o processo de concentração de renda levado a cabo pela política econômica de Bolsonaro que permitiu aos bilionários brasileiros acumularem mais 170 bilhões de reais, às custas dos trabalhadores brasileiros. A massa salarial dos empregados caiu 15% em um ano graças à asfixia dos sindicatos, das centrais sindicais e ao desmonte da justiça do trabalho.

Para reconstruir o Brasil, Lula defende a elaboração de um novo contrato social onde todos tenham possibilidade de crescer. Os ricos têm que pagar impostos proporcionais às suas riquezas. Convocou os trabalhadores a lutarem pelo estado democrático de direito baseado na soberania popular que confronte os interesses conservadores da burguesia neocolonial brasileira. O alicerce deste novo pacto deve ser o voto livre das notícias falsas, que permita a construção de um estado de bem-estar social com distribuição de renda. 

Os trabalhadores devem recusar os pactos pelo alto, conduzidos pelas elites. Lula afirmou não apoiar qualquer solução que não tenha participação ativa do povo.

Em seu pronunciamento, Lula agiu como um estadista. Abordou os problemas que afligem o povo brasileiro e propôs soluções para ele. Posicionou-se claramente ao lado do povo, contra os interesses das camadas sociais conservadoras que entravam o desenvolvimento do Brasil rumo à construção uma nação independente e soberana.

O pronunciamento tosco de Jair Bolsonaro foi repleto de senso comum de direita. Como sempre, ele dirigiu-se aos cerca dos 30% dos eleitores que votaram nele. Não abordou nenhum tema nacional importante, não falou das realizações de seu governo – mesmo porque seu governo nada construiu até agora, e destruiu o que funcionava bem – não apresentou projetos e propostas para os próximos meses de seu governo.

Comparando os dois pronunciamentos, o de Bolsonaro poderia ter sido escrito por um aluno de ensino fundamental que precisasse apresentar um trabalho sobre a independência do Brasil para sua professora.

O pronunciamento de Lula, por sua vez, mostrou que foi elaborado por alguém preparado e capaz de discutir os grandes temas nacionais e apresentar soluções para o presente e o futuro.

Comparando-se ambos discursos, um expõe o despreparo e o nível tosco de Bolsonaro. O outro explicita o preparo de um estadista que está preparado para contribuir para o crescimento da sociedade brasileira.

Enquanto Bolsonaro afaga as elites brasileiras, Lula reafirma sua posição ao lado do povo.

Bolsonaro é tosco; Lula, é estadista.

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