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Michel Zaidan

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Onde foi parar o sonho americano?

O que estamos assistindo, hoje, com a iminente derrota eleitoral de um presidente genocida, racista e expansionista, é apenas mais um dos episódios da decadência desse imaginário político que, em outras eras, seduziu tantos imigrantes

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Quando era estudante de pós-graduação na UnB, nos anos 70, fomos convidados a assistir, na casa Thomas Jefferson, em Brasília, uma exposição sobre a “atualidade da revolução americana”. Naturalmente, o expositor se referia à revolução federalista que deu origem ao contrato das 13 ex-colônias inglesas, que forma hoje o país norte-americano. Depois da revolução inglesa – de 1671 – a revolução americana é apresentada como modelo de um movimento liberal pela democracia política e as liberdades civis. O francês Alex de Tocqueville ajudou muito a difundir essa imagem de um país liberal, do self-made man, do empreendedorismo e o espírito de comunidade.

 Essa imagem idílica do país do norte estilhaçou-se em mil pedaços com os eventos de 11 de setembro que destruíram as Torres Gêmeas, em Nova Iorque. Depois da guerra da secessão, o ataque japonês a Pearl Harbor, e a derrota militar no Vietnam, esses episódios marcaram fortemente a fragilidade interna dos EUA. Mas também contribuíram para um ataque generalizado às liberdades civis dos cidadãos americanos pelo governo. Externamente, venceu a agenda de “guerra ao terror”, a que tudo e todos tinham de se render. Foi a época em que a alta comissária dos Direitos Humanos, da ONU, disse que a doutrina internacional dos Direitos Humanos seria aplicada e servida como “um prato a La carte”, ao gosto e diante das conveniências de que cada governo.

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 Da imagem de uma vigorosa democracia de massas, ou terra das oportunidades para os imigrantes, os EE.UUs tornaram-se um inferno para os trabalhadores estrangeiros, até a construção do muro que separa o país do seu vizinho mexicano. Aliás, Donald Trump ganhou a eleição apelando para a xenofobia dos desempregados americanos. Apesar das melhores mentes filosóficas e jurídicas do país apontarem para a excelência de seu modelo constitucional (Rawis, Hart, Dworki), o fato é que a democracia norte-americana nunca passou de uma democracia “procedimental”, técnica, dos arranjos e acordos para resolver pendências entre iguais e desiguais. Essa é a essência do liberalismo norte-americano e a sua cegueira para as diferenças. Nunca a tese de outro autor liberal, como Habermas, do patriotismo da Constituição vingou em solo americano. A democracia ianque é branca, machocêntrica e crista reformada, como dizem as feministas de lá.

O que estamos assistindo, hoje, com a iminente derrota eleitoral de um presidente genocida, racista e expansionista, é apenas mais um dos episódios da decadência desse imaginário político que, em outras eras, seduziu tantos imigrantes. Um regime político de dois partidos, com uma legislação branda em relação a intervenção do Poder Econômico de trustes e cartéis, um regime eleitoral indireto, com uma votação através de cédulas de papel e voto postal, sujeita a inúmeras fraudes, como ocorreu com a eleição de Bush e Al Gore, que teve maioria mas não levou. E agora, para piorar, com a ameaça de judicialização do resultado das eleições, já que Donald Trump não aceito a sua derrota, pois teme os processos judiciais na Justiça comum contra ele: está aí a pá de cal no mito da exuberância, atualidade e vigor desse modelo político. Talvez seja o caso de aproximar esse modelo das repúblicas-bananas da América do Sul, com seus “pronunciamentos militares”, o questionamento das regras do jogo e as ditaduras. Pobre democracia. Pobres cidadãos e cidadãs.

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