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Armínio Westermann

Analista político

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O vice ideal para Lula

Lula estaria mais seguro buscando um nome "técnico" com experiência política

Lula (Foto: Reprodução)
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O vice ideal para Lula precisaria cumprir as seguintes funções básicas:

a) apelar a parcelas do eleitorado que hoje não estão dispostas a votar no Lula;

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b) não servir como contraponto e/ou potencial ponto de aglutinação para a oposição ao Lula, a exemplo do que aconteceu com Temer com relação à Dilma e do que aconteceu com Mourão com relação ao Bolsonaro.

Portanto, o vice ideal tem que ser diferente do Lula. Mas não pode ser diferente a ponto de se tornar uma alternativa ao Lula.

Adicionalmente, é necessário que o vice esteja à altura do Brasil, do cargo e do próprio Lula. Portanto, um neófito não seria uma boa escolha. É preciso que seja alguém com estatura e luz própria, mas que não ofereça perigo.

Seria tentador, à luz da experiência recente, que a escolha recaísse sobre uma figura apagada e inofensiva, mas não pode ficar a um passo da presidência uma figura inexpressiva ou sem experiência.

É preciso ter em conta, ainda, embora essa não seja a tradição brasileira, que o vice poderá vir a ser candidato à sucessão do Lula em 2026 ou 2030. Portanto, não convém que Lula crie uma cobra, nomeando como vice um potencial inimigo, sob o pretexto de "união nacional" ou "governabilidade".

Portanto, o vice precisa ajudar a vencer a eleição e precisa ajudar a governar. De nada adianta ajudar a vencer e depois atrapalhar ou mesmo ameaçar o exercício do mandato presidencial.
Os critérios acima indicados permitem excluir, sem qualquer dúvida ou dificuldade, muitos dos nomes que já foram ventilados, sejam oriundos do mundo político ou mesmo do mundo empresarial. Seria deselegante citar nomes. Mas tampouco é necessário.

Lula estaria mais seguro buscando um nome "técnico" com experiência política.

Parece-me recomendável, nesse contexto, quase como única opção, a figura de Carlos Ayres Britto. Respeitado, ponderado e digno, o ex-ministro do STF ajudaria a esvaziar (ou impedir o renascimento) do discurso lava-jatista contra Lula. Ayres Brito, em particular, tornaria a candidatura de Moro natimorta, facilitando a possibilidade de que Lula ganhe no primeiro turno. Trata-de um "homem de estado", com vasta experiência jurídica, pronto a colaborar na obra de resgate do estado de direito no Brasil. Dotado de peso próprio e de luz própria, não oferece perigo. Ao contrário, seria um fator de estabilidade. Ademais, seria uma escolha incontroversa, facilmente assimilável tanto pela esquerda quanto por outros setores. De tal forma se trata de uma escolha natural e lógica que uma vez o nome sugerido imediatamente ficará claro que a vaga de vice já não está sobre a mesa. Desse modo, a costura de alianças ficará muito facilitada.  

Lula escolheu José de Alencar em 2002 porque quis mostrar que era possível uma aliança entre capital e trabalho. O debate no Brasil atual é outro. Eleito para um terceiro mandato, a missão histórica de Lula será resgatar o estado de direito de modo a permitir a retomada de um projeto civilizatório no Brasil. Trata-se de um trabalho de dimensões colossais, para o qual será necessário convocar o melhor do Brasil. Ayres Britto poderá contribuir para essa vasta retomada como poucos outros. Paralelamente, para setores determinados, outros nomes apresentam-se de forma natural. Nelson Jobim, por exemplo, poderá atuar no plano defesa. Celso Amorim, no plano externo. Marina Silva, quiçá, no resgate das instituições encarregadas de proteger o meio-ambiente. O ministério da cultura a ser recriado, poderá talvez ser chefiado por João Moreira Salles, outra figura de extraordinária competência, que, chamado a contribuir, teria condições de prestar grandes serviços ao Brasil.

No plano da economia, há muitos nomes. E não se pode ignorar que caberá ao PT, novamente, organizar a casa antes que altos voos sejam novamente possíveis.

É notável que nomes importantes da direita no plano do debate econômico já tenham sinalizado que vêem Lula como uma opção segura e razoável. Essas vozes devem ser incorporadas ao debate. Armínio Fraga, por exemplo, talvez o último grande nome do antigo PSDB, além fazer permanente combate contra Bolsonaro, já fez diversas aberturas em direção a Lula, até o momento, ao que parece, não correspondidas. É um erro. Trata-de de figura séria e influente, que tem se dedicado, com genuína preocupação, ao estudo e à crítica da desigualdade social. Naturalmente, não faria sentido que o PT ganhasse a eleição para nomear como ministro da economia um quadro histórico do PSDB. Mas se trata de um nome importante a ser incorporado ao debate, em conjunto com os economistas historicamente ligados ao PT.

Já estamos praticamente em 2022. Já se antevê o fim do atual governo. É passado o momento de evasivas e indiretas. É urgente que o Brasil comece a se reorganizar. Cabe ao PT a função de articular as forças civilizatórias ainda vivas no país, a fim de dar início, imediatamente, ao trabalho de planejamento para o futuro que se avizinha.

Com 600 mil pessoas a menos, milhões jogados na miséria, instituições violadas e a economia em parafuso, vamos entrar em 2023 como um país saído de uma guerra.

A pueril superficialidade da terceira via olha para esse cenário de catástrofe como quem assiste a um filme e olha para a sucessão presidencial como quem sonha em participar de um show de calouros.

Apenas o PT, talvez por ter sido submetido às mais duras provas, não perdeu o contato com a realidade.

Cabe ao PT, portanto, não a partir de 2023, mas desde já, restaurar o senso de realidade, de urgência e de ridículo num país que foi submetido a uma brutal operação de embrutecimento, emburrecimento e mistificação ao longo da última década. Isso é mais do que apenas governar. Trata-se de desfazer um feitiço e trazer de volta à razão milhões de brasileiros idiotizados. Trata-se de colocar fim ao império do bizarro e resgatar no Brasil a alegria, a cordialidade, a caridade, a dignidade humana, o respeito à natureza, o auto-respeito diante de outras nações, o decoro no exercício do poder, a inteligência, a honestidade e a civilidade no debate político e a reverência -- na teoria e na prática, com palavras e ações -- à forma democrática e republicana de governo. 

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